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quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

39 ano depois é preciso honrar a memória de Sá Carneiro e Amaro da Costa




Faz hoje 39 anos que o Primeiro-Ministro e o Ministro da Defesa de Portugal foram mortos num brutal atentado. Poucos minutos depois de descolarem a caminho de um comício no Porto o avião onde seguiram explodiu, matando todos os passageiros.

Camarate permanece como um dos maiores escândalos da nossa democracia e seguramente a maior vergonha da nossa justiça. Tudo foi feito para abafar o que era evidente: foi um atentado. Testemunhas mortas, provas roubadas, relatórios abafados, a verdade é que o poder político e o poder judicial não quiseram investigar o assassínio de um Primeiro-Ministro e de um Ministro. Isto em democracia.

Passados quase quarenta anos continuamos sem saber quem foram os assassinos, quem foram os seus mandantes, quem era o alvo ou qual o motivo deste crime. O pouco que realmente sabemos devemo-lo à coragem de alguns jornalistas, de alguns amigos e familiares das vítimas e dos poucos políticos que insistiram em sucessivas Comissões de Inquérito no Parlamento. Sobre o tema vale a pena ler o livro de Inês Serra Lopes, que corajosamente, numa altura em que ainda era perigoso investigar o assunto, publicou, onde demonstra com clareza que foi realmente um atentado.

O silêncio sobre Camarate é uma das chagas abertas da nossa democracia. E é uma das provas claras da sua fragilidade. Como ainda há pouco tempo relembrava Pedro Santana Lopes, num belíssimo artigo sobre o 25 de Novembro, a democracia em Portugal nasceu e manteve-se sobre tutela militar até à revisão Constitucional de 1982. Portugal não foi realmente uma democracia até essa data. Até 1982 o poder dependia, em última instância, dos militares de Abril, que condicionaram à sua vontade o legítimo exercício do poder democrático.

Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa eram duas das figuras mais importantes na luta por uma verdadeira democracia ocidental em Portugal, fora da tutela militar. Não sabemos, e dificilmente viremos a saber, se foi por isso que pagaram com a sua vida. Aquilo que sabemos, é que foi o regime semi-democrático saído do 25 de Novembro que impediu que lhes fosse feita justiça.

O mesmo regime que nada fez contra o Partido Comunista a 25 de Novembro depois de falhado o golpe de Estado. O mesmo regime que nunca teve coragem para reverter as nacionalizações criminosas, os saneamentos e a reforma agrária. O mesmo regime que “descolonizou” entregando à União Soviética o Ultramar. O mesmo regime que anos mais tarde havia de deixar impunes os terroristas da FP-25.

Aqueles que hoje se dizem herdeiros de Sá Carneiro e Amaro da Costa têm o dever de combater este regime. Não apenas discutir qual o seu lugar à mesa ou que migalhas do orçamento lhes toca, mas realmente combater este regime. Sá Carneiro e Amaro da Costa lutaram por uma verdadeira democracia, não por este regime dominado pelos partidos, pelas amizades maçónicas e pelos interesses da plutocracia.

Que Camarate não seja apenas uma efeméride que relembramos uma vez ao ano, mas seja um símbolo da coragem para lutar por um Portugal diferente.

1 comentário:

  1. Este crime, assassinato de políticos honestos, é mais uma confirmação do elevado grau de corrupção que domina a política em Portugal e de que NÃO existe democracia, mas somente uma cleptocrata farsa! Resta saber até quando!

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