A
Federação Portuguesa pela Vida promoveu em 2016 a petição “Toda a Vida tem
Dignidade”. A petição pedia ao parlamento que, em respeito pela inviolabilidade
da vida humana consagrada na Constituição, rejeitasse qualquer tentativa de
legalizar o homicídio a pedido da vítima.
A
petição recolheu mais de 14 mil assinaturas, quase o dobro da petição em
sentido contrário que originou o processo legislativo que irá cumprir-se a 29
de Maio deste ano. Entre os seus primeiros signatários encontram-se professores
universitários, juristas, médicos, enfermeiros, especialistas de cuidados
paliativos. Contudo, talvez por ser realmente uma iniciativa cívica e ter como
rosto especialistas na área e não artistas e comentadores de televisão, a
petição Toda a Vida tem Dignidade tem sido constantemente esquecida e ignorada.
Não
falo apenas no silêncio dos órgãos de comunicação social, mas do estranho
silêncio da Assembleia da República, que vai debater quatro projectos de lei
sem primeiro ter debatido uma petição que há quase dois anos está a ser
discutida num grupo de trabalho do parlamento.
Bem
sei que os senhores deputados têm muito que fazer. Mas não é estranho que o
mesmo parlamento que tenciona votar na generalidade, discutir na especialidade
e fazer a votação final de quatro projectos de lei sobre um assunto tão
complexo como a eutanásia cuja legalização não constava de nenhum programa
eleitoral em três-quatro meses, não consiga, em quase dois anos analisar e
debater em plenário uma simples petição!?
Pergunto-me
se a dificuldade e o silêncio sobre a petição Toda a Vida tem Dignidade se
devem à sua complexidade ou se simplesmente à posição que defende? Porque
aparentemente foi fácil avaliar a petição favorável à eutanásia (claro que
ajuda a petição ter sido feito por vários deputados, que depois pertenceram ao
grupo de trabalho que a avaliou, que um deles tenha feito o relatório da
petição que ele próprio promoveu e que por fim tenham sido os
deputados/signatários a apresentar os projectos de lei sobre a eutanásia), é
fácil apresentar projectos de lei a pedir a legalização da eutanásia, só é
difícil respeitar o direito de mais de
14 mil cidadãos a ver a sua petição discutida no plenário da Assembleia da
República!
O
silêncio sobre a petição Toda a Vida tem Dignidade, tal como o silêncio sobre a
Caminhada pela Vida que este ano levou mais de 8 mil pessoas em Lisboa, Aveiro
e Porto à rua para se manifestar contra a eutanásia, tal como o silêncio sobre
o colóquio Eutanásia, Cultura do Cuidado que trouxe a Portugal o professor Theo
Boer, especialista holandês sobre a eutanásia, assim como diversos académicos
portugueses, tem desvirtuado o debate sobre a eutanásia. Não há um debate sério
quando um dos lados é constantemente ignorado.
Que
isso seja feito pela comunicação social já é grave e deve ser assunto de
profundo debate. Mas que esse manto de silêncio e menosprezo seja promovido
pela Assembleia da República é uma profunda violação das regras da democracia.
Espero
por isso que até dia 29 de Maio os senhores deputados, que tão apressadamente
marcaram o debate na esperança de ver o assunto arrumado antes do próximo ciclo
eleitoral (não vá acontecer o povo querer explicações sobre o assunto),
arranjem também um tempinho para demonstrar o mínimo respeito pelos 14 mil
cidadãos que lhes dirigiram uma petição.
O
populismo, tão falado hoje, avança sobretudo quando os eleitos desrespeitam os
eleitores. Esperemos que na eutanásia os senhores deputados não caiam nesse
erro.
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