Anabela tinha atingido a maioridade há pouco tempo
quando ficou à espera de bebé. Vivia numa família sem problemas de dinheiro,
numa cidade nos arredores de Lisboa. Os seus pais não ficaram nada contentes e
pressionaram para que ela fizesse um aborto, convencidos de que aquela criança
haveria de lhe estragar a vida. Dirigiram-se ao Centro de Saúde e pediram à
médica de família que convencesse Anabela a abortar. A médica recusou-se e
apoiou a decisão de Anabela em ter o bebé. Os pais expulsaram-na de casa e
Anabela foi para o estrangeiro onde começou uma carreira de sucesso. Hoje os
pais dizem que o neto foi a melhor coisa que lhes aconteceu.
Benedita também ficou à espera de bebé bastante
cedo. Vivia numa pequena aldeia a menos de uma hora de Lisboa e vinha de uma
família com poucas posses. O medo do escândalo e a pobreza levaram-na até a uma
clinica em Lisboa para abortar. Encontrou um grupo de voluntários que lhe
ofereçam ajuda para ela ter o bebé. Contactaram uma pessoa que vivia perto da
sua aldeia, que lhe ofereceu todo o apoio para que ela pudesse continuar a
gravidez. Hoje o seu filho está no primeiro ano e é um belíssimo aluno.
Clara já era uma mulher feita quando engravidou.
Vivia numa aldeia no Alentejo e trabalhava no campo. Quando ficou à espera de
bebé entrou em pânico e decidiu fazer um aborto. Falando com um casal amigo
estes ofereceram-lhe todo o apoio que ela precisasse para o bebé. Hoje a sua filha
está na escola e no ano passado o casal que a ajudou foi padrinho de baptismo
da criança.
Todas estas histórias são verdadeiras (tirando os
nomes) e foram-me contadas por pessoas que nelas participaram. Todas elas têm
três pontos em comum:
- As três mulheres queriam ter os seus filhos, mas
estavam a ser empurradas para o aborto por diversas circunstâncias (pressão
familiar, social, falta de dinheiro).
- Todas elas foram ajudadas por pessoas que não
tinham nenhuma obrigação de as ajudar, mas que se interessaram por elas.
- Nenhuma recebeu qualquer informação do Estado
sobre os apoios disponíveis para terem os seus filhos.
Estes três casos são apenas exemplos das centenas
de mulheres que vão abortar e não o fazem porque têm a sorte de encontrar ajuda.
E têm um final diferente das dezenas de milhares de histórias de mulheres que
abortam porque não tiveram a sorte da Anabela, da Benedita e da Clara, de
encontrarem pessoas que se interessem por elas.
A Lei de Apoio à Maternidade e Paternidade, que a
esquerda tão rapidamente revogou, cuja revogação foi vetada pelo Presidente e
que a esquerda se prepara para novamente votar, iria permitir que não fosse
preciso sorte para que uma grávida em dificuldade encontrasse ajuda. Passaria a
ser obrigatório por lei que o Estado providenciasse informação e apoio a esta
mulheres.
Mas para a esquerda (e para um ou dois deputados
de direita) mulheres como a Anabela, a Benedita e a Clara não lhes interessa.
Só lhes interessa a bandeira do aborto livre.
A atitude da esquerda durante todo o debate destes
diplomas lembra-me uma outra história, esta inventada por Guareschi no seu Pequeno Mundo. A história passa-se pouco
depois da IIª Guerra Mundial e há fome em Itália. Don Camilo distribui ajuda
alimentar oferecida pelos americanos. Os comunistas estão proibidos de aceitar.
Há um que, diante do filho cheio de fome, desobedece. É apanhado por um
comissário do partido, que lhe bate e deita a comida fora em frente ao filho.
Discutindo o caso com Peppone, líder comunista local, este diz-lhe:
- Deram-te uma ordem e as ordens no partido
obedecem-se sem discutir.
Ele responde:
- A fome dos filhos manda mais que o partido.
Dia 10 de Fevereiro ficaremos a saber quem manda
mais nos deputados: se o partido, se o drama das mulheres, que ao contrário da
Anabela, da Benedita e da Clara, não encontram quem as ajude.
José Maria Seabra Duque
Jurista
Coordenador-Geral da Caminhada Pela Vida.
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