1. A islamização da Europa é, sem dúvida, uma ameaça. Hoje, vários países da Europa sentem já os perigos da islamização: bairros inteiros onde a autoridade do Estado não entra, onde reina a Sharia, ou seja, onde os direitos das mulheres não existem, nem as mais básicas liberdades.
É evidente que o Islão tem variadíssimas correntes, algumas
das quais vivem em paz com a sociedade ocidental. Mas não é menos verdade de
que há uma grande corrente do Islão que tem uma visão da sociedade, onde a lei
civil está submetida à lei religiosa. E também não são poucos os que consideram
a civilização ocidental como um inimigo, e que defendem o uso da violência para
submeter os infiéis.
A Europa tem muita culpa neste crescendo da islamização. Não
apenas pela evidentemente desastrosa política de portas abertas na imigração,
mas também porque durante décadas, no seu desejo suicida de se livrar do
cristianismo, escolheu o islamismo como aliado. Pensemos em coisas tão simples
como a necessidade de assinalar publicamente qualquer festejo islâmico,
enquanto se ignoram as festividades cristãs.
Em Portugal não temos o mesmo problema que o resto da
Europa. Durante décadas a nossa comunidade islâmica era constituída
maioritariamente por moçambicanos e guineenses. Ao contrário do que acontece,
por exemplo, em França, por cá a nossa comunidade esteve sempre cultural e
socialmente integrada.
Nos últimos anos, devido à política de portas abertas da
imigração, esta realidade começou a mudar. Entraram em Portugal milhares de
imigrantes muçulmanos de países que não têm qualquer relação connosco, e com
uma visão muito mais extremista do Islão, que nada tem a ver com a comunidade
islâmica que até então havia em Portugal.
É verdade que ainda não vivemos os mesmos problemas que vemos no resto da Europa, mas seria loucura ignorar os riscos que esta nova vaga de imigração coloca. Seria seguir o caminho da Alemanha, de França, da Bélgica, de Espanha e de vários outros países europeus.
2. Se é verdade que a islamização é um risco para a Europa,
não é o único, nem sequer o mais grave. Porque a islamização não é a causa da
decadência da nossa civilização, mas apenas uma das suas consequências.
O suicídio da Europa é fruto da negação do cristianismo, que
é a sua origem. A Europa não é, geograficamente falando, um continente, mas
apenas uma continuação da Ásia. O que separa a Europa da Ásia não são os Urais,
nem o Bósforo, mas o cristianismo.
Foi o cristianismo que criou a cultura que uniu a Europa. O
personalismo cristão está na origem dos Direitos Humanos, a Fé num Deus
razoável está na origem da revolução científica.
Desde a Revolução Francesa, a Europa vive em guerra consigo
mesma, procurando apagar qualquer traço da presença cristã. Este impulso já
teve várias correntes, algumas vezes conflitantes entre si: liberalismo,
marxismo, republicanismo laicista, nazismo, etc. Hoje revela-se, sobretudo,
naquilo a que chamamos o wokismo.
O maior perigo que hoje enfrentamos na Europa é o ataque à
liberdade que esta cultura procura impor. Esta mentalidade laicista, na sua
actual versão, procura declarar que a sua ideologia é a Verdade, e que por isso
qualquer tentativa de a negar é uma heresia.
Assistimos por toda a Europa a ataques constantes à Liberdade da Igreja, à liberdade de religião, de pensamento, de educação. Hoje, em boa parte da Europa, afirmar que um homem vestido de mulher é um homem, ou que a vida começa na concepção, ou até mesmo que nem todas as culturas são igualmente válidas, é visto como extremista, e, portanto, tendencialmente ilegal.
3. Quem criou o problema, não pode ser a solução. Por esse
motivo é que, mesmo conhecendo os perigos do islamismo, recuso a utilização dos
métodos do laicismo para enfrentar o problema.
A solução para a islamização da Europa não estará
seguramente em dar ao Estado poder para declarar o que cada um pode vestir.
Porque o Estado que declara que o uso da burca é uma submissão degradante da
mulher à religião, é o mesmo que afirma que tem poder para decidir o que é um
Homem e o que é uma Mulher.
Nós temos pouca memória, mas convinha lembrar que os mesmos
ataques que foram ouvidos na Assembleia da República por causa da burca, são os
que foram usados pelos políticos liberais para perseguir as congregações
religiosas no século XIX.
Dirão que não há comparação entre o uso do hábito religioso
e a burca, e eu concordo em absoluto. O problema é que o mesmo poder com que
agora tantos cristãos se alinham para combater o extremismo islâmico, não
concorda. E eu não estou disposto a entregar a Liberdade da Igreja ao bom senso
desse poder. Seria saltar da frigideira para o fogo.
Significa isto que não devemos fazer nada quanto à ameaça do
extremismo islâmico? Claro que não, há muitas coisas que podemos e devemos
fazer. Restringir a imigração, fiscalizar mesquitas e madraças suspeitas de
incentivar ao extremismo islâmico, expulsão dos estrangeiros que defendam o uso
da violência contra os infiéis, proibir o financiamento de países conhecidos
por apoiar o extremismo e o terrorismo islâmico, entre várias outras medidas.
Mas aquilo que não devemos, nem podemos fazer, é combater o extremismo islâmico usando a mesma mentalidade daqueles que hoje, por toda a Europa e no Ocidente em geral, procuram impor uma ditadura do pensamento único. Não estou disposto a sacrificar a minha liberdade de viver a Fé para combater este fenómeno.
4. Então qual é a solução? Como afirmei, na raiz do problema
está a descristianização da Europa, pelo que a resposta é bastante evidente. O
extremismo islâmico na Europa cresce no vazio cultural e espiritual em que
vivemos.
O drama maior é que a Europa não tem nada a propor hoje que
seja mais atraente que o fanatismo religioso. O que sobra hoje da cultura
europeia? O consumismo, o hedonismo, o egoísmo e meia dúzia de frases feitas.
Não é só o Islão que está mais extremista, é também a política. Os jovens
procuram hoje desesperadamente algo que dê sentido à vida, para além do vazio
da cultura moderna.
E a única resposta, a única resposta verdadeiramente Justa,
verdadeiramente Bela, é Cristo.
Nos últimos dias, tenho visto um pouco por todo o lado a
lista de países europeus que proibiram o uso da burca. E não posso deixar de me
perguntar: e funcionou? Em algum desses países se travou a ascensão do
islamismo radical? A resposta é bastante evidente: não.
Por isso, opor-me a leis tontas não significa não considerar
a islamização da Europa uma ameaça. Significa simplesmente que não acredito que
leis injustas e ineficazes resolvam o problema. Recuso-me a fazer o papel de
idiota útil, que enche os pulmões contra o perigo islâmico, contra a cultura
woke, e que depois abre caminho para outro qualquer tipo de opressão, que
deseja, cheia de boa vontade, impor a sua visão do mundo a todos.
A única solução para a islamização da Europa, assim como
para a cultura woke, é a recristianização. Isso não se faz através de projectos
políticos e de poder, que no fundo acabam sempre vítimas da mesma mentalidade
ideológica em que vivemos desde a queda da Bastilha.
O ponto fundamental para a recristianização da Europa é
testemunhar Cristo vivo. Fazê-lo na sua vida pessoal, na sua vida social, na
sua vida política. Não como projecto político, mas como desejo missionário. Foi
assim há 1600 anos, quando Roma caiu, e um pequeno punhado de monges
reconstruiu a Europa. Só poderá ser assim hoje, quando o novo império rui
diante dos nossos olhos.
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