A história conta-se rapidamente. No fim dos anos 90, um dos bispos auxiliares do Patriarcado de Lisboa fez uma visita pastoral à paróquia de Santos-o-Velho. Durante a visita teve um encontro com os paroquianos onde perguntou qualquer coisa sobre o haver realidades muito distintas na paróquia e se isso causava algum problema. Respondeu um homem bom e caridoso da paróquia, mas conhecido pela falta de simpatia: “isso não é um problema, aqui o prior educa-nos na Fé”.
Lembro-me muitas vezes desta história, sobretudo quando regressam ao debate público as posições da Igreja sobre a sexualidade.
Eu, como centenas (talvez milhares) tive a graça de ter sido educado na Fé por aquele prior. Ou seja, fui educado no amor a Cristo e à Sua Igreja. E isto passa também, como é evidente, pela visão cristã do corpo, do amor e da sexualidade. Mas nunca me dei conta de que a moral sexual fosse central, ou sequer especialmente importante naquilo que pregava. O essencial foi sempre o encontro com a presença de Cristo, aqui e agora. O resto veio por acréscimo.
Porque a moral da Igreja não é apenas conjunto de normas para regular a vida dos católicos. A moral da Igreja brota do próprio Senhor e é a forma mais adequada, mais humana, de viver esta vida e conquistar a próxima.
Mas é impossível compreender a moral da Igreja sem ser à luz da Fé. Só o encontro com Cristo é capaz de mudar o coração do Homem. A beleza daquilo que a Igreja propõe, incluindo a sexualidade, só é compreensível nesta relação com Jesus.
Vivo por isso muito agradecido por ter um mestre que me educa na Fé. Para mim nunca foi difícil aceitar a moral sexual da Igreja. Pelo contrário, sempre achei a visão do corpo como morada do espírito, o acto sexual como oferta de si mesmo, a imagem do outro como dom e não como objecto, das coisas mais belas que conheço.
Não quer dizer que seja fácil, nem a Igreja diz que é. Como diz São Paulo aos Romanos: Nem me compreendo, pois não faço aquilo que queria fazer e faço o mal que detesto.
Neste tempo de hipersexualização, onde os corpos são exibidos e vendidos como objectos, neste tempo de egoísmo, da ditadura das sensações, propor e viver a pureza e a virgindade não é fácil, mas não deixa de ser verdade.
Por isso a Fé é essencial. Porque a relação com Cristo é a única coisa de realmente interessante que a Igreja tem para oferecer. É Ele que ilumina toda a realidade, é Ele que nos permite irromper da escravidão do pecado e viver de forma humana. Sobretudo, só com Ele nos podemos levantar após cada queda.
Concordo com os que dizem que se fala demasiado da moral sexual da Igreja. Sobretudo, aqueles que a querem mudar e que reduzem todo o drama humano, sobretudo o dos jovens, a saber com quem se pode ir para cama. É uma visão redutora da humanidade. Aquilo que faz falta à Igreja não é mudar o que é eterno mas dar testemunho da presença viva de Cristo. D’Aquele que estava morto, mas ressuscitou. Tudo o resto vem por acréscimo.
Resumindo, está tudo naquela resposta do homem maldisposto: aqui o prior educa-nos na Fé!
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