Quer
da Holanda quer da Bélgica chegam-nos notícias de que para os doentes de Covid-19
mais velhos as autoridades de saúde recomendam apenas cuidados paliativos. O
mesmo se recomenda para certos casos de doença mental ou grupos de risco do
vírus. Não se trata de indicações sobre o que fazer quando só há recursos para
uma pessoa e há dois doentes. Não são critérios clínicos, são directrizes
políticas que dizem que não vale a pena gastar recursos a salvar idosos e
doentes.
Não
é coincidência que estes sejam os dois países do mundo que primeiro legalizaram
a eutanásia. Desde que a discussão começou em Portugal que tenho dito que, para
além das questões técnicas, políticas, de saúde, há uma questão de fundo neste
debate. A legalização da eutanásia não é apenas uma mudança legislativa, é uma
mudança de consciência e de cultura.
A
nossa civilização foi construída sobre a ideia que toda as pessoas têm igual
dignidade. Que a Vida Humana é sempre digna, independentemente da sua circunstância.
Esta ideia, que vêm do personalismo cristão, está vertido na Constituição portuguesa
no artigo 24º que diz “A Vida Humana é inviolável”.
A
partir do momento em que há circunstâncias em que o Estado permite matar
alguém, o Estado afirma que há circunstâncias em que a Vida Humana já não é
digna. Se a Vida é violável em determinadas circunstâncias, isso quer dizer que
não é inviolável.
Legalizar
a morte a pedido é por isso substituir o principio de que a Vida é sempre
digna, pela ideia de que a dignidade da Vida Humana está ao dispor do Estado, é
ditada pelo Estado. De um bem totalmente indisponível a Vida Humana passa a ser
um bem à disposição do poder.
Por
isso é sem espanto que vejo que os dois primeiros países que legalizaram a eutanásia
não tenham qualquer problema em afirmar como política que não vale a pena
tentar salvar os idosos e os mais doentes. É a consequência lógica de tornar
legal a morte a pedido. Se um idoso ou um doente que pede para morrer pode ser
morto pelo Estado, se dizemos que a sua Vida já não merece protecção legal, é
apenas lógico que numa crise, onde os recursos são escassos, o Estado assuma
logo que não vale a pena tentar salvar Vidas que legalmente têm menos dignidade, menos valor do que as outras.
Não
duvido das boas intenções daqueles que defendem a legalização da morte a pedido.
Nem tenho qualquer dúvida que muitos dos que hoje em Portugal defendem tais leis
fiquem igualmente indignados com a decisão da Holanda e da Bélgica durante esta
crise. Mas é importante que se perceba que a lei molda mentalidades. E que,
quando legislámos, não podemos pensar apenas no imediato, mas no longo prazo. A
longo prazo é evidente que legalizar a eutanásia desprotege a Vida dos mais frágeis.
Mesmo que o actual legislador não tenha essa intenção. E se não acreditam, basta
olhar para a Bélgica e a Holanda, dois países fundadores do União Europeia,
dois países democráticos, dois países onde a Vida dos velhos e dos idosos não
merece o esforço de ser salva.
i
Em Portugal ainda vamos a tempo de evitar seguir este camimho. Espero que esta crise, onde com tanto esforço procuramos proteger a vida dos nossos mais velhos e mais frágeis, traga algum bom senso aos nossos deputados. Sempre era algo de bom que saia desta crise.
Em Portugal ainda vamos a tempo de evitar seguir este camimho. Espero que esta crise, onde com tanto esforço procuramos proteger a vida dos nossos mais velhos e mais frágeis, traga algum bom senso aos nossos deputados. Sempre era algo de bom que saia desta crise.
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