Todos as mensagens anteriores a 7 de Janeiro de 2015 foram originalmente publicadas em www.samuraisdecristo.blogspot.com

segunda-feira, 22 de abril de 2024

CDS: Um pouco de humildade ficava bem

 



Aconteceu este fim-de-semana o congresso do CDS. Eu, por motivos familiares, não consegui ir. Mas fui acompanhando os acontecimentos. E confesso alguma preocupação com a soberba (que alias, preocupação que tenho desde 10 de março).

A verdade é que o CDS entre 2015 e 2019 perdeu 13 deputados. Também devemos lembrar que nesse mesmo ano, não conseguiu recuperar o seu segundo eurodeputado, tendo como cabeça de lista o actual presidente.

Entre 2019 e 2022 o CDS viveu uma guerra civil, onde muitos dos actuais dirigentes tiveram participação activa. Alguns dos que hoje apoiam entusiasticamente o CDS chegaram a apelar ao voto noutros partidos em 2022.  Isto num partido falido. O resultado, com muita responsabilidade da direcção então no poder, mas também daqueles que lutaram até ao fim para garantir o seu falhanço, foi que não conseguimos eleger qualquer deputado.

Em 2024 o resultado das eleições deixou claro que o CDS não cresceu eleitoralmente (as sondagens já o indicavam) e que a eleição de dois deputados se deveu a coligação com o PSD. Coligação que Francisco Rodrigues dos Santos tentou em 2022 e que foi abertamente criticada por muitos dos que hoje apoiam a actual direcção e pelo próprio Nuno Melo.

Por isso, fingir que o que aconteceu nos últimos anos do CDS foi um desastre de uma única direcção e que está ultrapassado devido ao génio do actual presidente, não só é mentira, como é uma estratégia perigosa. Francisco Rodrigues dos Santos não foi o causador dos problemas do CDS, mas também não os conseguiu inverter. E Nuno Melo, também não, teve foi mais sorte e um partido mais pacificado.

O CDS tem agora, com o regresso ao parlamento e a presença no Governo uma segunda hipótese, que não fez por merecer, de renascer. Convém aproveitá-la com humildade. Temos dois bons deputados, o que me alegra. Mas é preciso fazer realmente prova de vida e não embandeirar em arco. Sobretudo, é preciso que o CDS deixe de ser uma coutada pessoal, dos de sempre, que se abra realmente e sobretudo, que volte a ocupar o seu lugar como o partido da Direita Social, com propostas e medidas concretas de apoio às famílias, no reforço da sociedade civil, no apoio aos mais frágeis, na defesa da liberdade, sobretudo na liberdade de educação.

A soberba é sempre um pecado, mas a soberba sem ter razões para isso é também um dos piores erros que se pode fazer em política.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Parem de importar guerras culturais!

 


Em 1997 o Partido Comunista propôs o aborto livre até às 12 semanas e foi chumbado. Ainda nesse ano, o Partido Socialista, pela mão do então presidente da JS, Sérgio Sousa Pinto, propôs a legalização do aborto até às 10 semanas. Para evitar a sua aprovação o então Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do PS, António Guterres, acordou com o presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro referendo da democracia. O referendo haveria de se realizar em Julho de 1998 e o resultado foi a vitória do “Não”.

Nos anos seguintes houve várias tentativas de legalizar o aborto livre, até quem em 2006, com o regresso do PS ao poder, foi convocado novo referendo, que se realizou em Fevereiro de 2007 e onde o “Sim” ganhou.

Desde então, foi legalizada a procriação artificial, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi proposta e chumbada a co-adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada a adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada, chumbada pelo Tribunal Constitucional e novamente aprovada as barrigas de aluguer, foi aprovada a Lei da Identidade de Género, foi votada seis vezes a legalização da eutanásia (chumbada no Parlamento, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República e finalmente aprovada e promulgada), foi proposto o aumento dos prazos do aborto.. Nestes anos foi introduzida a educação sexual obrigatória nas escolas, criada a disciplina de Educação para a Cidadania posteriormente tornada obrigatória, foram criados os Referenciais para a disciplina, que incluem a defesa do aborto e da ideologia de género.

Ou seja, nos último 17 anos quase todos os anos foram propostas leis ditas fraturantes, quase sempre pelos mesmo deputados e defendidas pelos mesmos protagonistas. Não houve legislatura (e quase não houve ano) em que estes temas não tenham sido colocados na agenda política por essas pessoas.

Por isso é especialmente irritante ouvir comentadores, em geral idiotas úteis de direita, a explicar que são os “conservadores” que estão a importar “guerras culturais”. Eu passei boa parte da minha adolescência e vida adulta a lutar sobre estes temas e, como dizem os miúdos, nunca fui eu que comecei. Eu não tenho qualquer interesse nesta agenda, foi a esquerda progressista (agora adoptada pela IL) que decidiu importar estas causas para Portugal, nós limitamo-nos a opor-nos.

Por isso, se os senhores comentadores acham que estes temas não têm interesse, se consideram que desvia o foco dos assuntos fundamentais (e eu concordo) têm uma boa solução, a próxima vez que encontrarem a Isabel Moreira no Lux, ou se cruzarem com a Teresa Violante num estúdio, peçam-lhes que parem de importar guerras culturais. Nós agradecemos. Assim podemos começar a tratar dos assuntos realmente importantes como a pobreza, a saúde a educação e tudo aquilo que o PS prefere não tratar para se dedicar antes à causa woke.

E já agora aproveito para falar do progresso de que falam tanto, para defender a morte de crianças como direito fundamental. Eu percebo o glamour de estar a par das modas do estrangeiro, porque se no Eça a cultura vinha de Paris em caixotes, hoje vem dos Estados Unidos (mas continua a ficar-nos curta nas mangas). Mas eu tenho um enorme problema com este progresso: cheira a mofo! Este progresso tem o cheiro dos fornos onde os cartagineses sacrificavam bebés aos deuses, lembra o extermínio dos fracos e incapazes de Esparta, um déjà vu aos eunucos da Pérsia antiga. Este progresso tem o cheiro putrefacto de um cadáver com milhares de anos, vestido com roupas modernas para ser admirado por aqueles que desejam tanto parecer modernos que não percebem que retrocederam dois mil anos. Pessoalmente, eu prefiro continuar com o humanismo cristão, aquele que garante a infinita dignidade de cada ser humano. Pode não ser progressista, mas tem a enorme vantagem de ser verdade.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Debater o aborto: quanto vale o embrião?



Nos últimos tempos voltou ao debate público a questão do aborto. É possível notar uma mudança profunda neste debate. Se em 2007 o centro do debate era o valor da vida intra-uterina, neste momento esse assunto é completamente ignorado, sendo o aborto apresentado como se fosse uma mera questão de saúde feminina. Isso nota-se aliás na linguagem, quando se fala em direitos sexuais e reprodutivos.


Ora, se é verdade que os direitos da mãe são uma parte importante na questão do aborto, a questão realmente de fundo é saber qual o valor da vida por nascer. Porque se a vida que está no ventre da mulher não tem valor, então a discussão do aborto é apenas absurda. O aborto seria um acto médico qualquer e não fazia qualquer sentido ter sequer legislação especial. Mas se a vida intra-uterina tem valor, então a discussão só pode ser a partir de que momento é que ganha esse valor: porque é que as 9 semanas pode ser eliminado e às 11 não? Qual o critério para decidir o momento em que o embrião passa a mercer protecção jurídica?

A biologia é muito simples: a partir do momento da fecundação há um ser vivo, com ADN próprio, que pertence ao género humano. Ou seja, a partir da fecundação há um novo Ser Humano. Isto é que o a ciência afirma. Aqueles que se opõem ao aborto afirmam que este facto, o simples facto de ser humano, é suficiente para que à aquela nova vida seja reconhecida toda a sua dignidade e deve por isso merecer toda a protecção legal.

Quem pelo contrário afirma até um certo prazo da gravidez o aborto deve ser legal afirma que para lhe ser reconhecido a dignidade não basta existir, tem que ter mais alguma característica. O seja, nega que o ser humano por si mesmo mereça protecção legal, mas que essa protecção depende do reconhecimento social do seu valor. Por ser um amontoado de células, por o coração não bater, por não ter sistema nervoso central, não é verdadeiramente humano como nós.

Podemos dar as voltas que quisermos, adocicar o debate, usar eufemismos e siglas, mas a verdade é simples: defender que o aborto é legal é defender que a dignidade do ser humano não é inata mas sim definida pelo poder. Está longe de ser a primeira vez na história que isto acontece e os resultados desta lógica são tragicamente conhecidos.

Eu percebo que há desafios gigantes ligado à gravidez. Desafios que afectam as mulheres. Mas esses desafios têm que ser enfrentados à luz do facto de que no útero de uma mulher grávida está uma vida humana. Ignorar este facto, desumanizar o embrião ou o feto, pode ajudar a sossegar a consciência, mas não resolve nenhuma injustiça. Pelo contrário agrava-a.

Para o mundo contemporâneo é mais fácil ignorar a questão da vida por nascer. É mais fácil dizer que a mulher tem na barriga uma coisa, que depois, num passo de magia, se transforma num bebé. Porque reconhecer que ali está um bebé significa enfrentar o horror dos milhões de vidas ceifadas anualmente pelo aborto. Reconhecer a dignidade infinita da vida por nascer significa dar-se conta da monstruosidade que a cultura do aborto introduziu no nosso tempo. E por isso é mais fácil esquecer o bebé, e reduzir o aborto a uma mera questão da intimidade da mulher.

Respeito o drama das mulheres que não desejam ter os seus filhos, das mulheres que procuram aborto ilegal, das mulheres que estão em situações de dificuldade e estão grávidas. E defendo uma sociedade que apoia e acolha essas mulheres, assim como todas as mulheres grávidas. Mas a solução para um drama, a solução para uma injustiça, não passa por ignorar que o aborto elimina uma vida. O drama do aborto é, antes de mais, o drama de uma vida que existe e que merece ser defendida. 

terça-feira, 9 de abril de 2024

Henrique, o gajo de Alfama


 

De há uns anos a esta parte que Henrique Raposo chamou a si a tarefa de ser um verdadeiro intérprete da tradição da Igreja, o garante da pureza evangélica e o guardião da fé. Por isso de vez em vez brinda-nos com um artigo onde denuncia uns quaisquer hereges que, ao contrário de si, sempre cheio de caridade, são responsáveis por uma quantidade de malefícios para o mundo e para a Igreja.

O problema é que se é verdade que Henrique Raposo escreve com toda a arrogância de um Doutor, os seus argumentos em geral estão ao nível do gajo de Alfama. Henrique Raposo tem certezas sobre todos os assuntos, sobretudo aqueles sobre os quais nunca estudou ou trabalhou. E exibe a sua ignorância nos jornais com a mesma arrogância de um bêbado na tasca do bairro.

Entre as pérolas com que já nos brindou, está um artigo onde explicava que um aborto em caso de violência era uma questão de legítima defesa (demonstrando que nem se deu ao trabalho de ler a definição de legítima defesa do Código Penal), um artigo onde se propunha a corrigir Santo Agostinho e repetidas proclamações de que um nacionalista não pode ser católico, deixando assim claro que nunca pousou os olhos na obras do Padre António Vieira ou na poesia de Peguy.

Raposo é em tudo igual ao gajo de Alfama: não estuda, não lê, mas tem opiniões sobre tudo, convencido da sua genialidade, incompreendido pelo mundo, mas tudo julgando com rigor a partir do seu pequeno mundo. Só lhe falta o lugar na mesa da tasca e a tacinha de tinto.

Nestes dias o gajo de Alfama alçado a cronista decidiu escrever um artigo onde, a propósito do livro Família e Identidade, insulta todos os que defendem a Vida e a Família. Não tenciono responder ao artigo, é um conjunto de insultos, com afirmações categóricas sem qualquer referência, e conclusões ideológicas, quando por exemplo explica que ao não falar do motherhood gap os autores do livro contribuíram para o crescimento da direita populista e machista (aparentemente ele explicar a Manuela Eanes ou a Isabel Galriça Neto sobre com o que as mulheres se devem preocupar não é machismo). Mas fico impressionado que um homem adulto não perceba a figura ridícula que faz quando insulta um conjunto de personalidades com obra académica, profissional, social e política extraordinária sem pelo menos se dar ao trabalho de estudar os temas ou ler o que eles escrevem. Não terá Henrique Raposo sentido do ridículo? Não percebe o quão absurdo é um homem cuja única obra conhecida é escrever artigos medíocres, explicar a Manuela Eanes que ela não se preocupa com a vida das crianças em concreto? Ou a Dom Manuel Clemente a doutrina da Igreja? Ou em acusar Guilherme de Oliveira Martins de contribuir para o crescimento da direita populista?

Os autores do livro não precisam de defesa, a sua obra fala por si. Mas Henrique Raposo precisa de um amigo daqueles que, vendo o gajo de Alfama completamente bêbado a fazer figura ridículas na tasca, o leva discretamente para casa.

P.S.: O gajo de Alfama não é uma referência aos moradores do bairro lisboeta, mas à famosa personagem do Ricardo Araújo Pereira. 

Todas as reações:
Pedro Guerreiro Cavaco, Filipe Palma Fialho e 14 outras pessoas

domingo, 24 de março de 2024

Crianças na Missa: não há nada a fazer

 



Um dos temas recorrentes para os pais católicos é as crianças na missa. Mais especificamente, como conseguir que as crianças se interessem pela missa, que no fundo expressa a preocupação de como conseguir que os nossos filhos se interessem pela Fé.

Conforme os meus filhos vão crescendo e me vão surpreendendo com a sua piedade, convenço-me que esta minha preocupação é uma pretensão. No fundo, eu acho que tenho alguma coisa a acrescentar à missa e será essa minha ideia que há de a tornar atrativa para os meus filhos.

A experiência mostra-me que não há nada que eu, ou outra pessoa já agora, possa acrescentar que torne a missa mais interessante para os miúdos. As músicas irão sempre ser menos divertidas que as do Pando, os teatros menos interessantes que os da escola e dá muito mais jeito desenhar em casa que no banco da Igreja.

Se há uma coisa que a experiência me ensinou é que a única coisa interessante na missa é Cristo. A única coisa que realmente atrai na missa, que de resto é a única coisa que interessa na Fé, é que Deus se fez homem, nasceu nas palhinhas, pregou, fez milagres, foi preso, torturado e humilhado, morreu na Cruz, ressuscitou e faz-se presente misteriosamente nesta companhia que é a Igreja e carnalmente na Eucaristia. E este facto, que é aquilo que a mim me atrai na Igreja, é o mesmo facto que atrai os meus filhos. E até os atrai mais, porque têm um coração mais puro do que o meu.

Por isso a única coisa que preciso de fazer é ajudar os meus filhos a estarem atentos na missa, ensinar-lhe as orações com que eu mesmo fui educado, falar-lhes das Escrituras. Sobretudo, preciso eu próprio de viver a sério a Fé. E assim, pela graça de Deus, eles vão crescendo em Fé e Piedade. Repetindo os gestos que nos vêm fazer, repetindo as orações que rezam connosco, vivendo a Fé que nós vivemos. E como em todas as relações de amor, também a relação entre eles e Jesus irá crescendo e amadurecendo, tal como nos aconteceu a nós.

terça-feira, 12 de março de 2024

O Inverno (e a Primavera, o Verão e o Outono) do nosso descontentamento



Olhando para as reacões às eleições de Domingo parece-me que o centro-direita não percebeu o que aconteceu. Continuo a ver a AD a afirmar que ganhou as eleições, quando a verdade é que o máximo que pode afirmar é que não perdeu. Neste momento tem apenas mais 2 deputados que o PS (sendo que, embora seja pouco provável, ainda pode empatar, ou até ficar com menos) e menos deputados do que a esquerda unida. A verdade é que a AD teve um dos piores resultados de sempre do centro-direita, pouco acima de há dois anos e que precisa que ou o PS ou Chega no mínimo se abstenham para aprovar qualquer coisa no Parlamento. Seja isto o que for, não é uma vitória.

Mas, ao contrário do que tinha acontecido até agora quando o centro-direita tinha um mau resultado, a verdade é que o PS tem um resultado ainda pior. Perde mais de 40 deputados e mais de 500 mil votos. O país mostrou muito claramente que está farto do PS e que não o quer no poder, nem sequer em conjunto com a esquerda.

Mas quem derrotou o PS não foi a AD, que repete mais ou menos o resultado de há dois anos quando o PS teve maioria absoluta. Quem derrotou a o PS foi o Chega. Com mais de um milhão de votos e quase cinquenta deputados, confirma-se não apenas como o terceiro partido, como se torna também no terceiro partido com maior grupo parlamentar na democracia portuguesa. Ignorar que os portugueses quiseram tirar o PS do poder e que expressaram esse desejo sobretudo através do voto no Chega é um erro que podemos vir a pagar caro.

Estas eleições vieram por a nu algo que já era evidente há anos, mas que o refúgio da abstenção sempre permitiu disfarçar. Hoje há um total divórcio entre a política e todos os seus protagonistas (partidos, políticos, comentadores, etc) com a sociedade. As eleições, que nenhum dos dois grande partidos ganhou, e que viram crescer o partido que se afirma como anti-sistema deixaram claro que boa parte do povo não tem qualquer interesse nesta elite.

A elite política vive hoje cada vez mais em circuito fechado. Transitam directamente das juventudes partidárias para uma qualquer avença e daí para o Parlamento ou um espaço de comentário. Vivem fechado no seu círculo, alimentados pela bolha do Twitter, perdidos em tricas que não interessam a ninguém a não ser aos que vivem nessa bolha. Debitam discursos redondo sobre os temas que os comentadores (que vivem na mesma bolha) garantem ser essenciais, mas que nada dizem à população. Pregam com ar douto, sempre com a pretensão de ensinar ao povo sobre o que se deve preocupar, como deve vota, quais as grandes causas civilizacionais. Sobretudo ignoram totalmente o dia-a-dia dos portugueses,  tratando com desprezo qualquer preocupação que vá contra a sua narrativa.

Do outro lado vivem os eleitores, com trabalhos que no topo da carreira pagam o mesmo que ganha um qualquer assessor de 20 anos, que andam de transportes públicos, que tem os filhos na escola do Estado, que tem de utilizar o SNS. Os eleitores que vivem em casas cada vez mais caras, que vêm os filhos a viver pior que a sua geração, sem qualquer esperança de conseguir melhorar a sua qualidade de vida.

Do outro lado estão também as associações da sociedade civil, sem qualquer ligação partidária, que fazem trabalho político, trabalho cultural, trabalho social, sem qualquer apoio ou sequer consideração da parte do poder.

É evidente que num país cada vez mais envelhecido, mais pobre, com serviços públicos mais degradados, sem opções profissionais, e em que os políticos vivem fechados sobre si mesmos, o descontentamento só podia aumentar. E isto era evidente nos últimos anos, com o aumento constante da abstenção. Não é agora que as pessoas não confiam nos políticos, é há anos. A grande diferença é que nesta eleição houve um partido que soube manipular esses descontentamento.

Não tenho dúvida que Chega não é solução. A única coisa que sabe fazer é amplificar os problemas da população sem propor qualquer solução exequível para eles. Estou convencido que a melhor forma de esvaziar o Chega seria dar-lhes responsabilidades no Governo. No instante em que tivessem que resolver qualquer problema, ficaria claro a sua inutilidade. Mas o facto de o Chega não ser solução, não significa que os problemas de que fala não existam. Menorizar as pessoas que votam no Chega trata-la como tontas, como analfabetas, com paternalismo, é meio caminho andando para continuar a dar mais força a Ventura. O Chega não é a causa da crise do sistema, é a consequência.

Se o PSD quer realmente voltar a ser um grande partido tem que começar por tirar a cabeça da areia. Tem de levar a sério esta separação entre o seu partido e a população. Tem de ir conhecer os problemas reais dos portugueses e propor caminhos claros para os resolver. Sobretudo tem que romper a bolha em que vivem os políticos. Uma bolha de impunidade, onde carreiras se constroem apenas com base em apoiar os candidatos certos, onde centenas de pessoas vivem de avenças ou contratos públicos, onde para se ter sucesso nos negócios não é necessário qualquer jeito, apenas os contactos certos.

Tem de abandonar a agenda ideológica dos comentadores e dos lobbys, e ouvir aqueles que durante décadas foram o seu eleitorado. Ligar menos à estrutura partidária e mais à sociedade civil. Tem de deixar cair barões e caciques, com cadastros dúbios. Tem de estar juntos das populações, não apenas nas eleições, mas todo o ano.  Tem de saber ser um partido popular, sem ser populista.

Sobretudo, tem de ter um rumo claro, uma ideia para o país, um conjunto de ideias que defende. As pessoas tem de olhar para o PSD e saber para onde quer ir e como tenciona lá chegar. Como vai reformar a justiça para que esta seja célere e igual para ricos e pobres? Como vai reforma o ensino para que as famílias possam educar em liberdade os seus filhos? Como vai reformar a saúde para todos tenham acesso a ela? Como vai reformar o Estado para que este seja eficiente? Que visão tem para a habitação, os transportes, a economia? Veja-se quão ridículo perder o tempo a discutir o TGV quando há um país inteiro que nem uma camioneta tem para ir de casa para o trabalho!

Portugal atravessa uma clara fase de descontentamento geral. Hoje há uma total falta de fé na política e as pessoas não têm qualquer esperança de que a situação vá melhorar, seja o governo PS ou PSD. Se o cenro-direito quer esvaziar o populismo só tem um caminho: tirar a cabeça da areia, romper a bolha que hoje envolve os partidos, e fazer política no verdadeiro sentido do termo: servir a coisa pública.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Algumas notas sobre as eleições


1.Luís Montenegro fez um boa campanha, com uma estratégia corajosa, apostando tudo no “não é não” ao Chega. Partiu em desvantagem, com as sondagens todas a dar vantagem ao PS. Ganhou as eleições, mas não tem condições para governar. A estratégia foi clara e não resultou.
2.Quem derrotou o PS foi o Chega. A AD ganhou apenas 200 mil votos relativamente a 2022, o Chega pode quadruplicar o seu grupo eleitoral. Para mim a fragilidade da estratégia do “não é não” é que quem traça linhas vermelhas são os eleitores e os eleitores claramente não traçaram nenhuma em relação ao Chega.
3.O Chega é o grande vencedor da noite. Podem ficar todos chocados, acusar os eleitores disto e daquilo, que em nada muda o facto de mais de um milhão de portugueses ter votado no Chega. Este resultado é a prova da separação entre os partidos, a comunicações social, os comentadores e o povo. Enquanto o PSD não perceber que tem de falar para as pessoas e não para os comentadores, o Chega irá continuar a crescer.
4.O PS tem uma grande derrota. Nem o facto de ficar quase empatado com a AD altera esse facto. Os socialistas tinha uma maioria absoluta e agora não chegam aos 80 deputados. Usar a incapacidade da AD de explorar esta frustração para maquilhar a derrota do PS é ridículo.
5.A IL prova mais uma vez a sua inutilidade. Tem uns ditos giros, manda umas larachas engraçadas, mas só serve para encurtar a derrota do PS. Passou a campanha toda indecisa entre namorar a AD e ataca-la, para depois ficar com os mesmo deputados e não ter força para garantir qualquer solução governativa. A soberba da IL não convence e cheira-me que a queda não está longe.
6.À esquerda o BE não é capaz de aproveitar o desabamento do PS, o PC continua a extinguir-se, só o Livre cresce. O país, mesmo à esquerda, está farto da hipocrisia do BE e mostrou que prefere o tom sensato de Rui Tavares. Nas propostas não serão muito diferentes, mas na forma o crescimento do Livre à custa do BE é boa notícia.
7.É muito provável que o resultado do ADN se deva à parecença das siglas, mas não se despreze o apoio da comunidade brasileira evangélica a este partido. O Bruno Fialho tem uma estratégia e apesar da coincidência das siglas ter ajudado seguramente, não me parece que seja de desprezar o resultado. Sobretudo, não se despreze o que pode fazer agora com subvenção pública.
8. O PAN é como os parasitas, custa a morrer. Ainda não foi desta que nos livramos deles. Mas reparo que começa a ficar claro o extremismo à esquerda, quando ouvimos a histeria sobre o regresso do CDS, que o PAN apelida de extrema-direita, ao Parlamento.
9.O CDS volta ao Parlamento e isso é uma boa notícia. Mas, passadas as eleições, não posso deixar de dizer que neste momento somos os Verdes do PSD. O regresso a São Bento devemos ao PSD mais do que ao nosso trabalho. É por isso urgente não desperdiçar esta oportunidade de mostrar a utilidade do CDS, como partido da Direita Social, firme na defesa da nossa doutrina. De outra forma ficaremos para sempre diluídos no PSD.
10.O país está ingovernável. Oitenta deputados, o máximo que a AD pode alcançar, não é suficiente para governar. Admiro Montenegro pela coragem que demonstrou na campanha, mas devia ter-se demitido. Apostou corajosamente, falhou, saia com honra. Temo que a confusão dos próximos meses venha a conduzir-nos a uma maioria de esquerda no parlamento. Aí vamos ter saudades de Costa.
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sexta-feira, 8 de março de 2024

Vencido, mas não convencido, vou votar na AD

 


Votar é um acto de puro realismo. Raramente temos a oportunidade de votar em quem realmente queremos, ou mesmo em candidatos que gostemos. Em toda a minha vida de eleitor, lembro-me de ter votado convencido em 2 ou 3 eleições.

Quando vamos votar escolhemos entre os candidatos que existem aquele ou aqueles que nos parecem ser mais capazes de servir o bem comum. Infelizmente, no Domingo essa tarefa não é fácil.

Para mim é evidente que o voto à esquerda, em projetos baseado numa visão coletivista da sociedade, que são contrários à família e a uma sociedade civil forte, que impõem engenharias sociais, que atacam o direito à vida de forma cada vez mais agressiva, está fora de questão.

Também o individualismo egoísta da IL, que confunde egoísmo com liberdade, que ao mesmo tempo que grita contra o Estado, acha que este deve impor a sua visão cultural da sociedade, que endeusa o mercado, esquecendo aqueles que não têm condições ou capacidade de ser valer por si próprios, está para mim fora de questão.

No Chega também não voto. Antes de mais não entrego o meu voto a quem, num ataque à Liberdade da Igreja inaudito desde a Iª República, chama ao Parlamento o Patriarca de Lisboa e o Presidente da CEP. Só isto chegaria para não votar nesse partido. Mas para além disso, embora reconheça que no seu programa há uns pozinhos de causas boas, vem tudo misturado, à imagem do próprio partido, que quer agradar a todos os descontentes do sistema, mesmo que para isso tenha de defender tudo e o seu contrário. Para além disso, para mim em política a forma conta. Nunca gostei do populismo ordinário do Bloco, não passei a gostar só porque agora é praticado à direita.

Sobra a AD. O que até deveria ser um voto fácil. Tem alguns candidatos de qualidade, como o Paulo Núncio, a Isabel Galriça Neto ou o Alexandre Homem Cristo. Mas tem um programa que desanima qualquer pessoa. Um conjunto de banalidades, sem qualquer ideia política ou cultural de fundo para o país. O PSD continua a querer ser a governanta do país, que mantém a casa arrumada. Por isso só governa quando o PS deixa a casa desarrumada. Não duvidemos que se o candidato do PS fosse da ala de António Costa, com um discurso e um percurso ao centro, os números das sondagens seriam outros.

Mas tudo somado, voto na AD. Porque a realidade é aquela que é, e neste momento é urgente tirar a esquerda do poder, e a única forma de isso acontecer é a vitória da AD. E é preciso estabilidade, e a única forma de isso acontecer é que a AD tenha força. Sobretudo, porque fazem falta bons deputados ao país, e fazem falta católicos empenhados na política, e o meu voto será um voto em Paulo Núncio e em Isabel Galriça Neto (que se tudo correr bem, também poderá ser eleita). Por isso, vencido pela realidade, mas não convencido pela timidez do programa, irei votar sem dúvida ou sobressalto na AD.

terça-feira, 5 de março de 2024

Um boa razão para votar na AD


 Vi a Iniciativa Liberal comparar candidatos da AD com os seus. Em Lisboa, faz a comparação entre Bernardo Blanco e o Paulo Núncio. Ora, Blanco é um jovem sem qualquer actividade conhecida que não seja mandar bocas no twittter e dois anos como deputado, onde a sua coroa de glória foi levar um YouTuber para insultar o Governo na tribuna do Parlamento.

Já Paulo Núncio é um dos fiscalistas de maior sucesso em Portugal, que abandonou um dos maiores escritórios de advogados do país para se candidatar ao Parlamento. Já antes tinha feito o mesmo para ser Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, onde promoveu uma extraordinária reforma do IRS, num tempo de especial dificuldade para o país. Antes disso, tinha estado empenhado durante anos em várias causas políticas, incluindo a defesa da Vida.

Paulo Núncio é um caso raro na política nacional. Não subiu através das juventudes partidárias, tem toda uma vida fora da política e vai para o Parlamento (como aliás foi para o Governo) perder dinheiro e tempo. Ele não precisa para nada da política, ao contrário de tantos (incluindo Bernardo Blanco) para quem a política é a única forma de sustento conhecida.  

Sei bem porque razão a IL escolheu Paulo Núncio para alvo, porque ele teve coragem de dizer aquilo em que acredita. Porque é assim que a IL faz política, ridicularizando quem deles discorda. E sabemos bem que hoje ser contra o aborto tornou-se crime público; e, para liberais em toda a linha, quem discorda deles é para ser automaticamente cancelado.

Mas fico agradecido por este momento da IL, porque me recorda bem porque vou votar na AD. Porque apesar de todos os seus defeitos, tem pessoas como Paulo Núncio. Pessoas que largam uma vida confortável para servir o país, com coragem para defender aquilo em que acreditam, mesmo quando não é trending no Twiiter, com provas dadas na vida profissional e política. Quanto à IL, fica claro o que é: um partido de cassete como o Partido Comunista, mas com uma comunicação mais actual.

segunda-feira, 4 de março de 2024

A falsa narrativa da Esquerda e a cobardia da Direita.


 

1. A Federação Portuguesa pela Vida (FPPV) produziu o manifesto O Valor do Outro que procura ser um contributo sobre a política actual. No âmbito da promoção do manifesto organizou duas sessões públicas (ambas disponíveis no canal da FPPV no YouTube): uma com o Prof. César das Neves e a Prof. Patrícia Fernandes e um encontro para o qual convidou todos os partidos com assento parlamentar.

Antes de falar sobre o encontro com os partidos faço só uma pequena introdução sobre o trabalho da FPPV. Só desde 2015 esta associação apresentou a Iniciativa de Cidadãos pelo Direito a Nascer, que reunião mais de 48 mil assinaturas e foi aprovada no Parlamento. Produziu a petição Toda a Vida tem Dignidade que recolheu 16 mil assinaturas. Fez uma extraordinária campanha contra a eutanásia, onde se destaca a Iniciativa Popular de Referendo que recolheu 95 mil assinaturas. Para além disso tem realizado anualmente a Caminhada pela Vida que este ano acontecerá em 13 cidades do país e que todos os anos traz à rua mais de 10 mil pessoas. Isto são apenas os eventos maiores, já que também organizou dezenas de conferências, coordenou várias campanhas de comunicação e mantém uma presença activa na política. Tudo isto baseado quase exclusivamente em trabalho voluntário, sem qualquer financiamento público (ao contrário das associações que tantas vezes nos opõem), numa história que conta já com mais de vinte anos. Ou seja, a FPPV é uma caso ímpar de política cívica, nascida e sustentada pelo empenho da sociedade civil.

Seria de esperar que os partidos, mesmo o que de nós discordam, tivessem respeito por todo este trabalho cívico. Dos partidos convidados, só três reponderam. O Partido Socialista, dos seus 230 candidatos à Assembleia da República, não encontrou nenhum com disponibilidade para conversar connosco. A Aliança Democrática enviou o Paulo Núncio (e convém aqui sublinhar que foi a AD que escolheu o seu representante) e o Chega Pedro enviou Pedro Frazão.

2.  Durante o encontro foram feitas várias perguntas aos dois candidatos a deputados, sobre os vários temas do manifesto O Valor do Outro. O papel de moderador foi assegurado por mim, que tentei não condicionar nenhuma resposta, confiando na capacidade de quem assistia em ajuizar sobre as repostas que ouvia.

É verdade que Paulo Núncio afirmou ali estar como representante da AD, mas também é verdade que várias vezes explicou qual era a sua opinião pessoal, qual era a posição do CDS e qual era a posição do PSD, deixando claro que, depois das eleições haverá dois grupos parlamentares, com visões diferentes sobre estes temas. Respostas esta que levaram até a ser contestado por algumas das pessoas que assistiam ao encontro.

Em momento algum Paulo Núncio propôs um novo referendo sobre o aborto ou afirmou qualquer intenção de a AD o fazer. Aquilo que disse, e que pode ser ouvido, é que a única forma de reverter a actual lei, que foi aprovado por referendo, é com um novo referendo.

3.  A tentativa de usar as declarações de Paulo Núncio como um anúncio de uma qualquer intenção escondida da AD são absurdas e abusivas, e tratam-se da especialidade da esquerda (a mesma que ignora os cidadãos que os convidam para conversar) de inventar uma narrativa que lhes favoreça.

Infelizmente, e de forma cobarde, ninguém à direita teve coragem para denunciar a falsidade desta narrativa. A AD preferiu simplesmente deixar cair um homem corajoso que afirma aquilo em que acredita, com medo de enfrentar a esquerda, deixando-se assim mais uma vez condicionar pela narrativa cultural da esquerda, erro que continua a pagar caro. É esta razão que leva a que a direita só governe em crise: a ausência de coragem em defender qualquer posição que vá para além da economia.

4. Não é verdade que tenha sido Paulo Núncio, ou sequer a FPPV, a introduzir o tema do aborto na campanha eleitoral. Ele está presente no programa do Livre, do Bloco e do PS. Estes partidos defendem antes de mais o alargamento dos prazos do aborto legal, desrespeitando assim o referendo que legalizou o aborto. Talvez ainda mais grave, propõem “regular” a objecção de consciência, um direito fundamental, que a esquerda quer condicionar.

A esquerda continua afirmar que o aborto é um direito, o que é falso. O aborto é um crime previsto no Código Penal (e nenhuma partido veio defender que assim o deixe de ser), que admite (infelizmente) excepções. Quem defende que o aborto é um direito, defende que um acto seja, ao mesmo tempo, um direito fundamental e um crime. Se for às nove semanas, ninguém pode contestar, se for às 11 (ou às 13, ou às 16 conforme os projetos de cada partido) é um crime que deve ser punido. Um absurdo só possível pelo facto de a lógica ser hoje um velharia substituída pelas sensações.

5.  Infelizmente e de forma cobarde, a direita embarcou na narrativa da esquerda e recusou denunciar a sua narrativa, assim como o ataque ao direito dos médicos a não ser prejudicados por questões de consciência. Preferiram todos fingir ser grave Paulo Núncio vir falar com uma associação cívica com um trabalho político único, fingir que ele tinha proposto o que não tinha e ignorar as propostas da esquerda sobre o tema. Não perceberam que mais uma vez alinharam numa tentativa de silenciar uma parte da população, cívica e politicamente activa, que neste momento não se sente representada em qualquer partido.

6.  Toda esta polémica teve duas grandes vantagens. Primeiro, trazer à luz as propostas que a esquerda tem sobre o aborto. Ao contrário do que é habitual, desta vez ninguém pode dizer que não sabia ao que eles vinham. Infelizmente, o debate neste campo foi ganho por falta de comparência.

A segunda grande vantagem foi que deixou claro que hoje a narrativa é de tal forma dominada pela esquerda, que é impossível falar em defesa da vida por nascer. Em nome da ideologia, ignora-se a realidade biológica, para que todos fiquem de consciência tranquila.

Só pode afirmar que o aborto é um tema pacificada quem desconhece totalmente os dramas do terreno. A FPPV, através das suas associadas no terreno que anualmente apoiam centenas de mulheres, sabe bem como o aborto hoje é usado como coacção por companheiros e patrões, como a maior causa do aborto é a pobreza, a ausência total de respostas do Estado para as grávidas em dificuldade, a ausência de respostas sociais para as mulheres que não querem abortar. Só para quem vive na Torre de Marfim da política e vê a realidade através da bolha das redes sociais ou dos comentadores, é que pode afirmar que a questão do aborto está pacificada.

7.  Por isso é mais urgente que nunca dar testemunho da beleza e da dignidade de cada Vida. O aborto já não é uma batalha política, é uma batalha cultural. Pela reafirmação do valor da vida por nascer, pela proteção da maternidade, pela liberdade de afirmar a ciência em detrimento da ideologia. É isso que o movimento pró-vida tem feito em Portugal nas últimas década, é isso que iremos continuar a fazer, apesar das falsas narrativas da esquerda e da cobardia da direita.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Felizmente Houve Bom Senso.

 


Prevaleceu o bom senso. Paulo Núncio tinha tido a ideia de, num encontro sobre a defesa da vida, respondendo a uma pergunta (por acaso feita por mim) sobre o aborto, dizer que a lei actual só pode ser revertida por um referendo. Pior, teve a ideia peregrina de dizer que o aborto é uma coisa má e que deve ser limitado.

Mas felizmente o bom senso prevaleceu. Nuno Melo já veio dizer que o CDS não mudou de posição, mas nesta legislatura não se pensava em referendo (nem o Paulo Núncio disse tal coisa). Montenegro foi mais longe e prometeu que não mudaria a lei. Rui Rocha rapidamente veio assegurar que o aborto é um progresso. Ventura, não querendo ficar atrás, lá veio fazer juras de que nesta lei do aborto ninguém toca. E assim, juntamente com um balde de tinta verde, o assunto morreu.

Prevaleceu o bom senso e ninguém permitiu que a campanha ficasse refém de assuntos menores, como a dignidade da Vida Humana, as grávidas abandonadas ou a subida da taxa de aborto (1 em cada 5 gravidezes termina em aborto), e podemos continuar a discutir o que realmente importa como linhas vermelhas, cortes nos impostos ou qualquer que seja o assunto que os comentadores declaram essencial.

E como prevaleceu o bom senso, a esquerda irá continuar a discutir o alargamento dos prazos do aborto legal e o fim da objecção de consciência, enquanto a direita se preocupa com o que realmente importa, ganhar lugares em São Bento e garantir o poder que lhe escapa há nove anos.

E assim, cheia de bom senso, os líderes da direita abdicaram de qualquer tentação de liderar o debate público, de defender uma qualquer ideia, e mantêm-se firmes no propósito de continuar apenas a dizer aquilo que acham que lhe dará melhor imprensa.

A mim infelizmente falta bom senso e por isso continuarei, juntamente com os meus amigos da Federação pela Vida, a publicamente defender ideias insensatas, mas verdadeiras, como fazemos no Manifesto O Valor do Outro, que esteve na origem deste pequeno escândalo, de um político de direita dizer sem rodeios aquilo em que acredita.

Por isso, peço que me perdoem a falta de bom senso, e diga com toda a clareza: a vida começa na concepção e o seu valor não depende em nada do seu grau de desenvolvimento; o aborto não é um direito, mas a morte de um bebé e deve ser ilegal; não quero mulheres presas, pelo contrário, quero que nenhuma mulher aborte porque não encontrou quem a apoie; reverter a lei do aborto livre não é um retrocesso, mas um progresso para uma sociedade mais justa.

Fico feliz que o bom senso tenha regressado. A pobreza continuará a ser a maior causa do aborto, os patrões e os companheiros irão continuar a pressionar as mulheres a abortar, o seio da mãe irá continuar a ser o lugar onde um bebé tem menos protecção legal. Mas ao felizmente houve bom senso.