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sábado, 23 de dezembro de 2023

Testemunhas de um facto


 

Excerto da homília do Padre João Seabra de dia 18 de Dezembro de 2016, IVº Domingo do Advento.

O Natal não é uma recordação piedosa de algo do passado; não nos voltamos para trás porque, se assim fosse, cada ano que passasse o Natal estava cada vez mais longínquo, seria uma recordação vaga, e celebrávamo-lo com menos intensidade do que o celebraram os nossos avós. Portanto, estaria cada vez mais distante e nós, pelo contrário, celebramo-lo como um acontecimento presente. O que é que significa a palavra “tradição”? Significa que fazemos hoje de novo aquilo que aconteceu no princípio. O que é que significa aproximarmo-nos do presépio e venerámos o Menino Jesus? É vivermos de novo, sobrenaturalmente, na ordem do Sacramento, aquilo que aconteceu na história. E por isso eu, hoje, no século XXI não sou menos beneficiado, nem menos feliz, do que o foram os pastores e os magos que adoraram o Menino em Belém.

Como acontecimento humano, o Natal pertence a um tempo determinado; mas como acontecimento sobrenatural é meu contemporâneo. Jesus entrou na história não para ficar delimitado aos 33 anos da Sua vida entre nós, mas para ser contemporâneo de todos os homens. Jesus é contemporâneo de todos o que o precederam, de todos os que viveram no Seu tempo e de todos os que nascera depois d’Ele. É também nosso contemporâneo, nasce hoje, nasce dentro de uma semana, para podermos, como os pastores e os magos, ir ao presépio vê-Lo com os olhos da Fé.

É o que acontece na Eucaristia. O corpo de Cristo que nasceu da Virgem Maria, que foi crucificado e morto, que ressuscitou, que está glorioso no Céu, encontra-se na Eucaristia para me amparar, mas para me fazer companhia, para ser meu amigo. E eu posso caminhar com Ele na margem do Lago de Tiberíades; posso pedir-Lhe como os discípulos: Senhor ensina-me a rezar (Lc 11,1); posso contempla-Lo pregado na Cruz; posso ir com Ele a caminho do Emaús, escutando-O a ensinar-me as Escrituras. Posso fazer tudo isto porque Ele é meu contemporâneo e está presente na minha vida. A nossa fé não é nada menos do que isto! Não somos visionários de um sonho, somos testemunhas de um facto. Vivemos de um facto que aconteceu há dois mil anos e que acontece hoje. Deus que se fez homem para fazer companhia à minha vida é um Mistério presente, aqui e agora.

Pedimos ao Senhor para não descermos a fasquia da nossa expectativa do Natal. Reconheçamo-lo presente com fé verdadeira, confiemos Nele para mudar a nossa vida, para mudar aquilo de que já desistimos ou não somos capazes de mudar, para fazer de nós gente nova pelo poder da Sua Graça. Faltam sete dias para o Natal. Quanta conversão se pode fazer em sete dias! Quanto regresso a Deus, quanto perdão das ofensas, quanta graça acolhida, quanta oração sincera, quantas coisas boas podemos fazer em sete dias para chegar ao Natal com um coração novo, para recebermos o Senhor com a nossa casa preparada e as portas escancaradas.

Que o meu coração não seja a hospedaria onde não há lugar para o receber, mas a gruta, ainda que pobre e tosca, onde Ele se pode reclinar e recebe a adoração dos pastores e dos magos que somos todos nós. Que o Senhor nos dê um Natal Santo, um Natal de conversão e de esperança.