Em 1997 o Partido Comunista propôs o aborto livre até às 12 semanas e foi chumbado. Ainda nesse ano, o Partido Socialista, pela mão do então presidente da JS, Sérgio Sousa Pinto, propôs a legalização do aborto até às 10 semanas. Para evitar a sua aprovação o então Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do PS, António Guterres, acordou com o presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro referendo da democracia. O referendo haveria de se realizar em Julho de 1998 e o resultado foi a vitória do “Não”.
Nos anos seguintes houve várias tentativas de legalizar o
aborto livre, até quem em 2006, com o regresso do PS ao poder, foi convocado
novo referendo, que se realizou em Fevereiro de 2007 e onde o “Sim” ganhou.
Desde então, foi legalizada a procriação artificial, o casamento
entre pessoas do mesmo sexo, foi proposta e chumbada a co-adopção por pessoas
do mesmo sexo, foi aprovada a adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada,
chumbada pelo Tribunal Constitucional e novamente aprovada as barrigas de aluguer,
foi aprovada a Lei da Identidade de Género, foi votada seis vezes a legalização
da eutanásia (chumbada no Parlamento, chumbada pelo Tribunal Constitucional,
vetada pelo Presidente da República, chumbada pelo Tribunal Constitucional,
vetada pelo Presidente da República e finalmente aprovada e promulgada), foi
proposto o aumento dos prazos do aborto.. Nestes anos foi introduzida a educação
sexual obrigatória nas escolas, criada a disciplina de Educação para a
Cidadania posteriormente tornada obrigatória, foram criados os Referenciais
para a disciplina, que incluem a defesa do aborto e da ideologia de género.
Ou seja, nos último 17 anos quase todos os anos foram propostas
leis ditas fraturantes, quase sempre pelos mesmo deputados e defendidas pelos
mesmos protagonistas. Não houve legislatura (e quase não houve ano) em que
estes temas não tenham sido colocados na agenda política por essas pessoas.
Por isso é especialmente irritante ouvir comentadores, em
geral idiotas úteis de direita, a explicar que são os “conservadores” que estão
a importar “guerras culturais”. Eu passei boa parte da minha adolescência e
vida adulta a lutar sobre estes temas e, como dizem os miúdos, nunca fui eu que
comecei. Eu não tenho qualquer interesse nesta agenda, foi a esquerda progressista
(agora adoptada pela IL) que decidiu importar estas causas para Portugal, nós
limitamo-nos a opor-nos.
Por isso, se os senhores comentadores acham que estes temas
não têm interesse, se consideram que desvia o foco dos assuntos fundamentais (e
eu concordo) têm uma boa solução, a próxima vez que encontrarem a Isabel Moreira
no Lux, ou se cruzarem com a Teresa Violante num estúdio, peçam-lhes que parem
de importar guerras culturais. Nós agradecemos. Assim podemos começar a tratar dos
assuntos realmente importantes como a pobreza, a saúde a educação e tudo aquilo
que o PS prefere não tratar para se dedicar antes à causa woke.
E já agora aproveito para falar do progresso de que falam
tanto, para defender a morte de crianças como direito fundamental. Eu percebo o
glamour de estar a par das modas do estrangeiro, porque se no Eça a cultura vinha
de Paris em caixotes, hoje vem dos Estados Unidos (mas continua a ficar-nos curta
nas mangas). Mas eu tenho um enorme problema com este progresso: cheira a mofo!
Este progresso tem o cheiro dos fornos onde os cartagineses sacrificavam bebés
aos deuses, lembra o extermínio dos fracos e incapazes de Esparta, um déjà vu
aos eunucos da Pérsia antiga. Este progresso tem o cheiro putrefacto de um
cadáver com milhares de anos, vestido com roupas modernas para ser admirado por
aqueles que desejam tanto parecer modernos que não percebem que retrocederam dois
mil anos. Pessoalmente, eu prefiro continuar com o humanismo cristão, aquele
que garante a infinita dignidade de cada ser humano. Pode não ser progressista,
mas tem a enorme vantagem de ser verdade.
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