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terça-feira, 26 de abril de 2022

A direita e o 25 de Abril


Uma parte substancial da direita tem uma relação complicada com o 25 de Abril. O que é abundantemente aproveitado pela esquerda, sobretudo pela extrema-esquerda.

Esta relação complicada nasce de um equivoco histórico, criado pela esquerda e, infelizmente, aceite pela direita.

No dia 25 de Abril de 1974 houve um golpe militar que a adesão popular transformou numa revolução. Esse golpe foi preparado e executado por militares de direita e de esquerda, republicanos e monárquicos, católicos, etc. A adesão ao golpe militar pela população veio também de todos os quadrantes da população.

Claro que a democracia não se constrói num dia, nem basta derrubar uma ditadura para que logo se erga um democracia. E as dores de parto da democracia portuguesa foram violentas, especialmente para aqueles que se identificam à direita.

Durante os tempos revolucionários foram cometidos abusos e crimes que deixaram marcas em Portugal até hoje. As nacionalizações selvagens arrasaram a economia portuguesa, a reforma agrícola destruiu casas agrícolas sem produzir qualquer fruto, os saneamentos atingiram centenas de pessoas sem qualquer culpa, muitos foram presos por delito de opinião sendo que alguns foram torturados, houve partidos ilegalizados e bastante violência. Sobretudo, naquilo que é a maior vergonha para o país dos tempos da revolução, os povos irmãos do ultramar foram entregues sem cerimónias a Moscovo, condenando os novos países à guerra e violência que provocaram milhares de mortos e arrasaram as novas nações.

Num pais civilizado, os autores destes crimes teriam sido pelo menos afastados da vida política, se não mesmo presos. Em Portugal, são tratados como heróis. E são-no, precisamente por a direita permitir o equívoco de misturar o 25 de Abril com o processo revolucionário que se lhe seguiu.

A razão pela qual a extrema-esquerda, que tentou forçar o país a uma nova ditadura, é celebrada como heroína da liberdade, é porque se arma de uma legitimidade revolucionaria exclusiva. Como se de alguma forma fossem donos da Revolução e isso apagasse todos os seus crimes. 

A direita, que foi quem mais sofreu durante o processo revolucionário, marcada por todos os abusos feitos no pós-25 de Abril, deixou-se afastar desse momento fundador da democracia portuguesa e permitiu assim à esquerda ficar como heroína do momento.  E a esquerda agradece, sobretudo o Partido Comunista e os restantes herdeiros da extrema-esquerda, porque assim lhes é permitido branquear todos os seus crimes.

A verdade é que a democracia nada deve ao Partido Comunista nem à extrema-esquerda. Nada deve àqueles que, mesmo tendo participado no 25 de Abril, depois tentaram instrumentalizar a Revolução para impor uma nova ditadura ao país. Mas deve muito àqueles que fizeram a Revolução e depois defenderam a Democracia e a ajudaram a consolidar.

Por isso, é hora de a direita ultrapassar as suas dificuldades com o 25 de Abril. Não precisamos de cravos brancos, nem de atrelar o 25 de Novembro para falar do 25 de Abril. É hora de assumirmos sem medo o legado daqueles que no dia 25 de Abril de 1974 arriscaram a vida e a liberdade para que Portugal fosse uma democracia. E fazê-lo sobretudo contra quem, munido de uma suposta legitimidade revolucionária, procurou  impor ao país um regime socialista.

A Democracia em Portugal nasceu de facto com o 25 de Abril. E foram muitos os que arriscaram, nesse dia e nos que se lhe seguiram, para que fossemos livres. Continuar presos na armadilha montada pela extrema-esquerda para branquear os seus abusos é um insulto a todos os que sofreram para que Portugal fosse livre. E para além disso é um erro, um erro que a direita continua a pagar.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Aqui o prior educa-nos na Fé.




A história conta-se rapidamente. No fim dos anos 90, um dos bispos auxiliares do Patriarcado de Lisboa fez uma visita pastoral à paróquia de Santos-o-Velho. Durante a visita teve um encontro com os paroquianos onde perguntou qualquer coisa sobre o haver realidades muito distintas na paróquia e se isso causava algum problema. Respondeu um homem bom e caridoso da paróquia, mas conhecido pela falta de simpatia: “isso não é um problema, aqui o prior educa-nos na Fé”.

Lembro-me muitas vezes desta história, sobretudo quando regressam ao debate público as posições da Igreja sobre a sexualidade.

Eu, como centenas (talvez milhares) tive a graça de ter sido educado na Fé por aquele prior. Ou seja, fui educado no amor a Cristo e à Sua Igreja. E isto passa também, como é evidente, pela visão cristã do corpo, do amor e da sexualidade. Mas nunca me dei conta de que a moral sexual fosse central, ou sequer especialmente importante naquilo que pregava. O essencial foi sempre o encontro com a presença de Cristo, aqui e agora. O resto veio por acréscimo.

Porque a moral da Igreja não é apenas conjunto de normas para regular a vida dos católicos. A moral da Igreja brota do próprio Senhor e é a forma mais adequada, mais humana, de viver esta vida e conquistar a próxima. 

Mas é impossível compreender a moral da Igreja sem ser à luz da Fé. Só o encontro com Cristo é capaz de mudar o coração do Homem. A beleza daquilo que a Igreja propõe, incluindo a sexualidade, só é compreensível nesta relação com Jesus.

Vivo por isso muito agradecido por ter um mestre que me educa na Fé. Para mim nunca foi difícil aceitar a moral sexual da Igreja. Pelo contrário, sempre achei a visão do corpo como morada do espírito, o acto sexual como oferta de si mesmo, a imagem do outro como dom e não como objecto, das coisas mais belas que conheço.

Não quer dizer que seja fácil, nem a Igreja diz que é. Como diz São Paulo aos Romanos: Nem me compreendo, pois não faço aquilo que queria fazer e faço o mal que detesto.

Neste tempo de hipersexualização, onde os corpos são exibidos e vendidos como objectos, neste tempo de egoísmo, da ditadura das sensações, propor e viver a pureza e a virgindade não é fácil, mas não deixa de ser verdade.

Por isso a Fé é essencial. Porque a relação com Cristo é a única coisa de realmente interessante que a Igreja tem para oferecer. É Ele que ilumina toda a realidade, é Ele que nos permite irromper da escravidão do pecado e viver de forma humana. Sobretudo, só com Ele nos podemos levantar após cada queda.

Concordo com os que dizem que se fala demasiado da moral sexual da Igreja. Sobretudo, aqueles que a querem mudar e que reduzem todo o drama humano, sobretudo o dos jovens, a saber com quem se pode ir para cama. É uma visão redutora da humanidade. Aquilo que faz falta à Igreja não é mudar o que é eterno mas dar testemunho da presença viva de Cristo. D’Aquele que estava morto, mas ressuscitou. Tudo o resto vem por acréscimo.

Resumindo, está tudo naquela resposta do homem maldisposto: aqui o prior educa-nos na Fé!