Todos as mensagens anteriores a 7 de Janeiro de 2015 foram originalmente publicadas em www.samuraisdecristo.blogspot.com

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Uma mulher verdadeiramente livre.


Sexta-feira à noite recebi várias mensagens sobre uns desenhos animados que tinham passado na RTP2, no Zig Zag (programa infantil), onde contavam a história de uma feminista, que era oprimida pela família católica, que um dia tinha descoberto Marx e tinha-se libertado, tirando os filhos ao marido e promovendo o aborto! E depois como era mesmo livre fundou um lar só para mulheres (um gentlemans club mas com menos glamour suponho eu).

 

Calhou ter recebido estas mensagens enquanto celebrava antecipadamente os seis anos de casado com a minha mulher. Se é verdade que o programa é mau e que merece ser denunciado, confesso que comparando aquela mulher, que precisou de Marx e de promover a morte de crianças para ser livre, com a mulher que estava à minha frente, só consegui sentir uma enorme tristeza. Tristeza por todas as raparigas a quem lhes ensinam que para ser livre, têm que negar a sua individualidade (marxismo) e sobretudo, a sua feminilidade. Que para ser uma mulher livre tem que ver os homens como opressores (excepto Marx claro, esse grande feminista que viveu uma vida à custa da mulher) e uma criança por nascer como uma ameaça. Que para ser mulher tem seguir cegamente a cartilha feminista.


A minha mulher não fez nada destas coisas e parece-me bastante mais livre que a protagonista daquele cartoon. Livremente lutou contra o aborto, livremente ajudou crianças na Zona J, livremente fez voluntariado junto de mulheres com deficiência profunda, livremente foi responsável por grupos de jovens, livremente tirou o curso de educadora de infância e em vez de ajudar mulheres a livrarem-se dos seus filhos ajuda-as a educa-los (e deixem-me dizer que é uma extraordinária educadora). Livremente escolheu casar comigo (um erro, como sempre lhe disse, já que conseguia arranjar melhor, mas como ela é livre, a minha opinião não teve grande impacto) e livremente é mãe. Tudo isto sem precisar de se submeter aos dogmas de um alemão do século XIX.



Sobretudo, a minha mulher é livre porque tem Fé. E é da sua Fé que nasce a generosidade e a liberdade com que olha para o mundo. Não precisou de Marx para ser livre, porque sempre o foi. Também ela vem de uma família católica, e por isso foi educado desde sempre na liberdade cristã. A liberdade de quem se sabe amada por Deus, de quem sabe que o seu valor não depende do mundo, mas de ter sido amada desde o principio do tempo. Por isso não é escrava das circunstâncias, não é escrava de nenhum movimento social ou de um qualquer doutrinador. É livre, e livremente escolheu amar o mundo, e livremente escolheu amar-me (amor pelo qual sou infinitamente grato porque é infinitamente imerecido) e amar os nossos filhos.

 

Comparado a liberdade oferecida em horário nobre às raparigas pela RTP2 com a liberdade da minha mulher, não consigo deixar de ficar triste. Triste porque aquilo que a nossa televisão tem para oferecer às mulheres é tão poucachinho, tão curto, tão menor do que a liberdade que vejo na minha mulher.

 

Não tenho a pretensão de dizer a ninguém como viver a sua vida (a questão do aborto, ao contrário do que querem vender, não se trata da sua própria vida, mas uma outra vida). Mas deixem-me dizer que minha mulher me parece bastante mais livre que Thérèse Clerc, mesmo sem (ou provavelmente por isso) ter lido uma única página de Marx.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

A mulher de César e o governador do Banco de Portugal.





A origem da expressão "à mulher de César não basta ser séria é preciso parecê-lo" conta-se muito rapidamente.

Todo os anos acontecia em honra o festival da Boa Deusa. Era uma festa só para mulheres, onde acorriam as mulheres das famílias mais importantes da cidade. Qualquer presença masculina era sacrilégio.

Havia em Roma um nobre, que gostava de chocar a sociedade, chamado Publio Clódio. Nascido na família patrícia dos Claúdios, tinha-se feito adoptar por um plebeu e mudado o nome para Clódio.

Clódio era mulherengo e vivia encantado com Pompeia, mulher de César, que era uma das mulheres mais belas de Roma. Contudo esta era constantemente vigiada por Aurélia sua sogra.

Clódio decidiu então aproveitar a festa da Boa Deusa, que seria em casa de César, para entrar mascarado de mulher e encontrar-se sozinho com Pompeia.

Assim o fez, mas foi apanhado. O caso deu escândalo e transformou-se num caso político, porque sendo a República confessional, o sacrilégio era crime.

Durante o debate no Senado sobre o caso, César, que entretanto se tinha divorciado da sua mulher, foi interrogado. Respondeu que não sabia nada, porque não tinha estado presente. Questionado se considerava que Pompeia tinha um caso com Clódio e se teria colaborado com ele, defendeu a honra e a inocência da ex-mulher. Então perguntaram-lhe porque razão, se acreditava na inocência dela, se tinha divorciado. Foi aí que terá dado a famosa resposta: "à mulher de César não baste ser séria é preciso parecê-lo" (ou numa versão menos poética, "a mulher de César, tal como toda a sua família, devem estar acima de qualquer suspeita").

Ora, o que o António Costa podia aprender desta pequena lição histórica é que na questão do governador do Banco de Portugal, não está em causa a honestidade ou a competência de Centeno. Isso é outra discussão.

O que está em causa é que transitar directamente de Ministro das Finanças para governador do Banco de Portugal irá lançar sempre dúvidas sobre a independência de Mário Centeno. Essas suspeitas poderão ser injusta, e o antigo Ministro das Finanças até poderá ser um exemplar Governador, independente e integro (duvido, mas em teoria é possível). Mas nunca se livrará da suspeita de estar ao serviço do Governo.

E nos cargos públicos não basta ser sério, é preciso parecê-lo. Para haver confiança nas instituições, tem que haver confiança nos titulares dos seus órgãos. E evidentemente um alguém que passa de Ministro do Governo para regulador independente não oferece essa confiança.

António Costa gosta de se rodear de pessoas da sua confiança. Devia perceber que o importante é rodear-se de pessoas que ofereçam confiança aos portugueses. E para isso não basta ser sério, é preciso parecê-lo.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Harry Potter e a bandeira arco-íris.


Há duas semanas, perante o entusiasmo de alguns conservadores nacionais com o apoio dos torys ingleses ao mês do orgulho gay, escrevi um artigo onde tentava demonstrar que apoiar os movimentos LGBT não é apoiar a luta pela igual dignidade, mas sim uma tentativa de imposição de uma visão cultural. Uma pessoa, que estimo, respondeu-me que não era assim, que só os extremistas desses movimentos é que assim pensavam, mas que isso não correspondia à maioria do movimento LGBT.

Passando quinze dias chega-nos de Inglaterra outro exemplo claro de que a agenda LGBT já não se trata de uma luta por leis mas sim a imposição de uma visão sobre o Homem e a sociedade.

A famosa escritora J.K. Rowling, criadora do mundo de Harry Potter, ousou, diante de um artigo que falava em pessoas que menstruavam, afirmar que tais pessoas eram mulheres. Logo saltaram os novos educadores da classe para explicar a incauta escritoar que não eram só as mulheres que menstruavam, porque havia homens que também menstruavam e havia mulheres que não o faziam. Isto porque o género é uma construção social e logo uma mulher que se identifica como homem é um homem, vice-versa, para além daqueles que não se identificam com qualquer género. A autora respondeu que a partir do momento em que ser mulher deixava de ser uma questão física e passava para campo da construção social, então os direitos das mulheres ficavam esvaziados. Disse ter muito respeito pelos transexuais, mas que o sexo era definido pela biologia.

Desde então tem sido um festival de ataques à escritora. Quase todos os actores dos filmes de Harry Potter vieram denúncia a transfobia de JK Rowling. Os jornais em geral referem-se à polémica como reacções às declarações transfobicas da autora. Activistas por todo o mundo tem-se entretido a explicar a gravidade da afirmação que a biologia define o sexo de uma pessoa. De tudo o que fui lendo o que mais me impressionou foi a declaração de Ema Watson, de que um transexual é o que diz que é e ninguém deve questionar. Impressionou-me porque deixa bastante claro o despotismo do movimento LGBT: a realidade é que nós dizemos, e qualquer argumento (lógico, cientifico, moral, etc.) que conteste o nosso dogma é discurso de ódio. A realidade, a verdade, não existem (ou não interessam).

Vivemos em tempos perigosos, tempos em que afirmar que uma mulher é uma mulher, é discurso de ódio. A realidade deixou de importar. Vivemos na ditadura do relativismo, onde a verdade é imposta pela maioria, ou por grupos de pressão. E esta mentalidade vai-se lentamente infiltrando. Até chegarmos ao ponto em que aquilo que era evidente há dez anos hoje é um crime.

E assim se hão de queimar livros, censurar filmes, derrubar estátuas. Tudo em nome da liberdade, da igualdade, dos direitos. Tudo apoiado por moderados, que vêm nestes alerta apenas exageros ou teorias da conspiração e que desejam ardentemente ser inclusivos, para não se excluírem deste mundo novo.

O que me lembra que há uns anos, JK Rowling decidiu que uma das suas personagens, Albus Dumbledore era homossexual. Também ela quis participar nesse esforço de inclusão e de modernidade. Mas não foi suficiente, nunca é. O movimento LGBT, como todos os movimentos progressistas herdeiros da luta de classes, não se satisfaz com pequenas cedências. Ou se está completamente com eles ou se está condenado à fogueira da opinião pública.

Fica o alerta para aqueles que, na sua ambição de serem abertos e livres, acabam a apoiar movimentos totalitários. Há de chegar a hora onde terão que escolher entre a liberdade e os novos dogmas. Nesse dia, nem todas as bandeiras arco-íris de perfil lhes hão de valer.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

A Revolução devora os seus filhos.



Ao ler as descrições do derrube de estatuas, censura de filmes e demissões de jornalistas por causa do movimento Black Lives Matter, não consigo deixar de pensar na Revolução Francesa. Também nessa altura para começar uma nova civilização, livre do obscurantismo católico e da tirania dos reis se queimaram bibliotecas, destrui-se o panteão real, lançado as velhas ossadas reais para valas comuns, vandalizaram-se Igrejas e monumentos. Na ânsia de um novo mundo mudou-se o nome dos meses e os anos passaram a ser contados desde da revolução.
Eevidentemente que para alcançar este mundo novo era preciso combater todos os que ainda viviam agarrados ao antigo. Perseguiram-se padres, nobres ou simples inimigos da revolução. A Vendeia foi arrasada a ferro e fogo. O rei foi morto.

E contudo, a revolução acabou no Império, que acabou na restauração. Luís XVIII foi rei no lugar que antes fora de seu irmão. Pelo meio tinham ficado milhões de mortos e uma França que nunca mais voltaria a ser a grande potência europeia.

A revolução foi paga, idealizada, dirigida não pela populaça oprimida, mas por nobres, clérigos e intelectuais. Foram eles que soltaram o monstro, para já não o conseguirem apanhar. Muitos deles acabariam mortos e exilados.

O mais importante apoiante e patrocinador da revolução foi o Duque de Orleães, primo do rei. Sonhava ser rei. Aderiu entusiasticamente à revolução, em todos os seus caprichos. Votou a morte do rei, mudou o nome para Filipe Egalite, certo de que o povo revolucionário haveria de reconhecer que ele não era como os seus primos.

Nenhuma das humilhações a que se submeteu lhe valeram. Acabou também ele guilhotinado.

Não consigo deixar de pensar no Duque de Orleães quando vejo tantos poderosos dispostos a patrocinar e aderir ao movimento revisionista que procura retratar a história europeia como uma longa opressão. Penso em todos aquele que justificam e até incentivam actos bárbaros de destruição da nossa cultura. Em todos os que aderem à nova censura em nome de uma suposta pureza histórica. Pergunto-me quantos deles terão o mesmo fim de Filipe Egalite: serem devorados pela revolução que criaram. 

quinta-feira, 4 de junho de 2020

A nova guerra das trincheiras


O que mais me impressiona na sociedade contemporânea é ver como a mentalidade de trincheira vive cada vez mais profundamente enraizada. Ou seja, a mentalidade de que estamos numa guerra, dentro das trincheiras estão os bons, lá fora os maus. E tudo aquilo que o que estão supostamente do nosso lado da trincheira fazem é bom, justificável, ou em último caso aceitável porque estamos em guerra e tudo o que os de fora fazem é mau.

Cada vez mais na discussão pública os factos em si mesmo parecem importar pouco para o juízo que se faz deles. Mais importante que os factos é quem os pratica. E isto não se aplica apenas a um “grupo” ou a um “lado”. É cada vez mais geral.

Exemplos não faltam. Basta ver como as mesmas pessoas que apoiaram com toda a força tudo o que foi feito pelos coletes amarelos em França, agora condenam veemente o que se está a passar nos Estados Unidos. Por outro lado, aqueles que durante meses descreveram os coletes amarelos como fascistas, agora recorrem a todo o tipo de contorcionismo para explicar que o vandalismo, os roubos e a violência nas ruas americanas são simples protestos. Ou ver como aqueles que condenam o governo Espanhol pela sua irresponsabilidade no 8 de Março tentam justificar todas as acções de Bolsonaro. Ou como os que acusam Bolsonaro de tentar interferir na justiça, ignoram o facto do governo Espanhol ter demitido o responsável da Guarda Civil que estava a investigar a responsabilidade do dito governo no 8 de Março.

Dentro desta mentalidade o máximo que alguém está disposto a admitir é que o “seu” fez um erro, mas logo justifica com um suposto erro de alguém do outro lado: o Trump fez aquilo mas o Obama fez aqueloutro, o Sanchez fez assim mas o Abascal fez assado. Chegamos ao cúmulo de ser impossível falar de regimes totalitários sem ter que condenar todos, para não ser acusado de estar a apoiar um lado da barricada: é verdade o Hitler matou judeus, mas o Estaline matou ucranianos, o Castro fuzilou os adversários, mas o Pinochet também!

Esta mentalidade de trincheira é absolutamente destrutiva. Destrutiva porque acaba por subjugar a realidade à ideologia. Aquilo que era um meio para um fim (uma doutrina para alcançar o bem comum) torna-se num fim em si mesmo. E a imposição dessa ideologia tudo justifica, até a violação dessa doutrina. E destrutiva porque desumaniza o outro, torna-o num inimigo. A mentalidade de trincheira não contempla que aquele que discorda de mim também procura o bem comum, simplesmente acha que o caminho é outro. A partir do momento em que a ideologia é tudo o que interessa então quem não está connosco é do mal!

E assim temos a política reduzida a trincheiras que vão despejando todas o armamentos que possuem sobre o adversário. O resultado? Terra queimada, destruída, vazia. A impossibilidade de construir o quer que seja, até o inimigo estar completamente derrotada e destroçado.

Mas a história ensina-nos qual o preço a pagar por essa vitória total contra o inimigo da trincheira adversária. A Europa e os Estados Unidos ensinaram essa lição ao mundo, a um elevado preço, no fim da Iª Grande Guerra, quando os aliados destruíram o Império Austríaco e a Alemanha, humilhando assim os seus adversários e impondo-lhes a sua vontade. Da humilhação germânica nasceu o nacional-socialismo e uma nova destruição da Europa. E nos escombros da Rússia Imperial nasceu um monstro que havia de assolar a Europa e o mundo o resto do século.

E como foi possível reconstruir um continente, ou a parte dele que ainda era livre, após duas guerras devastadoras, uma crise económica sem precedentes e uma pandemia devastadora? Quando dois países que tinham lutado mortalmente poucos anos antes, decidiram pôr em comum a produção principal da guerra: o carvão e o aço. Foi a decisão da França e da Alemanha, de colocar de lado uma inimizade e desconfiança milenar, e de criar uma comunidade de nações, que possibilitou não apenas reconstrução da Europa ocidental, mas também lhe garantiu um dos maiores períodos de paz da História. Foi a primeira vez na história da Europa onde a paz não foi construída pela força, mas pela boa vontade entre nações.

Hoje temos a possibilidade de escolher que caminho que queremos seguir. Podemos insistir na mentalidade de trincheira, fazendo com que a política fique sempre mais polarizada, entregue a extremistas, incapaz de construir. Ou então podemos arriscar olhar para o outro como um bem, como alguém que me pode ajudar a construir algo de bom para a sociedade. Evidentemente que este caminho tem uma grande dificuldade: não depende apenas de mim, depende sempre da liberdade do outro, mas é o único que permite de facto construir algo.

Não se trata de ceder princípios, ou de ser relativista. Não se trata de ceder a verdade. Trata-se apenas de mudar o nosso olhar sobre o outro. De tentar encontrar no outro nem que seja um vislumbre de terreno comum sobre o qual se possa construir. Não é um caminho fácil, mas parece-me a única alternativa à destruição que as trincheiras provocam.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Os Conservadores, o movimento LGBT e o duplopensar.



Tenho visto por aí algumas pessoas de direita muito contentes por o partido Conservador inglês ter decidido juntar-se aos festejos do mês do orgulho homossexual. Este contentamento vem acompanhado de muitos conselhos para que a direita portuguesa, sobretudo o CDS, lhe siga o exemplo.

Segundo estes arautos da nova direita, esta seria uma posição que respeita a liberdade pessoal e a igualdade. Há, contudo, um pequeno problema. É que esta posição, aparentemente liberal e humanista, ignora uma primeira premissa.

Para que a agenda LGBT seja de facto uma questão de liberdade pessoal e dignidade, primeiro há que reduzir a pessoa à sua sexualidade. É preciso que a intimidade de cada um seja identificativo de quem ela é. Já não se trata de A ou B, com a sua história pessoal, com a sua vivência própria da sua intimidade, passa a ser parte de uma entidade abstrata que são os homossexuais. É a aplicação da tese clássica do marxismo, da guerra de classes, a todo uma nova panóplia de grupos e sub-grupos.

Isso é claríssimo naquilo que foram as duas grandes conquistas do movimento LGBT na última década: o casamento e a adopção por pessoas do mesmo sexo. O que estava realmente em discussão nestes casos não era a sexualidade de cada um. Porque para o Estado a vida íntima de cada um não releva. O Estado não legisla afectos, não legisla a olhar pelo buraco de fechadura. O ponto era saber se o Estado devia regular a relação entre duas pessoas do mesmo sexo, no caso do casamento, e se duas pessoas do mesmo sexo poderiam adoptar uma criança.

Não estava em causa a igualdade ou a liberdade pessoal. Pelo contrário, estava em causa impor a visão de uma sociedade onde a sexualidade é um factor de diferenciação. Trata-se de impor, através do Estado, uma visão da sociedade onde a pessoa é definida pela sua sexualidade. Vejamos o exemplo da adopção: antes dois homens nunca podiam adoptar. Agora dois homossexuais podem adoptar, mas dois irmãos não podem. Antes a diferença era ser preciso pai e mãe para a criança, agora a diferença é a relação que tem com o outro adoptante.

Por isso nunca percebi aqueles que tanto se opõem ao Estado, sobretudo os Liberais, e depois defendem que o Estado possa interferir e regular a vida íntima dos cidadãos.

Mas mais grave do que isso é perceber o que significa este apoio à causa LGBT hoje. Hoje quando a questão do casamento e da adopção está encerrada. Hoje quando já existe legislação abundante contra qualquer forma de discriminação. Qual é agenda que este movimento defende hoje? A educação! Dos adultos e das crianças.

Para o movimento LGBT não é suficiente que o Estado tenha adotado a sua visão da organização social, é preciso que todos concordem com essa visão. Não basta que exista o casamento entre pessoas do mesmo, é preciso que ninguém se atreva a discordar dele. A lei não é suficiente, querem também a hegemonia cultural. E isso faz-se através da repressão do adultos e da doutrinação das crianças.

A repressão dos adultos usa como instrumento os crimes de ódio. Ou seja, censura e criminaliza opiniões. E não falo de insultos e de bullying. Falo de opiniões como esta que escrevo. Ou de outras opiniões com as quais não concordo, mas que não me passaria pela cabeça censurar.

Mas mais grave é querer impor essa visão da sociedade às crianças. É retirar aos pais a liberdade de educar os seus filhos. Não se trata simplesmente de ensinar a aceitar e a respeitar a diferença, trata-se de incutir nas crianças uma visão social, cultural, moral, independentemente da vontade dos pais. Para o movimento LGBT eu não tenho o direito de ensinar ao meu filho a visão cristã da sexualidade. Ou seja, não posso ensinar que a sexualidade é para ser vivida dentro do matrimónio entre homem e mulher.

Aquilo que o partido Conservador hoje apoia, assim como os seus seguidores em Portugal, é que o Estado tenha o direito (e mesmo o dever) de impor a visão dos movimentos LGBT sobre a sexualidade a todas as crianças.

É sempre grave ver que há quem defenda que o Estado tem o dever de impor uma visão ideológica à sociedade. Que deva operar engenharia social através da lei e da educação. Mas pior é que haja quem o defenda em nome da liberdade. Orwell estaria orgulhoso.