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sexta-feira, 21 de junho de 2024

Dez anos depois


Hoje há uma ideia e que um grande amor pressupõe aventura, suspense e drama. Gestos grandiosos que em geral se traduzem em férias em sítios paradisíacos, com direito a fotografias melosas nas redes sociais (e para os famosos, as revistas). Em geral o romance consiste em trocar a companheira por um modelo mais novo e menos tocada pelo tempo ou o companheiro por outro com mais sucesso e menos pneus.

Confesso que esta ideia me atrai muito pouco. Nada há nada de extraordinário num amor que consiste numa constante satisfação de sensações e que se perde no sentimentalismo de um instante fugaz. Um amor que dura enquanto entretém, mas que se desfaz na monotonia do quotidiano.
A mim interessa-me muito mais o amor constante, construído no dia-a-dia. O amor de quem se doa ao outro, o amor que dá frutos através dos filhos, o amor que se manifesta não em selfies em praias desertas, mas em apanhar meias do chão.
Tenho a graça de na minha vida ter vivido coisas grandiosas. Liderei manifestações, participei em debates, liderei equipas, escrevi artigos, executei campanhas políticas, até acabei em segundo lugar um congresso do meu partido! Mas nada me comove mais que voltar a casa, para junto da minha mulher e dos meus filhos.
Com certeza que manter a linha perfeita e fazer declarações de amor no Instagram é muito romântico, mas confesso que prefiro aquela que me instiga dar o meu tempo a defender aquilo em que acredito, mesmo que isso signifique que ela vai ficar sozinha com os miúdos mais tempo, ou que não me deixa calar, mesmo quando aquilo que digo ou escrevo tem um custo no orçamento da família.
Já sei que hoje não se pode dizer isto sobre uma mulher, porque é reforçar estereótipos de género, que esta minha ideia é uma forma do patriarcado oprimir a mulher. Mas a verdade é que a minha mulher é muito mais livre do que todas as mulheres empoderadas que vejo por aí. Uma extraordinária educadora de infância, uma amiga sempre preocupada com os seus amigos, uma mãe extremosa (nem sei se ainda se pode usar esta expressão) e sobretudo, pelo menos no que a mim me toca, uma maravilhosa companheira de naufrágio, para parafrasear Tolkien.
Passaram-se já dez anos, de uma penada. E muito aconteceu nestes dez anos, incluindo uma certa dose de sofrimento (e muitíssimas alegrias). E ela esteve sempre lá, ao meu lado, à minha espera, a cuidar de mim. Para os próximos dez (e vinte, e trinta, e quarenta e os todos os que Deus nos conceder), não peço nada de incrível, pelo contrário. Peço esta coisa banal, que é o quotidiano vivido ao lado dela. Porque isso sim, é um algo extraordinário.

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