Antes de mais, não tenho qualquer simpatia por Mário Machado e a sua retirada da sociedade parece-me bastante favorável.
We few, we happy few, we band of brothers; For he today that sheds his blood with me Shall be my brother
terça-feira, 10 de dezembro de 2024
A condenação de Mário Machado
domingo, 8 de dezembro de 2024
Eu hei de me ir ao presépio
ira saída de uma aldeia portuguesa do meio do século passado e o seu castelo medieval, recorda-nos que o Natal aconteceu no tempo e ao, mesmo tempo, na Eternidade. Ao mesmo tempo carnal e sobrenatural.
terça-feira, 22 de outubro de 2024
Eu só quero educar os meus filhos
Eu só quero ensinar aos meus filhos que somos criados à imagem e semelhança de Deus. Que homem e mulher os criou e que não existe um género diferente do sexo. Os papéis de género, como hoje pomposamente são chamados, são resultados da biologia e das circunstâncias históricas. E se alguns podem mudar e evoluir conforme as circunstâncias vão mudando, há outros que são inatos à natureza humana.
Eu só quero educar os meus rapazes a respeitarem as raparigas, a carregar os pesos, a dar prioridades nas portas e os lugares sentados. Quero que aprendam que objetivar uma mulher não é ser homem, é ser selvagem. Educar para que tenham a coragem de defender as mulheres dos selvagens que as tratam como objetos.
Eu só quero educar a minha filha para o facto de que o mundo é um lugar mais perigoso para as mulheres do que para os homens. Quero educá-la a ser prudente, porque infelizmente há demasiados homens em quem não se pode confiar. Quero educá-la que não há nada de empoderamento em exibir o corpo para impressionar os homens, e que não há qualquer mal em ser considerada púdica.
Quero educar os meus filhos, os rapazes e a rapariga, para o valor do amor, da virgindade, da pureza. Educá-los a reconhecer o outro como pessoas e não como objeto de prazer, e o seu próprio corpo como morada o Espírito Santo. Quero educá-los para a beleza da sexualidade, vivida de forma responsável, realmente livre, como aliança entre homem e mulher. Quero que saibam que a liberdade não é ser escravo do instinto, mas viver de acordo com a nossa natureza.
Eu só quero educar os meus filhos para a dignidade da vida humana, desde o momento da concepção até à morte natural. Ensinar-lhes que cada pessoa, independentemente do seu tamanho, da forma como vive, da forma como ama, como se identifica, da cor da pele, da filiação política, da sua saúde ou capacidades, tem em si mesmo um valor infinito. E que por isso deve ser amada e respeitada. Ensinar-lhes por isso que o aborto é um mal, que o racismo é um mal, que tratar mal o outro por ser diferente é um mal. Mas também ensinar que não há amor sem verdade.
Eu só quero educar os meus filhos naquilo em que acredito, porque desejo o melhor para eles. Depois, bem sei que com o tempo eles irão desenvolver as suas ideias, e poderão até não concordar comigo. E continuarei a amá-los de igual forma se assim for. Mas também sei que é meu dever dar-lhes o que tenho de melhor. E a minha Fé é o que tenho de melhor para lhes dar.
Respeito quem não concorda comigo. Quem deseja educar os filhos de outra maneira. Quem acredita que há tantos géneros como vontades ou que a verdadeira liberdade é viver ao sabor dos nossos instintos. E não tenho qualquer vontade de educar os seus filhos. Eu só quero é que me deixem educar os meus.
E é isto que está em causa na discussão sobre a Educação para a Cidadania. É a liberdade de cada um educar os seus filhos da forma que acredita ser melhor para eles.
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
A coragem da paz
Há um ano a esta parte agudizou-se a sensação de que era preciso estar com Israel ou com a Palestina. Criou-se um ambiente onde parece que não é possível condenar os actos bárbaros do Hamas em 7 de Outubro e ao mesmo tempo condenar a forma como Israel tem respondido a esses ataques.
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
Faltam Imigrantes e falta controlo
terça-feira, 24 de setembro de 2024
5 Mitos Sobre A Escola
O começo do ano escolar é sempre boa altura para lembrar
alguns dos mais famosos mitos sobre a escola em Portugal, que apesar de todas
as evidências, continuam a existir.
1. A Escola Pública é do Estado: Este é talvez o
maior e mais arreigado mito sobre a Escola em Portugal. Vivemos num país tão centrado
no Estado que não somos capazes de conceber que alguma instituição possa ser
pública se não for do Estado.
Mas é evidente que uma escola cujo fim é educar crianças
está a prestar um serviço público, seja ou não do Estado. Uma Escola que
pertence a uma paróquia ou uma fundação é tão pública como uma que pertence ao
Estado. O facto de a Rede de Expressos pertencer ao privado, não faz que
tratemos as suas camionetas como transportes privados. Ou os táxis.
A divisão não é entre escola pública e escola privada, mas
entre escola estatal e escola não estatal.
2. A Escola tem de ser neutra: Educar nunca é neutro.
Um professor parte sempre da sua circunstância para ensinar os alunos. Os
professores não são robots. É evidente que a Escola deve ser um espaço de
liberdade, mas nunca poderá ser neutra, se assim for, não educa.
Quando eu escolho este poeta ou aquele filósofo, quando atribuo
mais peso a um acontecimento histórico que outro, quando aposto mais nas artes
ou nas ciências, nada disto é neutro, tudo isto é fruto de uma forma de olhar o
mundo, que provavelmente será diferente da do outro.
3. A Escola só ensina, quem educa é a família: Este
mantra é muitas vezes repetido por quem defende a liberdade de educação, mas é
falso. É evidente que a Escola educa e deve fazê-lo. A Escola tem como fim
ajudar as famílias na educação dos seus filhos.
É impossível educar os filhos sozinho. Os pais precisam de
ajuda nesta missão. E o direito que têm de educar os seus filhos, é um direito
funcional, ou seja, um direito que tem como fim exercer um dever, neste caso
educar os filhos. E para isso a escola é uma ajuda essencial.
Por isso, é importante que a família e a escola não vivam de
costa voltadas, mas em aliança, procurando o melhor para as crianças.
4. A liberdade de escolher a Escola é para beneficiar os
ricos: Este é o mito mais absurdo, porque os mais ricos são precisamente os
únicos que podem escolher a escola dos filhos em Portugal. Criar condições para
que todos o possam fazer beneficia precisamente aqueles que hoje são obrigados
a colocar os filhos na escola do seu código postal porque não têm dinheiro para
escolher outra escola.
Assim, as crianças dos bairros degradados vão para escolas
degradadas, as dos bairros com melhores condições para escolas mais bem
equipadas e os que têm dinheiro para isso, podem escolher. E assim temos uma
escola bem estratificada, onde ricos e pobres não se misturam e, sobretudo, os
que menos podem, estão condenados a ser servos da gleba do Ministério da
Educação.
5. A Escola pública garante a igualdade entre todos:
Este mito não é apenas falso, como é contrário à realidade. A escola estatal,
como hoje está concebida, centralizada, totalmente dependente do Ministério da
Educação, é o garante da desigualdade entre as crianças.
A igualdade é tratar o que é igual de forma igual e de forma
desigual o que é desigual, na medida dessa desigualdade. Ou seja, não é
igualdade tratar uma criança com dois pais licenciados, com acesso a
explicações, com acesso a cultura, a internet e com capacidade económica com uma
criança que os pais mal sabem ler, que mal têm dinheiro para comprar os
manuais, que nunca sai do seu bairro e que os pais saem de madrugada para
trabalhar e só voltam à noite, mal tendo dinheiro para comer. É evidente que estas crianças têm necessidades
educativas diferentes. Contudo, a Escola estatal, para ser igualitária, põe-nos
a concorrer em igualdade de circunstância. Depois ficamos muito espantados
quando numa escola todos vão para a Universidade e noutra não vai ninguém.
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Aborto até às 12 semanas? Alguns pontos
1. O Partido Socialista, depois de ter descoberto que era
urgente regulamentar a morte a pedido, mesmo não o tendo feito em 10 meses no
Governo, descobriu agora a urgência de alargar os prazos do aborto legal, ao
fim de 8 anos com maioria de esquerda no Parlamento, dois dos quais com maioria
absoluta.
Esta urgência, descoberta sempre quando já nada pode fazer,
demonstra bem a utilidade destas leis para os socialistas. Poucos lhes
interessa as grávidas em dificuldade ou os doentes, só lhes interessa marcar a
agenda política com temas que demonstrem o seu “progressismo”, que dividam a
direita e que lhes permita ocupar tempo de antena. As mulheres e os doentes são
apenas bandeiras para utilizar à conveniência do PS.
2. Não há diferença entre um aborto às 10 semanas e às 12
semanas, como agora o PS veio propor. O nascituro tem sempre igual dignidade,
pelo que não é que a lei actual seja boa ou equilibrada.
O problema é que alargar o prazo do aborto legal vem
aumentar o tempo em que é negado ao nascituro a sua dignidade de ser humano e
também aumentar a possibilidade de abortar.
Por isso se o aborto é igualmente mau às 10 ou às 12
semanas, uma lei que aumenta o prazo legal do aborto é sempre pior, porque
diminui ainda mais a protecção jurídico do bebé no ventre materno.
3. Em 2007, aquando do segundo referendo ao aborto legal que
o sim finalmente ganhou, todos os apoiantes da nova lei afirmavam com clareza
que ninguém era a favor do aborto, que o único objectivo era impedir as
mulheres de serem presas e que não se estava a liberalizar o aborto, apenas a descriminalizá-lo.
Hoje o Partido Socialista defende, apesar das juras de 2007,
que o aborto é um direito fundamental. Claro que ao mesmo tempo defende que o
aborto à 13ª semana de gravidez é um crime. Se assim não fosse não propunha
liberalizar até às 12 semanas, antes propunha a sua legalização até ao término
da gravidez. Uma coisa não pode ser um direito fundamental e um crime ao mesmo
tempo. A posição do PS é evidentemente incoerente
O objetivo é claro, repetir em voz alta vezes suficiente que
o aborto é um direito fundamental até que toda a gente repita o dogma, tratando
qualquer pessoa que se lhes oponha como um ditador. Tem feito o seu caminho.
4. Esta hipocrisia do
PS não pode deixar de levantar a pergunta: porquê 12 semanas? Como chegaram a
esta data? O que muda às 12 semanas que transforma um direito em um crime? A resposta
é simples: nada.
Um nascituro às 12 semanas é igual a um de 13. Não há
qualquer base científica para esta decisão. São 12 como podiam ser 13 ou 14
(provavelmente 14, porque, por alguma razão, são sempre um número par de semanas).
O critério para o prazo do aborto legal é sobretudo a
opinião pública. Já em 1997 foi assim. Quando a primeira proposta para
legalizar o aborto até às 12 semanas chumbou a JS (liderada por Sérgio Sousa Pinto)
baixou para as dez e passou (para depois ser chumbada em referendo). E a única
razão é que o prazo tem de ser um número que a população ache aceitável. Preferencialmente antes da data da primeira
ecografia, não vá alguém perceber que está ali um bebé.
5. Já foram feitos em Portugal mais de 256 mil abortos
legais. Para se ter ideia, o concelho do Porto tem 214 mil habitantes. Num país
onde não nascem bebés, onde as grávidas dão à luz na autoestrada, onde não há
creches, onde as famílias não têm dinheiro para ter filhos, alguém poderia achar
que a urgência não é aumentar o número de abortos mas sim diminuí-los.
Só que infelizmente combater as causas sociais do aborto,
apoiar as grávidas em dificuldade e defender medidas de apoio à família dão
menos tempo de antena do que aumentar os prazos do aborto. E por isso, para o
PS, que quer fazer o país esquecer o estado em que deixou o país, a solução é
mesmo criar condições para mais abortos.
6. Espero que a Direita que durante anos explicou que este
era um não assunto, incluindo os líderes partidários que se deixam fotografar a
rezar piedosamente para depois apoiarem a actual lei, percebam finalmente que o
aborto será sempre um assunto. A única questão é se é discutido como arma de
arremesso político ou como o drama que realmente é.
Da eutanásia e da falta de vergonha - Observador, 17/09
Em qualquer país civilizado, uma lei que teve o parecer contrário de todos os especialistas e foi chumbada duas vezes pelo Tribunal Constitucional estaria enterrada. PS, IL e Bloco acham-na urgente.
Levantou-se nos últimos dias um grande sururu de indignação, pelo facto de o Governo ainda não ter feito a regulação da lei da morte a pedido. Os suspeitos do costume, que há 20 anos se dedicam a ser a “sociedade civil” das causas fraturantes (suponho que até já haja um ficheiro com a sua assinatura digital para cada vez que se lembram de fazer uma carta aberta), vieram clamar pela regulamentação da lei.
A deputada Isabel Moreira e a agora eurodeputada Catarina Martins, à boleia deste clamor da “sociedade” (que no fundo são os seus companheiros de salão) desdobraram-se em declarações, a afirmar que era urgente regulamentar esta lei, que a lei tinha sido muito escrutinada e que o Tribunal Constitucional até já se tinha pronunciado sobre ela.
Confesso que fico sempre espantado pela falta de vergonha de alguma gente, que faz declarações públicas sem qualquer pudor, como se as pessoas não tivessem memória. Ao contrário do que Isabel Moreira pensa, as pessoas lembram-se de que esta lei foi aprovada em maio de 2023 e o PS foi governo até março de 2024. Ou seja, o PS teve mais de dez meses para fazer a regulamentação da lei, não o fez, e Isabel Moreira e seus amigos nunca sentiram qualquer urgência em exigir que o fizesse. Mas aquilo que durante dez meses não era urgente, passou a prioridade nacional em menos de seis meses de governo da AD.
Mas esta mudança de coração resume bem a posição do PS e do Bloco sobre a eutanásia desde o princípio: um paliativo para que o país ignorasse as dores da governação da esquerda. Isabel Moreira bem sabe que, enquanto discutimos a morte de quem sofre, não se fala da ausência de cuidados paliativos, das urgências fechadas, das cirurgias adiadas, enfim, não se fala do estado terminal em que o PS deixou o Sistema Nacional de Saúde. Para a esquerda, a morte a pedido sempre foi uma bandeira útil para distrair o país do caos da sua governação.
Mas a falta de vergonha não se fica por aí. Diz a deputada socialista e os seus amigos (que repetem sempre os mesmos mantras), que a lei já foi muito escrutinada e que as pessoas esperam por ela. Ora, é espantoso que agora se lembrem das pessoas, quando não só se recusaram sempre debater o tema em campanha eleitoral, como ainda rejeitaram o pedido de referendo assinado por mais de 95 mil pessoas (que por não serem notáveis, não mereceram da parte de Isabel Moreira, Catarina Martins e seus amigos, mais do que insultos). Mas pior ainda, é verdade que a lei foi escrutinada, já que foi apresentada mais de cinco vezes no Parlamento. Mas é preciso lembrar que o Partido Socialista, o Bloco e a IL recusaram os pedidos de audiência de várias associações (alegando que já tinham sido ouvida outras), mas sobretudo, que os pareceres obrigatórios das Ordens Profissionais e do CNECV foram sempre negativos. A lei foi escrutinada e rejeitada pelos especialistas.
Se eu apresentasse uma lei que teve a oposição das Ordens dos Médicos, dos Advogados, dos Enfermeiros, do CNECV, da Associação Nacional de Cuidados Paliativos, da esmagadora maioria dos catedráticos de Direito Público, de todos os Bastonários dos Médicos vivos, e de um enorme conjunto de associações e personalidades, teria um pouco de vergonha antes de falar em escrutínio. A lei foi escrutinada e os deputados rejeitaram esse escrutínio!
Mas a maior falta de vergonha é quando os apoiantes da eutanásia dizem, com ar sério, sem se rir, que o Tribunal Constitucional já se pronunciou duas vezes sobre o assunto. Esquecem-se é de acrescentar que das duas vezes o TC declarou a lei inconstitucional! O que aliás explica que os “notáveis” não queiram agora voltar a esperar pelo TC.
Desde o princípio deste processo que fica claro que estamos diante de um acto de despotismo de alguns deputados, que ignoram a vontade popular, os especialistas e até o próprio Tribunal Constitucional, para impor a sua vontade ao país. Em qualquer nação civilizada, uma lei que teve o parecer contrário de todos os especialistas e que foi chumbada duas vezes pelo Tribunal Constitucional, estaria enterrada. Em Portugal, pela birra do PS, do Bloco e da IL, é tratada como uma urgência.
É preciso de facto muito pouca-vergonha, sobretudo daqueles que têm ou tiveram responsabilidades governativas, para falar da urgência em regulamentar a morte assistida, quando mais de 75% dos que precisam de cuidados paliativos não têm acesso a eles, quando se morre à espera de cirurgias e tratamentos e quando os cuidadores continuam sem condições para cuidar.
Melhor faria Isabel Moreira se, em vez de vir usar a morte dos que sofrem como arma política, fizesse alguma coisa para garantir cuidados a quem sofre. Mas para isso era preciso que ganhasse alguma vergonha na cara.
sábado, 27 de julho de 2024
JO: Um culto a uma nova religião
sexta-feira, 21 de junho de 2024
Dez anos depois
Hoje há uma ideia e que um grande amor pressupõe aventura, suspense e drama. Gestos grandiosos que em geral se traduzem em férias em sítios paradisíacos, com direito a fotografias melosas nas redes sociais (e para os famosos, as revistas). Em geral o romance consiste em trocar a companheira por um modelo mais novo e menos tocada pelo tempo ou o companheiro por outro com mais sucesso e menos pneus.
quarta-feira, 5 de junho de 2024
Afinal o problema não era o retorno
sexta-feira, 17 de maio de 2024
O racismo é parvo mas não é crime
1. O Direito Penal é a ultima instância do Direito. Este ramo do Direito serve para salvaguardar direitos fundamentais que não podem ser salvaguardados de outra forma. Ou seja, só é crime, a ofensa a bens jurídicos importantes que não podem ser defendidos de outra forma. Por exemplo, cuspir na rua é ilícito mas não tem importância suficiente para ser crime.
2. O racismo, em si mesmo, não é crime. Se eu for na rua e mudar de passeio porque vejo uma pessoa de um etnia que não gosto ou se habitualmente der o lugar as senhoras no autocarro e não o fizer porque a senhora é de um determinada etnia, é moralmente e socialmente reprovável, mas não é crime. Nem sequer é crime se, numa conversa privada, eu fizer observações sobre certos povos.
Um comportamento para ser crime tem que violar um direito de um terceiro (ainda que em abstracto). Ser um selvagem não é algo que se recomende, mas não em si mesmo crime.
3. O racismo é crime quando, de alguma forma, ofende o direito fundamental de um terceiro e não houver outra forma de o defender. Por exemplo, se eu me cruzar no passeio com alguém de outra etnia e o mandar sair da frente porque não quero cruzar-me com pessoas dessa etnia, provavelmente estarei a incorrer num crime. Como será crime se defender publicamente que as pessoas de um determinada etnia devem ser tratadas de forma diferente pelo facto de serem dessa etnia. É crime porque em ambos os casos estou a atacar direitos fundamentais de terceiros.
4. Afirmar publicamente que um povo não gosta de trabalhar é crime? Dificilmente, porque dificilmente isso irá afectar os direitos de terceiros. Sim é insultuoso, mas os insultos em si mesmo não são abstratos. O Direito Penal não existe para punir todas as faltas sociais. Uma graça de mau gosto é isso mesmo, uma graça desagradável, não um crime.
5. O incidente de hoje com Ventura é uma estratégia da esquerda. Gritar racismo ou qualquer outros dos capitais capitais dos dias de hoje de cada vez que abre a boca, dizer que é um criminoso e anti-democrático, serve apenas para se exaltar a si próprios como defensores da Liberdade e da Democracia.
Infelizmente a banalização do racismo tem uma consequência prática: é que se tudo é racismo então nada é racismo. Se tudo é crime, nada é crime. É como na história do Pedro e do Lobo, em que o Pedro grita tantas vezes Lobo, que quando ele aparece, ninguém acredita. A esquerda está tão ocupada a rotular piadas de mau gosto como crime que quando aparecem casos de racismo de facto, já ninguém lhes liga.
6. José Pedro Aguiar Branco foi o único que esteve bem hoje no Parlamento. Não caiu na armadilha de Ventura, não caiu na armadilha da esquerda e assumiu o seu papel como Presidente da Assembleia da República, não como censor dos bons costumes. Já percebemos que esta legislatura vai ser fértil em escândalos demagógicos deste calibre, com o Chega e a esquerda a abusar da demagogia à procura de acirrar os seus guerreiros sociais. Caberá a Aguiar Branco não permitir que a Assembleia da República se transforme no campo de batalha que ambos os contendores procuram.
segunda-feira, 13 de maio de 2024
Fátima: uma história inverosímil
Fotografia Arlindo Homem no site da Agência Ecclesia.
Fátima é uma história muito inverosímil. Por que razão Nossa
Senhora, estando no Céu, podendo aparecer a quem quisesse, haveria de escolher
três crianças analfabetas, de um ermo esquecido, no país mais atrasado da Europa?
Não faria mais sentido aparecer a uma multidão ateia de Paris ou ao Rei protestante
de Inglaterra? Não seria mais eficaz?
Mas se olharmos com atenção, este é o método de Deus desde a
Sua Encarnação. Porque se parece pouco razoável aparecer a três crianças na Cova
da Iria, não parece mais compreensível encarnar num pedaço esquecido do Império
Romano (nem para província tinha estatuto) e escolher uma dúzia de populares, entre
os quais o mais letrado era o cobrador de impostos!
Mas este é o método que Deus usou para se revelar. De forma misteriosa
demonstra a Sua preferência revelando-se a um homem. Já assim era desde o tempo
em que escolheu Abrão em Ur ou Moisés no Egipto e escolheu David, e Elias e
todos outros profetas.
Por isso que Nossa Senhora tenha escolhido três crianças na
Cova da Iria para entregar a sua mensagem pode parecer pouco eficiente a
alguns, mas é simplesmente continuar a usar o método do Seu Filho.
E este método é um convite à liberdade de cada um. E é
comovente que o amor maternal da Virgem Maria seja tal, que mesmo tendo o Seu
Filho completado a revelação, a Sua Mãe se dê ao trabalho de vir até a um canto
remoto de Portugal para nos convidar a converter.
Leio por estes dias, diante do espetáculo de beleza que é o
povo na Cova da Iria no 13 de Maio, o habitual desfiar de disparates sobre
Fátima. E comove-me ainda mais pensar que Nossa Senhora, que conhece o coração
dos homens e por isso bem sabia que assim seria, mesmo assim amar de tal
maneira o mundo que se sujeitou a ser alvo de tantas blasfémias só para nos
salvar.
Fátima é sem dúvida inverosímil. Como Deus fazer-se carne no
estábulo é. A nós resta-nos agradecer este estrondoso mistério e fazer como
Nossa Senhora nos pediu.
segunda-feira, 22 de abril de 2024
CDS: Um pouco de humildade ficava bem
Aconteceu este fim-de-semana o congresso do CDS. Eu, por
motivos familiares, não consegui ir. Mas fui acompanhando os acontecimentos. E
confesso alguma preocupação com a soberba (que alias, preocupação que tenho
desde 10 de março).
A verdade é que o CDS entre 2015 e 2019 perdeu 13 deputados.
Também devemos lembrar que nesse mesmo ano, não conseguiu recuperar o seu
segundo eurodeputado, tendo como cabeça de lista o actual presidente.
Entre 2019 e 2022 o CDS viveu uma guerra civil, onde muitos
dos actuais dirigentes tiveram participação activa. Alguns dos que hoje apoiam
entusiasticamente o CDS chegaram a apelar ao voto noutros partidos em
2022. Isto num partido falido. O
resultado, com muita responsabilidade da direcção então no poder, mas também
daqueles que lutaram até ao fim para garantir o seu falhanço, foi que não conseguimos
eleger qualquer deputado.
Em 2024 o resultado das eleições deixou claro que o CDS não
cresceu eleitoralmente (as sondagens já o indicavam) e que a eleição de dois
deputados se deveu a coligação com o PSD. Coligação que Francisco Rodrigues dos
Santos tentou em 2022 e que foi abertamente criticada por muitos dos que hoje apoiam
a actual direcção e pelo próprio Nuno Melo.
Por isso, fingir que o que aconteceu nos últimos anos do CDS
foi um desastre de uma única direcção e que está ultrapassado devido ao génio do
actual presidente, não só é mentira, como é uma estratégia perigosa. Francisco
Rodrigues dos Santos não foi o causador dos problemas do CDS, mas também não os
conseguiu inverter. E Nuno Melo, também não, teve foi mais sorte e um partido mais
pacificado.
O CDS tem agora, com o regresso ao parlamento e a presença no
Governo uma segunda hipótese, que não fez por merecer, de renascer. Convém
aproveitá-la com humildade. Temos dois bons deputados, o que me alegra. Mas é
preciso fazer realmente prova de vida e não embandeirar em arco. Sobretudo, é preciso
que o CDS deixe de ser uma coutada pessoal, dos de sempre, que se abra
realmente e sobretudo, que volte a ocupar o seu lugar como o partido da Direita
Social, com propostas e medidas concretas de apoio às famílias, no reforço da sociedade
civil, no apoio aos mais frágeis, na defesa da liberdade, sobretudo na liberdade
de educação.
A soberba é sempre um pecado, mas a soberba sem ter razões
para isso é também um dos piores erros que se pode fazer em política.
sexta-feira, 12 de abril de 2024
Parem de importar guerras culturais!
Em 1997 o Partido Comunista propôs o aborto livre até às 12 semanas e foi chumbado. Ainda nesse ano, o Partido Socialista, pela mão do então presidente da JS, Sérgio Sousa Pinto, propôs a legalização do aborto até às 10 semanas. Para evitar a sua aprovação o então Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do PS, António Guterres, acordou com o presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro referendo da democracia. O referendo haveria de se realizar em Julho de 1998 e o resultado foi a vitória do “Não”.
Nos anos seguintes houve várias tentativas de legalizar o
aborto livre, até quem em 2006, com o regresso do PS ao poder, foi convocado
novo referendo, que se realizou em Fevereiro de 2007 e onde o “Sim” ganhou.
Desde então, foi legalizada a procriação artificial, o casamento
entre pessoas do mesmo sexo, foi proposta e chumbada a co-adopção por pessoas
do mesmo sexo, foi aprovada a adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada,
chumbada pelo Tribunal Constitucional e novamente aprovada as barrigas de aluguer,
foi aprovada a Lei da Identidade de Género, foi votada seis vezes a legalização
da eutanásia (chumbada no Parlamento, chumbada pelo Tribunal Constitucional,
vetada pelo Presidente da República, chumbada pelo Tribunal Constitucional,
vetada pelo Presidente da República e finalmente aprovada e promulgada), foi
proposto o aumento dos prazos do aborto.. Nestes anos foi introduzida a educação
sexual obrigatória nas escolas, criada a disciplina de Educação para a
Cidadania posteriormente tornada obrigatória, foram criados os Referenciais
para a disciplina, que incluem a defesa do aborto e da ideologia de género.
Ou seja, nos último 17 anos quase todos os anos foram propostas
leis ditas fraturantes, quase sempre pelos mesmo deputados e defendidas pelos
mesmos protagonistas. Não houve legislatura (e quase não houve ano) em que
estes temas não tenham sido colocados na agenda política por essas pessoas.
Por isso é especialmente irritante ouvir comentadores, em
geral idiotas úteis de direita, a explicar que são os “conservadores” que estão
a importar “guerras culturais”. Eu passei boa parte da minha adolescência e
vida adulta a lutar sobre estes temas e, como dizem os miúdos, nunca fui eu que
comecei. Eu não tenho qualquer interesse nesta agenda, foi a esquerda progressista
(agora adoptada pela IL) que decidiu importar estas causas para Portugal, nós
limitamo-nos a opor-nos.
Por isso, se os senhores comentadores acham que estes temas
não têm interesse, se consideram que desvia o foco dos assuntos fundamentais (e
eu concordo) têm uma boa solução, a próxima vez que encontrarem a Isabel Moreira
no Lux, ou se cruzarem com a Teresa Violante num estúdio, peçam-lhes que parem
de importar guerras culturais. Nós agradecemos. Assim podemos começar a tratar dos
assuntos realmente importantes como a pobreza, a saúde a educação e tudo aquilo
que o PS prefere não tratar para se dedicar antes à causa woke.
E já agora aproveito para falar do progresso de que falam
tanto, para defender a morte de crianças como direito fundamental. Eu percebo o
glamour de estar a par das modas do estrangeiro, porque se no Eça a cultura vinha
de Paris em caixotes, hoje vem dos Estados Unidos (mas continua a ficar-nos curta
nas mangas). Mas eu tenho um enorme problema com este progresso: cheira a mofo!
Este progresso tem o cheiro dos fornos onde os cartagineses sacrificavam bebés
aos deuses, lembra o extermínio dos fracos e incapazes de Esparta, um déjà vu
aos eunucos da Pérsia antiga. Este progresso tem o cheiro putrefacto de um
cadáver com milhares de anos, vestido com roupas modernas para ser admirado por
aqueles que desejam tanto parecer modernos que não percebem que retrocederam dois
mil anos. Pessoalmente, eu prefiro continuar com o humanismo cristão, aquele
que garante a infinita dignidade de cada ser humano. Pode não ser progressista,
mas tem a enorme vantagem de ser verdade.
quinta-feira, 11 de abril de 2024
Debater o aborto: quanto vale o embrião?
Nos últimos tempos voltou ao debate público a questão do aborto. É possível notar uma mudança profunda neste debate. Se em 2007 o centro do debate era o valor da vida intra-uterina, neste momento esse assunto é completamente ignorado, sendo o aborto apresentado como se fosse uma mera questão de saúde feminina. Isso nota-se aliás na linguagem, quando se fala em direitos sexuais e reprodutivos.
terça-feira, 9 de abril de 2024
Henrique, o gajo de Alfama
De há uns anos a esta parte que Henrique Raposo chamou a si a tarefa
de ser um verdadeiro intérprete da tradição da Igreja, o garante da pureza evangélica
e o guardião da fé. Por isso de vez em vez brinda-nos com um artigo onde
denuncia uns quaisquer hereges que, ao contrário de si, sempre cheio de
caridade, são responsáveis por uma quantidade de malefícios para o mundo e para
a Igreja.
O problema é que se é verdade que Henrique Raposo escreve
com toda a arrogância de um Doutor, os seus argumentos em geral estão ao nível
do gajo de Alfama. Henrique Raposo tem certezas sobre todos os assuntos,
sobretudo aqueles sobre os quais nunca estudou ou trabalhou. E exibe a
sua ignorância nos jornais com a mesma arrogância de um bêbado na tasca do
bairro.
Entre as pérolas com que já nos brindou, está um artigo onde
explicava que um aborto em caso de violência era uma questão de legítima defesa
(demonstrando que nem se deu ao trabalho de ler a definição de legítima defesa
do Código Penal), um artigo onde se propunha a corrigir Santo Agostinho e repetidas
proclamações de que um nacionalista não pode ser católico, deixando assim claro
que nunca pousou os olhos na obras do Padre António Vieira ou na poesia de
Peguy.
Raposo é em tudo igual ao gajo de Alfama: não estuda, não
lê, mas tem opiniões sobre tudo, convencido da sua genialidade, incompreendido
pelo mundo, mas tudo julgando com rigor a partir do seu pequeno mundo. Só lhe
falta o lugar na mesa da tasca e a tacinha de tinto.
Nestes dias o gajo de Alfama alçado a cronista decidiu
escrever um artigo onde, a propósito do livro Família e Identidade, insulta
todos os que defendem a Vida e a Família. Não tenciono responder ao artigo, é
um conjunto de insultos, com afirmações categóricas sem qualquer referência, e
conclusões ideológicas, quando por exemplo explica que ao não falar do
motherhood gap os autores do livro contribuíram para o crescimento da direita
populista e machista (aparentemente ele explicar a Manuela Eanes ou a Isabel
Galriça Neto sobre com o que as mulheres se devem preocupar não é machismo). Mas fico
impressionado que um homem adulto não perceba a figura ridícula que faz quando
insulta um conjunto de personalidades com obra académica, profissional, social
e política extraordinária sem pelo menos se dar ao trabalho de estudar os temas
ou ler o que eles escrevem. Não terá Henrique Raposo sentido do ridículo? Não
percebe o quão absurdo é um homem cuja única obra conhecida é escrever artigos medíocres, explicar a Manuela Eanes que ela não se preocupa com a vida das crianças em
concreto? Ou a Dom Manuel Clemente a doutrina da Igreja? Ou em acusar Guilherme
de Oliveira Martins de contribuir para o crescimento da direita populista?
Os autores do livro não precisam de defesa, a sua obra fala por si. Mas Henrique Raposo precisa de um amigo daqueles que, vendo o gajo de Alfama completamente bêbado a fazer figura ridículas na tasca, o leva discretamente para casa.
P.S.: O gajo de Alfama não é uma referência aos moradores do bairro lisboeta, mas à famosa personagem do Ricardo Araújo Pereira.