Sempre ouvi atribuída a Gambetta a ideia de que a escola pública não
serve para ensinar a ler e a escrever mas para formar bons republicanos.
Esta ideia, da escola do Estado que serve para doutrinar crianças, é
uma ideia cara à esquerda em Portugal desde a Iª República.
Para a esquerda não basta instruir as crianças, assim fora e não
havia qualquer problema em integrar o ensino privado na rede pública de
educação. Uma escola com contrato de associação serve perfeitamente a
finalidade de ensinar as crianças. Mas é necessário construir a escola
do Estado (ainda que signifique mais despesa e pior oferta) porque só
esta realmente pode formar cidadãos de acordo com os padrões da
esquerda.
Não há prova maior do desejo de usar a escola pública
para doutrinar as crianças que a disciplina de Educação para a
Cidadania. Esta disciplina, obrigatória no ensino básico (mas que começa
como matéria transversal logo no pré-escolar), não se limita a ensinar
os princípios básicos da cidadania, como o Hino Nacional, a bandeira ou
os nossos hábitos e tradições (aliás, tanto quanto percebi, nada disto
consta no programa da dita disciplina). A disciplina de Cidadania serve
para instruir as crianças no credo moderno do que é um bom cidadão. E
por isso, entre outras coisas, lá se ensina toda a doutrina da Ideologia
de Género e mais uns pós de Educação Sexual.
E neste campo pouco
interessa a vontade dos pais. Se os pais não concordam que crianças com
menos de 10 anos devam ser expostas às questões da sexualidade nada
podem fazer. Que isto de educar as crianças em assuntos da sua
intimidade não pode ser confiado aos irresponsáveis dos pais. O
Ministério da Educação chama por isso a si essa grande tarefa educativa
que é ensinar a crianças do pré-escolar que o género é uma construção
social, ou as crianças da primária que tem um corpo sexuado, ou mesmo a
crianças de 10 e 11 anos quais são os métodos contraceptivos! Todos
estes temas, e muitos mais, saem assim do controlo dos pais e passam a
estar no controlo dos professores que podem decidir, de acordo com os
referenciais do Ministério, como educar as crianças.
O problema é
que há pais que são da opinião que não deve ser a escola a educar os
filhos, mas sim eles próprios. Pais que acreditam nesse direito/dever
Constitucional que lhes assiste de educarem os filhos conforme o que
acreditam ser melhor para eles. Pais esses que não concordam com a visão
da Direcção Geral de Educação sobre a sexualidade, pais que não
acreditam na Ideologia de Género e que reclamam o direito de não verem
os seus filhos doutrinados nas escolas.
Foi isso que aconteceu
numa escola do Barreiro, onde no âmbito da dita disciplina, os
professores decidiram fazer uma “visita de estudo” para alunos de 10 e
11 anos que consistia na vinda à escola de dois activistas de uma
associação LGBT. Para ajudar nos custos da dita “visita de estudo” a
escola pedia a cada aluno que pagasse 0,50€.
Evidentemente muitos
pais revoltaram-se com a situação e denunciaram publicamente aquilo que
não era nada mais do que uma acção de propaganda de dois activistas de
uma causa política. Imagine-se que os pais eram da opinião que,
contrariando a sabedoria do Ministério da Educação, o tema não era
apropriado para os seus filhos.
A situação tornou-se pública e
mereceu a reacção de dois deputados do PSD. Um deles, Bruno Vitorino,
foi especialmente veemente na sua condenação. O deputado descreveu a
doutrinação das crianças na escola como “uma porcaria” e pediu para
deixarem as crianças ser crianças.
Evidentemente que a reacção de
Bruno Vitorino mereceu logo dura condenação da esquerda, com direito a
queixa à CIG por parte do Bloco. Aparentemente um deputado defender que
as crianças não devem ser doutrinadas na escola é uma violação dos seus
deveres.
Mais uma vez a esquerda demonstra bem a sua visão da
escola pública: o local onde as crianças são educadas segundo os cânones
da esquerda, sem direito a qualquer intervenção dos pais. Quem discorda
deve ser sancionado para aprender que não se pode pôr em causa os
dogmas contemporâneos.
Este caso é apenas mais uma evidência de
que é urgente travar a batalha pela liberdade de educação. É urgente
alterar o paradigma actual, de um Estado que é dono das crianças e que
se arroga do direito de as formatar de acordo com as crenças de quem o
dirige, ao arrepio da vontade dos pais. De um Estado que chama a si o
direito de punir aqueles que pensam de maneira diferente do credo da 5
de Outubro.
A liberdade de educação, ou seja, mais autonomia para
as escolas, mais liberdade de escolha para os pais, mais envolvimento
das comunidades locais, é a luta pelo direito constitucional a educar os
filhos. Não é uma luta de ricos, ou de conservadores, ou de católicos,
mas de todos os que defendem a liberdade das famílias, sobretudo das
crianças, a não serem submetidos à doutrinação ideológica daqueles que
acham que a escola serve para formar bons republicanos.
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