1
– Em Maio de 2017, após perder poder na Assembleia Nacional, Nicolas Maduro fez
eleger uma Assembleia Constituinte com o único fim de retirar poder aos
deputados e fortalecer os seus próprios poderes. Essa Constituinte não tinha
qualquer justificação, a sua eleição foi boicotada pela oposição e não foi
reconhecida pela maioria da comunidade internacional. Foi essa Assembleia,
ilegítima, que marcou as eleições presidenciais de 2018. Essas eleições, mais
uma vez, foram boicotadas pela oposição e não foram reconhecidas pela
comunidade internacional, uma vez que a Constituinte não tinha legitimidade.
Maduro,
indiferente a estes pormenores da legalidade, como já se tinha demonstrado
indiferente ao pormenor do povo a morrer de fome, usurpou assim pela força a
presidência da Venezuela. A Assembleia Nacional, único órgão legitimamente
eleito, recusou-se aceitar a usurpação e, cumprindo a Constituição aprovada no
tempo de Hugo Chavez, proclamou o seu presidente como Presidente Interino.
Na
Venezuela não houve qualquer golpe de estado quando Juan Guiadó reclamou a
presidência. Houve sim quando Maduro se fez eleger pela força presidente.
Guaidó limitou-se a repor a normalidade constitucional.
Se
durante anos, mesmo perante o desastre humanitário a que Chavez conduziu a
Venezuela, mesmo diante das prisões políticas, mesmo com toda as evidências de
que Nicola Maduro governava como um ditador, era possível a argumentação
jurídica formal de que ele era o presidente legítimo da Venezuela, a verdade é
que essa desculpa acabou em Dezembro de 2019. Maduro ocupa ilegalmente a
presidência e usa o seu poder despoticamente para manter os seus privilégios e
os dos seus comparsas a quem recompensa regiamente.
Acabaram-se
assim as desculpas para os partidos que têm pretensões democráticas. A escolha
agora, quer de facto quer formal, é entre um ditador e o presidente constitucionalmente legítimo da
Venezuela. Quem apoia Maduro, ou quem se mantém neutro demonstra que a
ideologia fala mais alto do que a democracia.
2
– Em Outubro de 2018, sobre as eleições no Brasil, escrevi:
Bolsonaro, com todos os seus defeitos, tem sempre
mostrado preferir as democracias às ditaduras. Já o PT prefere qualquer
ditadura socialista às democracias capitalistas.
Resumindo, não estamos diante de
um embate entre um fascista e um democrata corrupto. Estamos num embate entre
um conservador autoritário e um corrupto autoritário. Nenhum me enche as
medidas. Mas se tivesse que escolher, provavelmente escolhias o autoritário
conservador que faz campanha em favor da ordem e da honestidade ao autoritário
corrupto, que é pouco mais do que uma marioneta de um homem que continuamente
procura dominar o poder para fugir à justiça.
A
reacção do Brasil provou aquilo que disse em Outubro.
De
um lado temos o presidente Bolsonaro, que foi dos primeiros a apoiar o
presidente interino da Venezuela. Mais ainda, não o fez unilateralmente mas em
conjuntos com vários estados americanos. Ou seja, o Brasil juntou-se as
democracias americanas para apoiar a democracia na Venezuela.
Já
o PT continua teimosamente a apoiar Maduro e a atacar Bolsonaro por este não o
fazer. Nem o facto de o ditador venezuelano ter mandado incendiar ajuda
humanitária enviada para ajudar os seus conterrâneos que morrem sem comida e sem
remédios comoveu o PT.
Fica
claro que se Haddad tivesse derrotado Bolsonaro o Brasil nunca se teria juntado
às democracias ocidentais no apoio à Assembleia Nacional venezuelana. Pelo
contrário, continuaria o seu apoio a Maduro. Ora sem o apoio do Brasil, que é
maior potência regional, dificilmente Guiadó se teria arriscado a desafiar
Maduro e os venezuelanos não teriam hoje a esperança de voltar a ver o seu país
livre.
A
verdade é que todos os nossos media explicaram que Bolsonaro era um perigo para
a democracia e Haddad, por muito corrupto que fosse, o seu garante. Até agora
só tivemos ocasião de ver o contrário.
Tal
como em Outubro, continuo sem ser fã de Bolsonaro. Mas entre ele, que tem
trabalhado para o regresso da democracia na Venezuela e o PT que não hesita em
apoiar um ditador que usurpou o poder, não tenho dúvida sobre quem prefiro.
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