Que uma bomba caísse na Paróquia da Sagrada Família em Gaza era inevitável. Quando se faz chover bombas durante quase dois anos num território com o tamanho do Alentejo, era bastante expectável que uma lá fosse cair.
Mas a Igreja da Sagrada Família é apenas mais um
dos alvos civis que Israel atingiu nestes quase dois anos de guerra. Mesmo
descontando todo o exagero e mentiras do Hamas, a verdade é que o contínuo
ataque a Gaza tem provocado milhares de vítimas inocentes. Pessoas pobres,
desesperadas, reféns do Hamas, abandonadas pelos países árabes, bombardeadas
por Israel.
Há muito tempo que qualquer proporcionalidade
entre o horrendo ataque de 7 de Outubro e a resposta de Israel se perdeu. E não
colhe o argumento de que o Hamas, podendo, faria pior. Porque o Hamas é um
grupo terrorista e Israel é, supostamente, um Estado civilizado.
Não coloco em causa o direito de Israel a
existir, nem o direito a defender-se. Não há qualquer dúvida de que o ataque de
7 de Outubro pode ser equiparado a um acto de guerra, pelo que era razoável uma
resposta de Israel. Mas não existe um direito a ocupar território que não é
seu, não há direito a terraplanar Gaza.
É evidente que o Hamas não tem qualquer
problema em usar a população civil como escudo humano. Em usar caves de
hospitais como bases, ou escolas como paióis. São um grupo terrorista. Cabe a
Israel responder como um Estado que respeita o Direito Internacional. Não o
faz. Responde como uma nação poderosa, capaz de punir todo um povo para impor a
sua vontade.
O ataque à Paróquia da Sagrada Família, a
única presença cristã em Gaza, que acolhe 600 pessoas, não é apenas um azar. É
um símbolo da barbaridade da acção de Israel. Não alinho com a esquerda, que
finge que Israel é uma potência imperialista e que, mais ou menos
envergonhadamente, defende a sua destruição. Não acredito que haja um genocídio
em Gaza. Não nego a selvajaria do 7 de Outubro, e não tenho dúvida de que o
Hamas é um grupo terrorista que deve ser destruído.
Mas neste momento, o governo de Netanyahu
tornou Israel numa potência militar agressora, que, para seguir a sua visão de
um Grande Israel — do rio ao mar (a inversão do sonho esquerdista para a
Palestina) —, não hesita em chacinar inocentes (o que é diferente de um
genocídio). E, por isso, tem de ser travado.
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