1 – Quando afirmamos que a Vida Humana é sempre
digna, não falamos apenas dos seus extremos. Se, evidentemente, os mais frágeis
e desprotegidos, os que ainda não nasceram, mereciam protecção especial (e
hoje, na maior parte do mundo, não têm nenhuma), a preocupação com os
nascituros não esgota o primado da dignidade humana.
Afirmar que a Vida Humana é sempre digna significa que todos os Seres Humanos
são igualmente dignos. Isto não pode, como é evidente, deixar de incluir os
migrantes. A dignidade humana não acaba nas costas africanas do Mediterrâneo.
Por isso, o cemitério em que o Mediterrâneo se tornou não pode deixar de nos
fazer sofrer e envergonhar. Os campos para migrantes nas ilhas gregas, a
miséria em que muitos dos que procuram uma vida melhor vivem na Europa, são uma
chaga na nossa civilização. E quem quer defender os “valores” cristãos, e para
isso fala destas pessoas como inimigos, estará a defender muita coisa, mas não
defende seguramente a Fé no Cristo, o Deus que desceu das alturas para entregar
o Paraíso a um bandido na Cruz.
2 – Isto significa então que devemos ter uma
política de portas abertas, onde todos os imigrantes podem entrar, sem qualquer
controlo? Não, não significa. E não significa, antes de mais, porque a política
de portas abertas é um atentado à dignidade dos imigrantes.
A política de portas abertas significa apenas a impunidade das redes de
tráfico, que exploram desavergonhadamente quem procura uma vida melhor.
Significa aceitar pessoas que não temos condições dignas para acolher, com os
resultados que hoje vemos em Portugal: a maioria da população sem-abrigo é
imigrante, milhares são explorados em trabalhos mal pagos, não há forma de
conseguirem seguir o seu processo de legalização, vivem amontoados em casas
decrépitas.
Para além disso, é evidente que os governantes, não podendo deixar de olhar com
benevolência para todos os que vivem em situações de maior fragilidade, têm um
primeiro dever para com os habitantes dos seus países. E, olhando mais uma vez
para Portugal, um número grande de imigrantes traz consequências demasiado
pesadas para a população que os acolhe: pressão sobre a rede escolar, sobre o
SNS, sobre o imobiliário. Portugal não tem condições para acolher mais de um
milhão de imigrantes.
3 – E a solução? Não é fácil. Eu sei que hoje as
pessoas odeiam a complexidade e querem respostas simples: portas abertas ou
remigração! Mas o mundo raramente é preto e branco. Raramente há maus de um
lado e bons do outro. E as soluções simples, embora deem bons vídeos no TikTok,
raramente produzem soluções justas.
Não se trata de qualquer relativismo, simplesmente de reconhecer que existem
vários problemas, e é preciso encontrar soluções justas e humanas para todos.
É preciso garantir que não continuam a morrer pessoas no Mediterrâneo, que não
entram pessoas simplesmente para ir viver na rua ou amontoadas em casas. Mas
também é preciso garantir que não entram pessoas com cadastro de crimes
violentos, acabar com as redes de tráfico, e garantir o equilíbrio entre os
direitos dos imigrantes — incluindo à sua cultura e religião — e o direito dos
portugueses à segurança e à paz social.
4 – Nada disso se faz com histerismo, nem com
ódios. Reconhecer que temos imigrantes a mais não é o mesmo que constantemente
tratar os imigrantes como criminosos ou selvagens.
Sobretudo, mesmo quando são necessárias medidas mais duras para combater o
excesso de imigração, não devemos nunca esquecer que cada pessoa foi criada à
imagem e semelhança de Deus, e que o próprio Deus Se ofereceu em sacrifício por
cada um de nós. Muda alguma coisa nas decisões que é preciso tomar? Talvez não
mude muito, mas muda a forma como olhamos para os imigrantes, e faz-nos
procurar soluções justas — e não apenas satisfazer as nossas necessidades.
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