Tenho visto por aí
algumas pessoas de direita muito contentes por o partido Conservador inglês ter
decidido juntar-se aos festejos do mês do orgulho homossexual. Este
contentamento vem acompanhado de muitos conselhos para que a direita
portuguesa, sobretudo o CDS, lhe siga o exemplo.
Segundo estes arautos
da nova direita, esta seria uma posição que respeita a liberdade pessoal e a igualdade.
Há, contudo, um pequeno problema. É que esta posição, aparentemente liberal e humanista,
ignora uma primeira premissa.
Para que a agenda LGBT
seja de facto uma questão de liberdade pessoal e dignidade, primeiro há que reduzir
a pessoa à sua sexualidade. É preciso que a intimidade de cada um seja
identificativo de quem ela é. Já não se trata de A ou B, com a sua história
pessoal, com a sua vivência própria da sua intimidade, passa a ser parte de uma
entidade abstrata que são os homossexuais. É a aplicação da tese clássica do
marxismo, da guerra de classes, a todo uma nova panóplia de grupos e
sub-grupos.
Isso é claríssimo naquilo
que foram as duas grandes conquistas do movimento LGBT na última década: o
casamento e a adopção por pessoas do mesmo sexo. O que estava realmente em discussão
nestes casos não era a sexualidade de cada um. Porque para o Estado a vida íntima
de cada um não releva. O Estado não legisla afectos, não legisla a olhar pelo
buraco de fechadura. O ponto era saber se o Estado devia regular
a relação entre duas pessoas do mesmo sexo, no caso do casamento, e se duas
pessoas do mesmo sexo poderiam adoptar uma criança.
Não estava em causa a igualdade
ou a liberdade pessoal. Pelo contrário, estava em causa impor a visão de uma
sociedade onde a sexualidade é um factor de diferenciação. Trata-se de impor,
através do Estado, uma visão da sociedade onde a pessoa é definida pela sua sexualidade.
Vejamos o exemplo da adopção: antes dois homens nunca podiam adoptar. Agora
dois homossexuais podem adoptar, mas dois irmãos não podem. Antes a diferença
era ser preciso pai e mãe para a criança, agora a diferença é a relação que tem
com o outro adoptante.
Por isso nunca percebi
aqueles que tanto se opõem ao Estado, sobretudo os Liberais, e depois defendem
que o Estado possa interferir e regular a vida íntima dos cidadãos.
Mas mais grave do que
isso é perceber o que significa este apoio à causa LGBT hoje. Hoje quando a
questão do casamento e da adopção está encerrada. Hoje quando já existe
legislação abundante contra qualquer forma de discriminação. Qual é agenda que
este movimento defende hoje? A educação! Dos adultos e das crianças.
Para o movimento LGBT
não é suficiente que o Estado tenha adotado a sua visão da organização social,
é preciso que todos concordem com essa visão. Não basta que exista o casamento
entre pessoas do mesmo, é preciso que ninguém se atreva a discordar dele. A lei
não é suficiente, querem também a hegemonia cultural. E isso faz-se através da
repressão do adultos e da doutrinação das crianças.
A repressão dos adultos
usa como instrumento os crimes de ódio. Ou seja, censura e criminaliza opiniões.
E não falo de insultos e de bullying. Falo de opiniões como esta que escrevo. Ou
de outras opiniões com as quais não concordo, mas que não me passaria pela
cabeça censurar.
Mas mais grave é querer impor essa visão da sociedade às crianças. É retirar aos pais a liberdade de educar os seus filhos. Não se trata simplesmente de ensinar a aceitar e a respeitar a diferença, trata-se de incutir nas crianças uma visão social, cultural, moral, independentemente da vontade dos pais. Para o movimento LGBT eu não tenho o direito de ensinar ao meu filho a visão cristã da sexualidade. Ou seja, não posso ensinar que a sexualidade é para ser vivida dentro do matrimónio entre homem e mulher.
Aquilo que o partido Conservador hoje apoia, assim como
os seus seguidores em Portugal, é que o Estado tenha o direito (e mesmo o
dever) de impor a visão dos movimentos LGBT sobre a sexualidade a todas as
crianças.
É sempre grave ver que
há quem defenda que o Estado tem o dever de impor uma visão ideológica à
sociedade. Que deva operar engenharia social através da lei e da educação. Mas
pior é que haja quem o defenda em nome da liberdade. Orwell estaria orgulhoso.
Muito bem analizado!!
ResponderEliminarExcelente análise! Além do mais, essa violência impositiva da proibição de discordar, da anulação da liberdade de opções educativas para os pais é ANTICONSTITUCIONAL. isto é mais grave do que ' inconstitucional'
ResponderEliminarExcelente como sempre! Obrigada por escrever tão bem aquilo que eu penso
ResponderEliminarSó me surpreende que alguém ainda se espante com estas coisas. Não se trata de igualdade, de discriminação ou de direitos. Trata-se de impor uma agenda à sociedade. Os conservadores foram cúmplices por omissão nesta batalha ideológica. Agora já é demasiado tarde para estas argumentações. O poder já passou para "o outro lado", o qual não está interessado em discussões.
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