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quarta-feira, 17 de junho de 2020

A mulher de César e o governador do Banco de Portugal.





A origem da expressão "à mulher de César não basta ser séria é preciso parecê-lo" conta-se muito rapidamente.

Todo os anos acontecia em honra o festival da Boa Deusa. Era uma festa só para mulheres, onde acorriam as mulheres das famílias mais importantes da cidade. Qualquer presença masculina era sacrilégio.

Havia em Roma um nobre, que gostava de chocar a sociedade, chamado Publio Clódio. Nascido na família patrícia dos Claúdios, tinha-se feito adoptar por um plebeu e mudado o nome para Clódio.

Clódio era mulherengo e vivia encantado com Pompeia, mulher de César, que era uma das mulheres mais belas de Roma. Contudo esta era constantemente vigiada por Aurélia sua sogra.

Clódio decidiu então aproveitar a festa da Boa Deusa, que seria em casa de César, para entrar mascarado de mulher e encontrar-se sozinho com Pompeia.

Assim o fez, mas foi apanhado. O caso deu escândalo e transformou-se num caso político, porque sendo a República confessional, o sacrilégio era crime.

Durante o debate no Senado sobre o caso, César, que entretanto se tinha divorciado da sua mulher, foi interrogado. Respondeu que não sabia nada, porque não tinha estado presente. Questionado se considerava que Pompeia tinha um caso com Clódio e se teria colaborado com ele, defendeu a honra e a inocência da ex-mulher. Então perguntaram-lhe porque razão, se acreditava na inocência dela, se tinha divorciado. Foi aí que terá dado a famosa resposta: "à mulher de César não baste ser séria é preciso parecê-lo" (ou numa versão menos poética, "a mulher de César, tal como toda a sua família, devem estar acima de qualquer suspeita").

Ora, o que o António Costa podia aprender desta pequena lição histórica é que na questão do governador do Banco de Portugal, não está em causa a honestidade ou a competência de Centeno. Isso é outra discussão.

O que está em causa é que transitar directamente de Ministro das Finanças para governador do Banco de Portugal irá lançar sempre dúvidas sobre a independência de Mário Centeno. Essas suspeitas poderão ser injusta, e o antigo Ministro das Finanças até poderá ser um exemplar Governador, independente e integro (duvido, mas em teoria é possível). Mas nunca se livrará da suspeita de estar ao serviço do Governo.

E nos cargos públicos não basta ser sério, é preciso parecê-lo. Para haver confiança nas instituições, tem que haver confiança nos titulares dos seus órgãos. E evidentemente um alguém que passa de Ministro do Governo para regulador independente não oferece essa confiança.

António Costa gosta de se rodear de pessoas da sua confiança. Devia perceber que o importante é rodear-se de pessoas que ofereçam confiança aos portugueses. E para isso não basta ser sério, é preciso parecê-lo.

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