Foi
hoje entregue no Parlamento, pelo PSD e pelo CDS, uma proposta de alteração à
Iniciativa Legislativa de Cidadãos "Pelo Direito a Nascer". O texto
contém três medidas importantes: o fim da isenção de Taxas Moderadoras ao
aborto; o fim da discriminação dos profissionais de saúde objectores de
consciência no acompanhamento às grávidas em risco de aborto; a obrigatoriedade
de uma consulta de aconselhamento prévio ao aborto.
O fim
da isenção das Taxas Moderadoras é um acto de justiça. Se esta proposta for
aprovada, o aborto deixará de ter um regime de excepção, que não é
compreensível, nem aceitável.
Ao
pagar Taxas Moderadoras, o aborto é tratado como qualquer outro acto do Sistema
Nacional de Saúde. Nem mais, nem menos.
Não
existe, de facto, razão alguma para que a isenção aplicada à saúde materna seja
extensível também ao aborto.
A
possibilidade dos profissionais de saúde objectores de consciência poderem
acompanhar as suas pacientes quando estas decidem abortar, levanta a anátema
que a actual legislação lança sobre os profissionais de saúde que não praticam
este acto. Como se estes não soubessem separar as suas convicções pessoais do
seus deveres profissionais.
De
facto, esta proibição de os objectores de consciência participarem no processo
de decisão do aborto, representava uma clara discriminação destes profissionais
de saúde assente unicamente na desconfiança diante das suas opiniões.
Por
fim, a obrigatoriedade de consulta prévia constitui provavelmente o passo mais
importante desta proposta.
Todas
as associações que trabalham no terreno são unânimes ao testemunhar que a maior
parte das mulheres que recorre ao aborto o faz por falta de opções.
A
maior parte das mulheres não aborta por opção, mas precisamente pela falta de
opções.
Não é
aceitável que no século XXI uma mulher se veja forçada a abortar por falta de
meios, por pressão do companheiro, por ameaças do patrão.
A
consulta prévia de aconselhamento irá permitir às mulheres, não só denunciar os
casos em que estão a ser coagidas por terceiros, mas também receberem informação
sobre todos os apoios que têm à disposição para continuar com a gravidez.
Esta consulta
é por isso uma oportunidade para que nenhuma mulher aborte por não ter quem a
apoie.
Serão
esta medidas suficientes? Não. Mas é um primeiro passo. Um enormíssimo primeiro
passo, num novo caminho que não é fácil de percorrer.
O que
esta Iniciativa deseja não é voltar a abrir a eterna guerra sobre o aborto, com
dois lados entrincheirados, sem diálogo ou comunicação.
O
nosso desejo é procurar soluções para que todas as mulheres que esperam um bebé,
para que todas as famílias que desejem ter um filho, recebam da parte do Estado
e da sociedade o apoio necessário para levarem até ao fim essa aventura.
Este
caminho não é fácil. E não o poderia ser. Durante muitos anos o aborto foi um
tema que gerou paixões e ódios. Não podemos por isso pedir que desconfianças
alimentadas por anos de discórdia sejam agora enterradas em pouco meses.
Mas o
projecto apresentado pela maioria, a partir da Iniciativa Legislativa de
Cidadãos, é um passo seguro na boa direcção. Não é a vitória deste ou daquele,
dos do "sim" ou dos do "não". É a vitória de todos os que acreditam
que é possível, com paciência e prudência, caminhar para uma sociedade onde
nenhuma mulher deixe de ser mãe por não ter quem a apoie e onde a nenhuma
família falte a solidariedade social nas horas mais difíceis.
Sem comentários:
Enviar um comentário