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quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Carta Aberta à Clara Não



Cara Clara,

Li com atenção a sua carta aberta a alguns políticos sobre a ideologia de género. Bem sei que não sou nenhum dos destinatários da carta, nem sequer possuo qualquer relevância – não ocupo qualquer cargo público, não tenho coluna em qualquer jornal, nem sequer possuo esse título que alguns tanto almejam de “influencer” –, mas fiquei incomodado com a sua carta e, por isso, decidi responder-lhe.

Incomoda-me, e penso que é até bastante preocupante, que ao fim de séculos de luta pela igual dignidade de cada pessoa, a Clara se refira a um grupo de pessoas como “pessoas LGBT”. Bem sei que é uma tendência designar pessoas por uma “identidade”, seja a sua sexualidade, a sua etnia ou o seu estatuto económico.

Para mim, uma pessoa é isso mesmo: uma pessoa. Tenho, entre os meus amigos e familiares, pessoas de diferentes etnias, religiões e que vivem a sua sexualidade de forma diferente da minha. Nem por um momento me ocorreria que essa diferença os definisse. O meu amor, o meu carinho, a minha estima por uma pessoa não muda conforme a sua sexualidade. Reconheço em cada um o mesmo desejo de amor, de justiça e de beleza que eu possuo.

Reduzir a pessoa a uma identidade é desumanizá-la; é tratar essa pessoa, não de acordo com a sua dignidade intrínseca, mas definindo-a por uma qualquer característica que a Clara ache relevante. No fundo, não é diferente do racismo ou da xenofobia, onde a pessoa é reduzida à cor da sua pele ou à sua nacionalidade.

A Clara parece considerar que a consequência normal diante de alguém diferente é abandonar essa pessoa ou tratá-la mal. E provavelmente acha que essa é a consequência porque defende que essa diferença define uma pessoa (é LGBT, é trans, é “racializada”). Para mim, abandonar ou maltratar uma pessoa diferente de mim é absurdo, porque essa diferença em nada muda a dignidade ontológica do ser humano.

Por isso, a chantagem psicológica que tenta usar sobre quem tem uma visão diferente da sua da sexualidade não me impressiona. Já me preocupa bastante que queira impor a sua visão sobre a sexualidade a toda a sociedade.

A teoria de género é uma teoria social que defende que o género e o sexo são coisas diferentes, que o género é apenas uma construção social e que, por isso, há tantos géneros quantos aqueles que as pessoas inventarem. O facto de esta teoria estar muito difundida não a torna correcta. Também houve alturas em que as teorias raciais estavam muito difundidas e não passaram a ser correctas por causa disso.

A teoria de género faz tábua rasa da biologia, da história e da sociologia para impor uma visão ideológica da identidade sexual. Mas a Clara tem toda a liberdade de acreditar em tal teoria, que não vê qualquer problema em que um homem, por se afirmar mulher, possa espancar uma mulher num ringue de boxe ou violá-la numa cadeia. Não tem é o direito de a querer impor como verdade única a toda a sociedade.

A Clara tenta explicar que não há uma ideologia de género, só uma teoria. Isso só seria verdade se, de facto, fosse tratada apenas como uma hipótese científica discutível. Mas não é isso que acontece. A teoria de género tornou-se hoje numa ideologia oficial, que se impõe através de leis, às escolas, às empresas e à sociedade em geral. Uma verdade de fé que não pode ser negada, sob pena de punição.

Cara Clara, eu convivo muito bem com a diversidade. Não tenho qualquer problema com quem pensa ou vive de forma diferente da minha. Nunca reduzi ninguém à sua identidade sexual, procurando amar e respeitar qualquer pessoa com quem me cruzo. Aquilo com que não convivo bem é com a tentativa dos ideólogos do género de procurar reduzir pessoas à sua sexualidade e de obrigar todo o mundo a pensar como eles. Há um de nós que não vive bem com a diversidade, mas não me parece que seja eu…

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