Há 114 anos, Afonso Costa declarava que iria acabar com a Igreja Católica em Portugal em duas gerações (para tranquilizar os mais pessimistas, os meus filhos são a quinta geração de católicos de ambos os lados desde a publicação da Lei, pelo que Costa parece ter falhado). O instrumento para a supressão da Igreja em Portugal era a famosa Lei da Separação, que nada separava, mas antes subjugava a Igreja em Portugal ao poder do Estado.
A Lei da Separação declarou como bens nacionais todas as
igrejas, regulou o culto, as fontes de rendimento do clero, o toque dos sinos,
o horário da catequese. Sobretudo, proibiu as demonstrações públicas da
religião e a construção de novas igrejas.
Mas, como diria o Engenheiro Guterres, esta situação não
nasceu do vácuo. Se o Liberalismo declarara o Catolicismo a religião do Reino,
também tratara de submeter totalmente a Igreja ao poder do Estado, tornando-a
em pouco mais do que uma repartição estatal, com escassa ligação a Roma.
Quando chegou a República, a situação da Igreja era periclitante.
Um clero impreparado, pouco piedoso, mais político que pastor. Por isso a
reacção firme do clero português apanhou de surpresa Afonso Costa, que pouco
respeito dispensava ao clero regalista. Mas foi a rejeição heroica dos bispos e
dos padres às pensões e às cultuais previstas na lei, sacrificando assim os
poucos bens e proveitos que a República lhes deixara, que realmente operou a
separação entre a Igreja e o Estado.
O que a História nos ensina nos últimos 200 anos (e até
mais, porque esta tentativa de submissão da Igreja começa com Pombal) é que a
liberdade da Igreja só é possível quando esta não depende do poder. Por isso, a
liberdade da Igreja está dependente do Estado reconhecer, como direito
inalienável, a liberdade religiosa.
E a questão da liberdade religiosa é que não se pode
dividir. Não posso reconhecer a minha liberdade de adorar a Deus, de professar
publicamente a minha Fé, de a viver comunitariamente, e negar a dos outros.
Porque, se assim for, se eu afirmar que o Estado tem o poder de decidir que fés
são admitidas e que fés não são, então estou a afirmar que a liberdade da
Igreja não é um direito em si mesmo, mas uma benesse do Estado. E a História
ensina-nos que transformar o Catolicismo em religião do Estado pode ser bom
para o Estado, mas acaba com a opressão da Igreja.
É por isso que defendo a liberdade dos muçulmanos em
construir mesquitas e em rezar em público. E não vale a pena confundir as
coisas: sim, há um problema com a imigração, sobretudo de países muçulmanos;
sim, há um problema com o Islão quando este começa a ser maioritário, como se
vê em vários países da Europa. Mas esse problema não se pode confundir com a
liberdade religiosa.
Outra questão é se o Estado deve apoiar a construção de
mesquitas. E aqui a resposta é simples: depende. Sim, o Estado deve criar
condições para que todos possam exercer a sua fé em liberdade, e isso pode
passar por dar algum tipo de apoio à construção de uma mesquita, como faz com
as igrejas (cedência de um terreno ou de um imóvel). Não, o Estado não deve
subsidiar o culto, nem favorecer as comunidades islâmicas de forma
injustificada, como parece que Fernando Medina quis fazer com a nova mesquita
da Mouraria.
Por fim, há uma preocupação legítima com a segurança. Mas,
nesse caso, o que deve preocupar são as mesquitas clandestinas que por aí
pululam, não aquelas que são construídas às claras, cujo acesso é público e que
mantêm relação com a sociedade que as rodeia. Um ímã extremista não precisa de
um edifício novo para espalhar o ódio — para isso, basta-lhe uma garagem
esconsa. Investigue-se o que for preciso, mas isso não é argumento para
suprimir a liberdade religiosa.
Nada disto se deve confundir com a liberdade dos islâmicos
de viverem a sua Fé. Porque, no dia em que eu reconhecer ao Estado o poder de
regular a fé alheia, estou a reconhecer que o exercício da minha Fé é uma
benesse do Poder. E isso, como os valentes bispos de 1911, não podemos
permitir.
Interessante abordagem, mas fantasista porque parte do princípio errado de que todos têm boas intenções e no caso dos muçulmanos NÃO é possível! Porque será que os países onde os Cristãos são mais perseguidos, são muçulmanos ou socialistas, caso da China?
ResponderEliminarHá regimes/ ideologias que pela sua natureza bárbaras, são incapazes de conviver com o diferente.... e o Cristianismo é diferente!