Falar hoje contra o aborto é mais difícil do que alguma vez foi. Debater este tema com alguém que defende o “direito” ao aborto é como se estivéssemos a falar duas linguagens completamente diferentes.
Mesmo entre os que são contra o aborto, vemos que, muitas vezes, são apenas contra o aborto livre, ou pago pelo Estado, ou então contra o alargamento dos prazos. Mas encontrar hoje alguém que diga que o aborto é sempre errado e deve sempre ser ilegal é cada vez mais raro.
E é raro porque, culturalmente, o embrião deixou de ter qualquer valor. Não se trata de discutir se há vida humana ou não — isso é um facto biológico indisputável —, mas sim do valor que se atribui à vida humana. Porque neste tempo do relativismo, o valor da vida já não depende do facto de existir, mas do valor que cada um de nós lhe atribui. E a sociedade já decidiu que a vida humana por nascer não tem valor, ou, pelo menos, não o tem até possuir algumas características com as quais as pessoas se identifiquem.
Por isso o debate sobre o aborto é tão difícil: estão em causa duas visões completamente distintas — uma que afirma que a vida é sempre digna, e outra que afirma que a vida é digna quando a sociedade o diz.
Por esta razão é que o debate sobre o aborto deixou de ser, como há 20 anos, sobre quando começa a vida, e passou a ser sobre os direitos da mulher. Porque o embrião deixou de contar.
E para defender o contrário é preciso coragem, porque há poucos temas que enfureçam tanto os activistas da modernidade como o aborto. E eu compreendo porquê: é que, se por um segundo tiverem de admitir a possibilidade de que a vida humana começa na concepção, então terão também de admitir a hipótese de estar a ser praticada a maior matança de inocentes de que há memória.
Afirmar com clareza que o aborto é sempre um mal e, sobretudo, afirmar sem medo o valor da vida humana não é popular, mas é urgente. Por isso, é com grande alegria que vejo como Miguel Milhão usa a sua fortuna e influência para esta causa.
E fá-lo sem tibieza, sem cedências, com total clareza. É evidente que o fundador da Prozis procura, há algum tempo, influenciar o debate público, e que tem meios e capacidade para o fazer. E é impressionante que tenha escolhido o aborto como a sua grande causa. Quem o acompanha desde que começou a intervir publicamente sabe que o aborto não é uma causa secundária, nem uma forma de criar polémica para obter atenção. O aborto é mesmo a causa principal de Miguel Milhão.
Este é o segundo ano em que ele cria um anúncio para a televisão, para festejar o começo da sua vida — no momento da concepção. E usa esses anúncios para afirmar, sem problema, a defesa da vida desde o primeiro instante. Claro que este atrevimento provoca a fúria de muita gente. E é bastante divertido ver a liberdade com que Miguel Milhão se ri dos fariseus modernos e dos escribas do aborto.
Deve haver vantagens em ser bilionário — ainda por cima sem depender minimamente do poder político e mediático. E Miguel Milhão usa muito bem essas vantagens para defender esta causa tão urgente. Por isso, da minha parte, só me resta dizer: obrigado, Miguel Milhão.