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sábado, 10 de fevereiro de 2024

Nos dez anos da morte do meu irmão



Faz hoje dez anos que o morreu o meu irmão Luís. A morte do Luís apanhou-nos de surpresa, mas não foi um choque.

O Luís e eu sempre fomos diferentes, e nem sempre nos demos bem, mas estivemos sempre juntos no essencial. Também por isso partilhámos muitas coisas juntos, não apenas os factos típicos da vida familiar, mas também empenhos e responsabilidades.  Estivemos juntos na luta pela defesa da Vida, fomos ambos responsáveis dos Liceus de Comunhão e Libertação, e demos catequeses (embora nunca juntos) a jovens mais ou menos da mesma idade. Em todas estas realidades mantivemos sempre as nossas diferenças (que de vez em vez descambavam em discussão), mas unidos no essencial.

Quando o Luís ficou doente, uma doença misteriosa, aparentemente mais incomodativa que perigosa, impressionou-me a docilidade com que aceitou a doença. Ele nunca foi pessoa de resmungar ou amargurar com a vida, pelo contrário. Mas mesmo assim, diante de uma doença que muitas vezes o impedia de fazer aquilo que mais amava, a sua resposta foi sempre dócil. Conforme o tempo ia passando viamo-lo crescer em piedade verdadeira, em entrega ao Senhor.

O Luís sempre foi um bom católico, de missa frequente, sempre ao serviço no canto, catequista e educador. Mas nesses meses viamo-lo cada vez mais a viver diante do Mistério de Cristo: na adoração ao Santíssimo, na missa, na oração. O tempo ia passando, e parecia que quanto mais a doença o impedia de fazer aquilo em que sempre se tinha distinguido, mais tranquilo ele vivia. Vivia cada vez mais identificado com Cristo. E isso via-se. Por isso se a sua morte me surpreendeu, não me chocou.

No dia antes seguiu a sua rotina: adorou o Santíssimo na Igreja do Loreto, rezou o terço na Igreja da Encarnação, assistiu à missa e comungou. Foi para casa, despediu-se e acordou no Céu. Surpreendente, mas não chocante. Porque de alguma forma era a conclusão evidente de uma vida tão ardentemente oferecida ao Senhor. De alguém que foi oferecendo tudo a Cristo, até o Seu Senhor o vir buscar.

Neste dez anos tive muitas vezes saudades. E penso muitas vezes nele, sobretudo quando vejo os meus filhos a fazer qualquer coisa que sei que o ia divertir (eles têm mania dos teatros e dos musicais, e não consigo deixar de pensar que produções fariam em conjunto!). Mas a morte do meu irmão nunca me pareceu uma injustiça ou um desperdício. Pelo contrário, sempre foi para mim evidência de que o Senhor cumpre aquilo que promete: “E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também”.

O Luís precedeu no Céu muitos dos que amo e que neste dez anos se foram juntar a ele. E estou certo de que no Céu acolheu cada um deles, como sempre fez aqui na terra. “E cada um que parte, torna-me o Céu mais confortável. Torna-me o Céu mais habitado” (Padre João Seabra, Missa de 7º Dia de sua mãe).

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