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segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Anéis do Poder: faltam mulheres e minorias




1 - O primeiro livro de Tolkien que li foi o Silmarillion quando tinha 11 ou 12 anos. Desde então li e reli muitas vezes as grandes obras do professor, assim como tudo aquilo que ele escreveu e a que consegui lançar a mão (das Aventuras de Tom Bombadil ao Roverandom). E se estou longe de ser um especialista em Tolkien, sou sem dúvida um fã. Por tudo isso não senti qualquer desilusão com a nova série da Amazon Os Anéis do Poder: só se desilude quem tem alguma ilusão e eu nunca tive qualquer dúvida sobre o que aí vinha. Não é possível compreender a Terra Média sem compreender Tolkien, e o professor inglês é um homem incompreensível para a cultura moderna. 

2 - Na mitologia de Tolkien existe um enorme conjunto de mulheres poderosas. Desde as senhoras dos Valar que fizeram as estrelas e as árvores de Valinor, passando por rainhas e princesas que conseguiram enfrentar e derrotar Morgoth e Sauron. E para quem só leu O Senhor dos Anéis há Eowyn que derrotou o mais poderoso de todos os servos de Sauron, aquele a quem bastava o grito para enlouquecer bravos guerreiros e, sobretudo, Galadriel, a protagonista da nova série sobre a Terra Média.

E é justo que seja a protagonista, porque Galadriel é sem dúvida uma das maiores protagonista da obra de Tolkien. É aliás a única protagonista que atravessa as três eras da Terra Média. Liderou parte dos Noldor na primeira era, fundou um reino seu na segunda era e foi uma das principais adversárias de Sauron na terceira era. Segundo Tolkien, de entre os elfos, só Feanor era mais poderoso do que ela. Por isso o problema não é que Galadriel seja protagonista da série, o problema é que seja reduzida a uma adolescente traumatizada que que ser igual ao irmão.

Mulheres poderosas e com protagonismo não faltam na obra de Tolkien, mas o que a Amazon fez foi pegar numa mulher poderosa e transforma-la num homem! Aquela que era uma gloriosa rainha passou a ser um peão com uma espada, achando que assim se “empoderava” as mulheres. E este é o absurdo da ideologia woke, não querem de facto mulheres a protagonizar nada, querem que as  mulheres sejam imitações de homens e dar-lhes protagonismo artificial.

3 - Tolkien era um homem minucioso. Não se limitou a criar umas histórias fantásticas, criou um mundo. Um mundo com mapas, com línguas, com calendários, com várias raças e dentro das raças vários povos, com costumes e tradições diferentes. O que existe publicado é uma fracção do trabalho de Tolkien sobre a Terra Média (e relembre-se que ele só publicou o Hobbit e o Senhor dos Anéis, tudo o resto foi publicado pelo seu filho). A atenção ao pormenor de Tolkien chegava ao ponto de refazer partes da história porque era irrealista uma personagem percorrer aquela distância naquele espaço de tempo ou porque o clima não se adequava à estação em que a acção se desenrolava.

Não há qualquer problema em que haja pessoas de várias cores de pele numa série passada na Terra Média. É uma liberdade relativamente ao trabalho de Tolkien, mas que encaixa na sua obra. Por isso um elfo negro, ou uma anã, não são um problema, o problema é ser apenas um! O problema é que todos os elfos sejam esqualidos e depois, por magia, haja um negro! Que exista uma família de elfos de pele negra não é um problema, agora fazer aparecer um negro por magia é completamente artificial. Podiam perfeitamente ter feito os habitantes de Númenor morenos como os sul-americanos ou os árabes, não podem é, numa ilha isolada durante séculos, ter uma população toda branca e depois a rainha ser negra (ao contrário do tio que é branco!).

Isto não é diversidade, não se trata de mostrar que na Terra Média há raças de todas as cores, para isso tinham feito os harfoot negros ou apresentado uma família de anões asiática. Trata-se mais uma vez de virtue signalling: vejam como somos inclusivos, até temos um elfo negro! Mas mais uma vez é pegar na diversidade e moldá-la toda ao exemplo do homem branco: se uma mulher que ser poderosa, se um negro quer ser protagonista, então tem que ser como homens brancos.

4 - Vejo muito boa gente a protestar por a série d’Os Aneís do Poder dar demasiado protagonismo a mulheres e a negros. Eu pelo contrário acho que um dos problemas (e há vários outros, bastante mais graves) é não lhes dar suficiente protagonismo. Tolkien, um inglês católico e conservador, criou um mundo cheio de mulheres poderosas e cheio de povos diversos. A progressista Amazon criou uma fraca imitação desse mundo cheio de homens brancos, ainda que os vista de mulher ou aqui e ali escolha um negro para representar. O resultado é evidentemente um pastel artificial ridículo, que ninguém aprecia, mas que aqueles que vivem enfeudados ao wokismo têm que fingir gostar. Eu por mim, fico-me pelo mundo do velho professor de Oxford, onde as mulheres são capazes de derrotar Melkor, e Sauron é derrotado por uma minoria que se esconde para não ser oprimida.

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