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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

É tempo de reconstruir, mas reconstruir o quê?


A grande novidade das últimas eleições legislativas foi a saída do CDS da Assembleia da República. Será esta a primeira legislatura em democracia que o CDS não terá qualquer representação no parlamento.

Com a saída do CDS do hemiciclo há um espaço político que fica órfão de representação parlamentar. Não há hoje no parlamento nenhum partido cuja a doutrina se baseie na dignidade da pessoa humana, especialmente da dos mais frágeis; na liberdade da sociedade, sobretudo da família, da Igreja e dos corpos sociais intermédios; num Estado ao serviço do Homem, que promova uma sociedade civil forte.

Evidentemente que existem vários deputados na Assembleia da República que defendem estes ideais, em vários partidos. Mas já não existe um partido que faça do personalismo cristão a sua doutrina.

Os partidos existem enquanto são úteis à sociedade. Evidentemente que a mim, que sou militante do CDS e que o tenho defendido o melhor que sei e posso, me custaria sempre ver o partido desaparecer. Mas é preciso que os militantes percebam claramente que um partido não é um fim em si mesmo.

O espaço da direita hoje em Portugal está bastante ocupado. Existe um partido de poder, onde há espaço para mais ou menos tudo o que não seja (muito) à esquerda. Existe um partido claramente liberal e um partido populista/de protesto, de cariz mais extremista. Se a tentação do CDS for, para voltar a ter força política, tentar ocupar algum destes espaços, então está condenado ao fracasso.

O único espaço que está livre é aquele em que o CDS sempre existiu, de forma mais ou menos assumida: o da democracia-cristã, baseada no personalismo. É nesse espaço que o CDS pode revelar a sua utilidade para Portugal.

Eu também acredito que é urgente reconstruir o CDS porque acredito que o espaço que o partido deixou órfão faz falta ao país. É preciso um partido na Assembleia da República que lute pela dignidade do homem, desde a concepção à morte natural. Que defenda a liberdade das famílias e a liberdade da sociedade, sobretudo na educação. Que promova a dignidade do trabalho, que se oponha ao esbulho fiscal, que esteja ao lado dos mais pobres e dos mais fracos da sociedade. É urgente um partido que acredite num Estado ao serviço do homem e da sociedade, sem ideologias.

Por este espaço político vale a pena lutar. Será um trabalho de formiga, feito na sombra, que exigirá muito esforço, mas que vale a pena.

O que não vale a pena é lutar por manter um partido de egos, de palavras redondas, preso a um passado que já não volta. Também não vale a pena lutar por um partido que procure ser a imitação barata de outros ou que troque o seu ideal por um sonhado sucesso eleitoral. Não vale a pena porque um partido assim não é útil, não vale a pena porque tal tentativa está condenada ao insucesso.

É tempo de reconstruir. E a perguntar que aqueles que querem reconstruir o CDS têm que fazer é: reconstruir o quê? E isso é mais importante do que nomes e protagonistas.

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