Todos as mensagens anteriores a 7 de Janeiro de 2015 foram originalmente publicadas em www.samuraisdecristo.blogspot.com

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O voto (in)útil



Têm-se multiplicado nos últimos dias os apelos ao voto útil por parte do PSD. Eu compreendo que perante a incompetência do actual governo haja a tentação de votar nos sociais-democratas. Mas a verdade é que para o voto ser útil é preciso que se vote numa alternativa. E olhando para o actual PSD, não consigo perceber como pode pretender ser uma alternativa ao PS de Costa.

É evidente que o PSD tem activos bons, bastante superiores ao PS. Penso por exemplo em Joaquim Miranda Sarmento ou em Ricardo Baptista Leite. Mas infelizmente, já percebemos que neste PSD quem manda é Rui Rio, que exerce o seu poder da forma despótica e mesquinha que lhe é habitual. Para o líder laranja, o partido é ele e só ele. Por isso, para saber se o PSD é realmente alternativa ao PSD, é preciso avaliar se Rio é um alternativa a Costa, e a resposta parece-me bastante evidente.

Do ponto  de vista ideológico, pouco ou nada distingue Costa e Rio. E o primeiro a admiti-lo foi o próprio Rio, quando explicou que só não era do PS por causa de Sá Carneiro. Mas mais do que o socialismo, o que une ideologicamente Costa e Rio é a sua maleabilidade: Costa consegue passar de adversário a aliado do PC e BE num piscar de olhos, conforme lhe convém. Já Rui Rio, nuns dias quer aliar-se ao CDS, noutros vê com bons olhos acordos com o PS. Relativamente ao Chega, passa da abertura ao desprezo pelos seus eleitores conforme o dia. A verdadeira ideologia de Rio, tal como a de Costa, é o poder.

As únicas ideias que Rio parece disposto a defender com convicção são a agenda fracturante do Bloco de Esquerda. Para isso, está disposto a ignorar o seu eleitorado, os militantes e até o Congresso do seu partido.

Depois há o carácter de Rio, que mais uma vez em pouco ou nada difere de Costa. Tal como Costa passou anos a torpedar a direcção do seu partido. Com a diferença de que Costa o fez enquanto estavam na oposição e Rio o fez enquanto Passos Coelho tentava salvar o país. Também para Rio lhe é indiferente trabalhar com pessoas de reputação duvidosa. Aliás, conquistou o partido com o apoio dos grande caciques sociais democratas, com currículos tão variados como Malheiro ou Rodrigo Gonçalves. Tem uma relação ténue com a verdade, como ainda recentemente se viu na campanha interna do PSD onde, após prometer que não faria campanha, passou um mês a enviar SMS a todos os militantes. Apesar de todos os banhos de ética, já ficou claro que Rio é tão confiável como Costa.

Mas as semelhanças com Costa não acabam aqui: também Rio tem uma relação difícil com o escrutínio público. Acabou com os debates quinzenais, vive em guerra com a imprensa, purga a oposição interna, desobedece ao Congresso. A única diferença é que Costa disfarça melhor o desprezo pela democracia.

A verdade é que quer nas ideias, quer no carácter, pouco ou nada distingue Costa de Rio. O presidente do PSD só vai para a direita quando é obrigado, de resto é feliz a navegar no Bloco Central. Aliás, é preciso não esquecer que Rio foi a aposta daquele PSD dos interesses, dos favores e dos tachinhos que se viu apeado do poder com Passos Coelho e só sossegou quando lá conseguiu colocar Rui Rio.

Votar Costa ou votar Rio pouco muda, a não ser que de facto o PSD tem alguns deputados melhores que os do PS. Votar neste PSD é votar na continuação das mesmas políticas deste PS, mas com outras caras. A verdade é que um voto em Rio é um voto inútil.

Sem comentários:

Enviar um comentário