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domingo, 10 de novembro de 2019

Os 101 anos da guerra de Afonso Costa.



No dia 11 de Novembro cumprem-se 101 anos do armisticio que colocou fim à Iª Guerra Mundial. O armisticio foi assinado às 5 horas da manhã mas só entrou em vigor às 11 horas: durante esse intervalo morreram 2800 soldados, o último dos quais às 10h59. Foi o último dos mais de 15 milhões de mortos (uma média de 5 mil por dia) de uma guerra fútil, provocada pelo orgulho e irresponsabilidade dos líderes europeus.

De facto, não há nenhum grande motivo por trás desta guerra que não seja o militarismo e o desejo de influência das grandes potências europeias. Ao contrário do que tentam ensinar nos programas de história da escola, não havia qualquer divisão ideológica que explique esta guerra. A França Republicana e laica lutou lado a lado com a Rússia Imperial e ortodoxa, enquanto o a católica Aústria teve a Turquia como parceira.

E se o principio da guerra foi dramático o modo como acabou foi ainda pior. Já em 1917 tinha caído o império Russo, com a revolução bolchevique que tanto sofrimento haveria de impor à Europa e ao mundo. Mas pior ainda foi o tratado de Versalhes, assinado em 1919, que humilhou a Alemanha, destruiu o império Habsburgo e desfez a europa central numa miríade de pequenas nações. Sobre o tratado disse um dos heróis da guerra, Marechal Foch: "isto não é a paz, é um armistício por vinte anos". Infelizmente mostrou-se certeiro: o revanchismo dos aliados abriu as portas a Hitler e ao seu Reich, que não tinha nenhuma figura ou nação suficientemente poderosa nas redondezas para o travar.

Foi neste conflito tremendo, onde milhões de soldados eram sacrificados pelo orgulho desmedido dos seus chefes, que Portugal decidiu entrar de forma voluntária. Não havia qualquer razão para os portugueses lutarem na Flandres. Os aliados não o pediram, não tínhamos qualquer interesse estratégico em jogo, não existia qualquer conflito com a Àustria ou a Alemanha. A única razão para entrar na guerra foi a vontade de Afonso Costa e da sua camarilha do Partido Democrático.

Afonso Costa viu na Iª Grande Guerra uma possibilidade de criar um desígnio nacional em volta da república e, mais concretamente, em volta do seu partido. Viu também na guerra uma possibilidade de consolidar a república a nível internacional. Por isso desejou que Portugal entrasse na guerra. Mas não lhe bastava uma colaboração com os Aliados, ou uma mera guerra defensiva em África. Sonhava com uma gloriosa campanha nos campos da Flandres que permitisse criar uma epopeia republicana.

Para isso impôs aos Aliados a participação portuguesa na frente Ocidental, com um corpo de exército. Foram dezenas de milhares de jovens arrebanhados às suas aldeias ou aos bairros pobres das cidades, treinados com armas obsoletas, que foram despachados para a Flandres para passar fome e frio, sem qualquer possibilidade real de interferir no resultado da guerra. Tudo isto chefiados por oficiais políticos, incompetentes e incapazes, que preferiam a intriga política ao exercício das suas funções.

O resultado foi milhares de mortos, feridos e prisioneiros. Homens marcados para o resto das suas vidas, com lesões físicas e traumas psicológicos gravíssimos. A coragem dos soldados portugueses, louvada por aliados e inimigos, não foi capaz de competir com a frieza da guerra moderna.

A participação portuguesa na Iª Guerra Mundial foi um desastre. Os mortos e feridos na guerra foram o preço que Afonso Costa se demonstrou disposto a pagar para manter o seu poder e o da sua camarilha.

Infelizmente, os mártires da ambição do líder republicano raramente são recordados. O Estado Novo, na sua ânsia de agradar ao exército, glorificou sempre a participação portuguesa na guerra. A democracia, na sua ânsia de exaltar a Iª República, tentou sempre esquecê-la.


Na Commonwealth, dia 11 de Novembro é o dia em que se recordam todos os militares mortos em acção. É tradição em Novembro muitos ingleses usarem uma papoila na lapela, em recordação dos militares mortos, sobretudo os que morreram na Primeira Guerra. Por cá, infelizmente, prefere-se debater a escravatura e o museu de Salazar, a recordar os milhares de homens mortos para glória de Afonso Costa.

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