No dia 11 de Novembro cumprem-se 101 anos do armisticio
que colocou fim à Iª Guerra Mundial. O armisticio foi assinado às 5 horas da
manhã mas só entrou em vigor às 11 horas: durante esse intervalo morreram 2800 soldados,
o último dos quais às 10h59. Foi o último dos mais de 15 milhões de mortos (uma
média de 5 mil por dia) de uma guerra fútil, provocada pelo orgulho e
irresponsabilidade dos líderes europeus.
De facto, não há nenhum grande motivo por trás desta guerra
que não seja o militarismo e o desejo de influência das grandes potências
europeias. Ao contrário do que tentam ensinar nos programas de história da
escola, não havia qualquer divisão ideológica que explique esta guerra. A
França Republicana e laica lutou lado a lado com a Rússia Imperial e ortodoxa,
enquanto o a católica Aústria teve a Turquia como parceira.
E se o principio da guerra foi dramático o modo como
acabou foi ainda pior. Já em 1917 tinha caído o império Russo, com a revolução
bolchevique que tanto sofrimento haveria de impor à Europa e ao mundo. Mas pior
ainda foi o tratado de Versalhes, assinado em 1919, que humilhou a Alemanha,
destruiu o império Habsburgo e desfez a europa central numa miríade de pequenas
nações. Sobre o tratado disse um dos heróis da guerra, Marechal Foch:
"isto não é a paz, é um armistício por vinte anos". Infelizmente
mostrou-se certeiro: o revanchismo dos aliados abriu as portas a Hitler e ao
seu Reich, que não tinha nenhuma figura ou nação suficientemente poderosa nas
redondezas para o travar.
Foi neste conflito tremendo, onde milhões de soldados
eram sacrificados pelo orgulho desmedido dos seus chefes, que Portugal decidiu
entrar de forma voluntária. Não havia qualquer razão para os portugueses lutarem
na Flandres. Os aliados não o pediram, não tínhamos qualquer interesse
estratégico em jogo, não existia qualquer conflito com a Àustria ou a Alemanha.
A única razão para entrar na guerra foi a vontade de Afonso Costa e da sua
camarilha do Partido Democrático.
Afonso Costa viu na Iª Grande Guerra uma possibilidade de
criar um desígnio nacional em volta da república e, mais concretamente, em
volta do seu partido. Viu também na guerra uma possibilidade de consolidar a
república a nível internacional. Por isso desejou que Portugal entrasse na
guerra. Mas não lhe bastava uma colaboração com os Aliados, ou uma mera guerra
defensiva em África. Sonhava com uma gloriosa campanha nos campos da Flandres
que permitisse criar uma epopeia republicana.
Para isso impôs aos Aliados a participação portuguesa na
frente Ocidental, com um corpo de exército. Foram dezenas de milhares de jovens
arrebanhados às suas aldeias ou aos bairros pobres das cidades, treinados com
armas obsoletas, que foram despachados para a Flandres para passar fome e frio,
sem qualquer possibilidade real de interferir no resultado da guerra. Tudo isto
chefiados por oficiais políticos, incompetentes e incapazes, que preferiam a
intriga política ao exercício das suas funções.
O
resultado foi milhares de mortos, feridos e prisioneiros. Homens marcados para
o resto das suas vidas, com lesões físicas e traumas psicológicos gravíssimos.
A coragem dos soldados portugueses, louvada por aliados e inimigos, não foi
capaz de competir com a frieza da guerra moderna.
A participação portuguesa na Iª Guerra Mundial foi um
desastre. Os mortos e feridos na guerra foram o preço que Afonso Costa se
demonstrou disposto a pagar para manter o seu poder e o da sua camarilha.
Infelizmente, os mártires da ambição do líder republicano
raramente são recordados. O Estado Novo, na sua ânsia de agradar ao exército,
glorificou sempre a participação portuguesa na guerra. A democracia, na sua
ânsia de exaltar a Iª República, tentou sempre esquecê-la.
Na Commonwealth, dia 11 de Novembro é o dia em que se
recordam todos os militares mortos em acção. É tradição em Novembro muitos
ingleses usarem uma papoila na lapela, em recordação dos militares mortos,
sobretudo os que morreram na Primeira Guerra. Por cá, infelizmente, prefere-se
debater a escravatura e o museu de Salazar, a recordar os milhares de homens
mortos para glória de Afonso Costa.
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