Muito se
tem dito sobre as eleições no Brasil. Ficou-me sobretudo um artigo de João
Miguel Tavares (provavelmente dos poucos cronistas de direita em Portugal) a
sua ideia de que Haddad era preferível a Bolsonaro porque é preferível um
democrata corrupto a um fascista honesto.
Parece-me
contudo que João Miguel Tavares comete dois erros de análise. Primeiro é a
afirmação de que Bolsonaro é fascista, que é o tema central do seu artigo.
Bolsonaro é sem dúvida um homem que entre as liberdades individuais e a ordem
pública escolhe a ordem pública. Isso tem evidentemente como consequência que
em última instância o capitão na reserva prefere um Estado autoritário que
controle aquilo que ele considera ser os males do país (a criminalidade, a
corrupção, etc) a um Estado livre. E é evidente que esta linha de pensamento é
perigosa e pode por em causa a democracia. Mas não transforma Bolsonaro num
fascista.
Por outro
lado, João Miguel Tavares considera Hadadd um “corrupto democrático”. Antes
demais é sempre discutível se um corrupto é democrático. Por natureza um
corrupto é alguém que acredita que o seu bem estar pessoal está acima do bem
público. Um corrupto é alguém que usa o Estado não para servir mas para se servir. Por isso um corrupto nunca é verdadeiramente democrático.
Ainda mais
um corrupto que pertence a um partido que de facto procurou usar os bens do
Estado com o único objectivo de se manter no poder (operação da qual Sócrates,
tão denunciado por João Miguel Tavares, é aprendiz). Aliás, convém não esquecer
que por trás de Haddad está Lula, o preso que procura usar o poder para fugir à
prisão. Não haja dúvida que Haddad no poder significa o fim da operação Lava
Jato, significa provavelmente o fim da autonomia judicial. Mais ainda, convém
relembrar que um dos pontos da campanha de Hadadd é precisamente diminuir os
poderes parlamentares e aumentar os poderes do Presidente, à imagem da Venezuela
de Maduro.
O que me
leva ao meu último ponto sobre a democraticidade de Haddad: pertence ao partido
que apoia e celebra Cuba e a Venezuela de Maduro. Bolsonaro, com todos os seus
defeitos, tem sempre mostrado preferir as democracias às ditaduras. Já o PT
prefere qualquer ditadura socialista às democracias capitalistas.
Resumindo,
não estamos diante de um embate entre um fascistas e um democrata corrupto. Estamos
num embate entre um conservador autoritário e um corrupto autoritário. Nenhum
me enche as medidas. Mas se tivesse que escolher, provavelmente escolhias o
autoritário conservador que faz campanha em favor da ordem e da honestidade ao autoritário
corrupto, que é pouco mais do que uma marioneta de um homem que continuamente
procura dominar o poder para fugir à justiça.
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