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quinta-feira, 21 de junho de 2018

As jaulas no Texas: deixemos a política de lado.




Nos últimos dia fomos confrontados com imagens  terríveis de um centro de detenção de emigrantes ilegais no México. As imagens mostram crianças a serem separadas dos seus pais, e jaulas em pavilhões com pessoas, incluindo crianças, em piores condições que os animais do Jardim Zoológico.

As imagens trouxeram indignação. A indignação deu direito a resposta. A confusão instalou-se. Neste momento os apoiantes de Trump e os seus inimigos desfazem-se em comentários, artigos, vídeos, posts, twiters, etc. Os factos cruzam-se e é difícil perceber o que realmente se passa e se passou para chegar aqui.

Dito isto, parece-me que é urgente separar dois pontos:

1.  Todos os anos milhares de pessoas, oriundas da América Latina, atravessam ilegalmente a fronteira com os Estados Unidos. Existem redes profissionais para fazer estas passagens. Redes que não  funcionam por caridade e que exploraram essas pessoas, para além não se limitarem a traficar pessoas.

Quando os emigrantes são apanhados a passar ilegalmente a fronteira as autoridades americanas evidentemente detém essas pessoas. Depois existe um processo para saber o que lhe vais acontecer.

O que as imagens tem mostrado é precisamente as condições em que essas pessoas são detidas. Os adultos são levados pelas autoridades policiais, as crianças pelos serviços sociais, uma vez que não podem ser detidas com os adultos. Para além disso existem muitas crianças que viajam sem família e que por isso são também confiadas aos serviços sociais. Enquanto esperam estão nas tais jaulas que todo o mundo viu.

Penso que podemos concordar que aquelas condições não são uma forma digna de tratar pessoas. Especialmente crianças. É perfeitamente compreensível a necessidade de controlar a fronteira. Também é compreensível a necessidade salvaguardar a segurança dos menores, o que requere que se investigue se estas estão simplesmente a ser usadas para passar a fronteira ou se estão a ser usadas para fins piores (escravidão, pedofilia, etc.). Mas isso não justifica aquilo que vimos. Não justifica as jaulas, os colchões no chão, os bancos corridos.

É evidente que os Estados Unidos não podem simplesmente abrir as fronteiras. E é verdade que a culpa de aqueles adultos e crianças fugirem dos seus países de origem não é dos Estados Unidos. Mas faz parte de uma sociedade civilizada tratar as pessoas de acordo com a sua dignidade. Que depois sejam deportados, pode ser justo. Mas enquanto esperam tem que ser tratados como pessoas, não como animais.

2. O segundo ponto é o da responsabilidade política. De quem é a culpa disto acontecer? Evidentemente a esmagadora maioria da comunicação social, dos comentadores e dos políticos culpam Trump. Os mesmo que durante anos ignoraram que eram assim que eram tratados os emigrantes ilegais nas anteriores administrações.

Por outro lado, os apoiantes de Trump, ou pelo menos aqueles que estão fartos da hegemonia do politicamente correcto e vêm em Trump uma rebelião conservadora contra essa hegemonia, desculpabilizam o presidente e atiram todas as responsabilidades para os democratas e a esquerda em geral, ignorando completamente as imagens.

Tudo isto acompanhado de acusações de manipulações de imagens, de extremismo político, das famosas fake news. A certa altura o tema está tão politizado que já não se fala das pessoas concretas (sobretudo das crianças concretas) que estão a ser tratadas de maneira desumana, nem se discute como resolver o problema, mas apenas se procura uma vitória política.

3. O gravíssimo drama é que ao deixarmos a discussão ser sobre a política e não sobre a emigração, perde-se o tempo a tentar derrubar adversários em vez de resolver o problema daqueles que hoje estão a dormir em jaulas no Texas.

O problema da emigração ilegal é complexo e não tem solução fácil. É preciso garantir ao mesmo tempo a segurança do país, a dignidade dos emigrantes, o combate às redes ilegais de tráfico humano, o acolhimento aos que preciso de asilo político, a segurança dos menores que viajam sozinhos, etc. Tudo isto exige não só muito dinheiro, mas também uma política capaz de responder nas várias frentes do problema e uma enorme máquina humana que execute essa política.

É normal que haja divergência sobre qual a resposta (ou as respostas) mais eficaz ao problema da emigração ilegal. Um problema na América, mas também um problema na Europa. A mesma Europa que condena Trump pelas jaulas do Texas enquanto o Mediterrânio se transforma no maior cemitério do mundo. Por isso que se discutam essas divergências, que se discutam as políticas e os caminhos a seguir. Mas por favor, basta de discutir se a culpa é de Trump ou de Obama, dos emigrantes ou dos americanos. Porque as crianças que hoje dormem em jaulas no México dificilmente saberão quem são esses senhores e não tem culpa dos pecados dos adultos. Foram ali postos sem saber porquê e isso não pode continuar a acontecer.

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