Todos as mensagens anteriores a 7 de Janeiro de 2015 foram originalmente publicadas em www.samuraisdecristo.blogspot.com

quarta-feira, 12 de março de 2025

Alguns pontos sobre a crise política

 



1.        Qualquer comparação entre Montenegro e Sócrates, como o Chega tem tentado fazer, é rídicula.  A Sócrates não era conhecida qualquer actividade profissional fora da política e ao mesmo tempo, ostentava gastos incompatíveis com o salário que recebia, que era público.  Montenegro, tem actividade profissional há anos, para além da política. Que dessa actividade resultem lucros e que ele os invista, é perfeitamente normal.

2.        A situação de Montenegro também não é comparável à de António Costa, que teve ministros arguidos, o seu próprio chefe de gabinete, e que foi ele próprio investigado. Mesmo que se tenha percebido rapidamente que a investigação do MP era uma mão cheia de nada, Costa não tinha qualquer outra opção que não demitir-se. Para mim, o erro de Marcelo Rebelo de Sousa na altura foi ter dissolvido a Assembleia da República. Havia uma maioria absoluta do PS e condições de governabilidade. Devia ter convidado o PS a formar governo com outro Primeiro-Ministro.

3.        Luís Montenegro já deu explicações minuciosas, mais até do que me parece necessário, sobre os seus negócios. Há um voyerismo nesta situação, típica de quem quer criar desinformação, apenas com objectivos políticos. Basta ver como o Chega, apesar da notícia ter sido desmentida, continua a afirmar que o trajecto do TGV foi alterado para beneficiar a família Viola.

4.        Contudo, apesar das explicações minuciosas de Montenegro, há um pecado original que se mantêm. Não há qualquer problema em político ter tido actividade profissional privada. Pelo contrário até é desejável. Por isso pouco me interessa a lista de clientes de Montenegro ou as casas que comprou. Se houver suspeitas de crime, o Ministério Público que investigue. Mas o primeiro-ministro não pode receber avenças de empresas.

5.        Claro que Montenegro defende-se dizendo que não recebeu, e juridicamente é verdade. Não acredito que tenha feito nada de ilegal. Mas não vale a pena tomar as pessoas por parvas: a empresa que criou é apenas um veículo para a sua actividade profissional, não tem qualquer existência para além do trabalho de Montenegro. Por isso, mesmo que formalmente o primeiro-ministro não receba avenças, na prática é isso que acontece. E à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo.

6.        Por isso Luís Montenegro devia ter-se demitido. Não pela chincana que a oposição montou, mas pela sua própria imprudência. Se o tivesse feito, o PSD podia apontar um novo líder, até talvez fosse possível evitar eleições. Como não o fez, vai levar ao país a eleições, tornando a sua actividade profissional no centro do debate político.

7.        Isto não significa que Chega e PS tenham razão. Não têm. Estão a tentar transformar uma imprudência num crime, e a aproveitar este caso para humilhar publicamente Montenegro, sem qualquer problema em mentir e caluniar, para ter pontos políticos. Mas nada disto aconteceria se o primeiro-ministro tivesse tido o bom senso de acabar com as avenças à sua empresa quando foi eleito.

8.        Nada de bom virá destas eleições. Na melhor hipótese, fica tudo igual, e país continuará ingovernável. Na pior hipótese, o PS ganha as eleições, mas sem uma maioria de esquerda, e o país torna-se ainda mais ingovernável. Num tempo de agitação internacional, é tudo o que não precisávamos.

9.        Há um ano, depois das eleições, defendi que Montenegro se devia demitir. Apostou tudo na estratégia do “não é não” e perdeu. O resultado foi pouco mais de um empate, e a derrota do PS foi fruto do Chega, e não do PSD. Não estando disposto a fazer acordos com o Chega (posição perfeitamente compreensível e razoável), não tinha condições para governar. Passado um ano, fica evidente que tinha razão. Vamos a eleições novamente pela simples razão que Montenegro está mais agarrado ao poder do que ao bem comum. Demonstrou-o há um ano quando decidiu governar sem ter maioria para isso, demonstrou-o agora, quando arrastou todo o governo num escândalo pessoal.

10.   Votarei AD nas eleições, mas mais uma vez, votarei mais vencido que convencido. O governo tem feito um bom trabalho e merece continuar. E a oposição em geral tem demonstrado a sua total irresponsabilidade e incapacidade de apresentar soluções viáveis para o país. Mas a forma como Montenegro se agarra ao poder, e demonstra governar mais pelos tacticismos do que com alguma estratégia de fundo, não entusiasma ninguém.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

O aborto e o crescimento do ódio

 


Primeiro era só para os nascituros com risco de deficiência e para aqueles que foram concebidos por violação. Por alguma razão, um bebé deficiente tem menos valor que um saudável e um nascituro deve pagar pelos pecados do seu pai. Depois era só para evitar que as mulheres fossem presas, mesmo sabendo que não havia uma mulher presa por ter abortado há décadas. Agora afinal é um direito fundamental da mulher, e o bebé é reduzido a uma coisa sem qualquer direito, de tal forma que é preciso alargar os prazos do aborto legal, para garantir que não há qualquer estorvo à possibilidade de eliminar uma vida que não nasceu. Pelo meio, lembraram-se que afinal os doentes e idosos também não têm a mesma dignidade que o resto das pessoas e por isso, quando pedem para morrer, em vez de ser cuidados, devem levar uma injecção letal.

Esta loucura, e não tenho dúvidas que chegará o tempo onde a história assim julgará esta cultura da morte, não começou em 2007, começou em 1984, quando se começou a legalizar o aborto. E não terminou aí, continua viva ainda hoje. E assim irá continuar. Irá continuar porque é fruto de uma cultura que já não reconhece o valor intrinsecamente sagrado da vida humana.

Hoje a Pessoa tem valor na medida em que a sociedade assim o dita. Tem valor na medida em que tem utilidade prática ou afectiva para mim. Se assim não for, não é bem vida, é uma coisa, já não tem dignidade. É esta porta, da redução do outro à ideia que eu tenho sobre ele, que a legalização do aborto abriu. Uma porta que, depois das tragédias do século XX, devia ter sido fechada.

Não nos espantemos por isso que hoje se banalizem o discurso de ódio contra imigrantes, minorias, adversários políticos. A partir do momento em que o homem se fez Deus, e decidiu julgar ele em que momentos a vida humana passa a ter direito a existir, nesse momento, abrimos a porta à redução do outro a um objecto cujo valor sou eu que decido. É deficiente? Pode ser abortado. Está doente? Pode ser morto. A sua vinda não dá jeito? Eliminamos. E chamamos-lhe Direitos.

Dia 11 fez anos o referendo que tornou o aborto livre legal em Portugal. Um pouco por todas as redes sociais vi festejos, como se uma grande conquista se tratasse. Desde então mais de 230 mil crianças não nasceram, pela mão do Estado. É isto que festejavam. Como pode o ódio não triunfar numa sociedade que festeja a morte de centenas de milhares de crianças por nascer?

O artigo podia ficar por aqui. A tentação de apontar o ódio e ficar aí é grande. Mas a verdade é que é mesmo preciso responder é esta pergunta: como, neste tempo onde se festeja a morte de crianças por nascer, é possível não triunfar o ódio. E a resposta, não sendo fácil, é simples. Eu não posso mudar a sociedade, mas posso mudar o meu coração. Não posso impedir que o ódio cresça entre as pessoas, mas posso impedir que cresça em mim. Por isso aquilo que posso fazer, que podemos todos fazer, é responder ao ódio com amor. É diante de quem defende a cultura da morte, afirmar uma cultura de amor à vida. Não há vida em abstracto, mas às vidas concretas das pessoas com quem me cruzo.

Dia 29 de Março a Caminhada pela Vida sai à rua em 13 cidades do país. Um momento preferencial para dar testemunho da beleza da vida. Para responder à cultura do ódio, com uma cultura de amor. Caminhamos não por ódio, mas para dar testemunho de que a vida é sempre bela e pode, e deve ser amada, em qualquer circunstância.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

A Rua do Benfomoso e a irresponsabilidade do PS



1. Sempre houve rusgas em Portugal. Actualmente chamam-se operações especiais de prevenção criminal e estão previstas numa lei aprovada num Governo de José Sócrates, quando António Costa era Ministro da Administração Interna.

Todos os anos há dezenas de operações destas, que incluem cortes de ruas, revistas a pessoas, casas, lojas, etc. Tudo isto devidamente acompanhado por magistrados do Ministério Público.

Estas operações, têm como alvo zonas com altos índices de criminalidade. A Rua do Benformoso, onde só nos últimos dois anos se verificaram 52 crimes com arma branca, encaixa por isso perfeitamente no critério que leva a que habitualmente a polícia realize operações destas.

2. Podemos não gostar destas operações em geral, e até podemos criticar alguma em específico. Eu devo dizer que não sou fã, duvido da sua eficácia e acho que são propensas ao abuso de autoridade.
Dito isto, nada difere esta operação de tantas outras que a PSP normalmente realiza. A PSP cortou a Rua do Benformoso, como há um mês cortou vários bairros da zona da grande Lisboa, como já o fez em bairros do Porto, e no próprio Martim Moniz quando o governo era socialista.

3. O histerismo da esquerda em geral e do Partido Socialista em específico não tem por isso qualquer justificação. Aliás, é espantoso como durante anos nunca ouvimos qualquer resmungo de Isabel Moreira ou Ana Gomes quando estas operações eram feitas na Cova da Moura ou no Bairro do Lagarto. Nunca os arautos do antirracismo se levantaram quando os “corpos” encostados à parede eram negros ou ciganos. Foi preciso esperar por um governo de Direita para de repente se lembrarem que estas operações eram um atentado ao Estado de Direito.

O que está por isso em causa neste “escândalo” não tem nada a ver com xenofobia ou racismo. É pura manipulação que tem como única finalidade colar o Governo à “extrema-direita”.

4. A estratégia do PS é clara e irresponsável. Vivem de exacerbar casos e de manipular indignações, procurando claramente polarizar o debate entre eles, os justos e puros, e os fascistas, ou seja, todos os que discordam deles.

Domingo foi os imigrantes, sexta o aborto, no mês passado o racismo. Os socialistas não têm qualquer problema em usar pessoas, muitas delas em situações de fragilidade, para a sua estratégia política. São bandeiras que atiram fora assim que perdem a sua utilidade.

5. Por isso esteve muito bem Luís Montenegro ao denunciar o extremismo da manifestação “Não nos encostem à parede”. Evidentemente que nem todas as pessoas daquela grande multidão eram extremistas. E alguns têm de facto razões para se manifestar. Mas estão a ser usados por políticos e comentadores que não hesitam em comparar uma acção legal da polícia com a repressão nazi aos judeus.

Por isso a equiparação entre os promotores daquela manifestação e os promotores da vigília pelas forças de segurança não é apenas justa, mas perfeitamente acertada. A estratégia do PS e do resto da esquerda em nada difere da estratégia populista do Chega. Ambos distorcem factos e manipulam indignações para obter escândalos que lhes permitam dominar a narrativa do espaço público. E ambos apostam na polarização para se estabelecerem a si como justos e todos os seus adversários como malvados que procuram destruir a sociedade.

Isto já é mau quando praticado por partidos de protesto com o Bloco (que o faz há muitos anos) ou o Chega (que está agora a dar os seus primeiros passos). Mas o Partido Socialista tem a responsabilidade de não arrastar o país para esta irresponsabilidade, que fractura a sociedade, promove ódios e tem consequências imprevisíveis.

6. A verdade é que enquanto perdemos tempo com o último escândalo inventado por populistas, do Bloco ao Chega, passando pelo actual PS, os problemas do país continuam por resolver. Os populistas são óptimos a apontar problemas, mas totalmente incapazes de os resolver. Tenhamos esperança de que os eleitores não se deixem levar pela narrativa do histerismo, e deem aos que procuram realmente governar, os votos necessários para o fazer.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Alargamento dos prazos do aborto: um mero oportunismo


 

Sexta-feira, dia 10, será debatido na Assembleia da República o alargamento dos prazos do aborto. Aparentemente, como seria expectável dada a constituição do parlamento, as iniciativas irão chumbar, como qualquer pessoa que tenha dois olhos na cabeça conseguiria adivinhar.

A questão, é então por que razão se lembrou a esquerda de vir agora fazer esta proposta? Porque não o fizeram nos nove anos que tiveram maioria na AR? Se o PS está assim tão empenhado em garantir mais tempo para as mulheres abortarem, por que razão não o fez nos dois anos que teve maioria absoluta? A resposta é bastante simples, porque à esquerda em geral, e ao PS em particular, não lhes interessa que esta proposta passe.

Não nos confundamos, claro que eles preferiam prazos maiores para o aborto legal, mas o tema em si, interessa-lhes mais como bandeira política, útil para se abanada conforme as necessidades da agenda, do que a sua aplicação. Se tivessem proposto novos prazos para o aborto quando dispunham de maioria para isso, o assunto teria acabado por ali. Assim fica disponível para o reavivarem sempre que precisarem.

O timing destas propostas tem apenas duas finalidades. A primeira é poder acusar o PSD e o CDS de se encostarem ao Chega. Aposto convosco o que quiserem que depois da votação de sexta-feira estaremos dias a ouvir esse discurso.

A segunda finalidade é desviar a atenção do estado em que a esquerda deixou o SNS, criando um bode expiatório, que são os médicos. A lógica é simples, as mulheres não abortam porque os médicos são maus e objectores consciência. E em vez de discutirmos a falta de material, o estado decrépito do SNS, a falta de pessoal, estaremos a discutir a culpa dos médicos que recusam praticar abortos.

As mulheres que não conseguem abortar são para a esquerda apenas uma bandeira para usar enquanto lhes foi útil. Como foram os emigrantes há quinze, ou os habitantes da Cova da Moura há um mês, ou os transexuais há quatro ou cinco meses. E depois o interesse passará e a esquerda deixará cair ao chão estas pessoas, como o fez anteriormente, e passará para outras que lhes sejam úteis para criar ondas de revolta e gerar mais manifestos (sempre assinados pelas mesmas pessoas).

O problema é que as pessoas que eles usam como bandeira são reais. E merecem respeito. E precisam de apoio. Mas isso à esquerda é indiferente, porque assim que perdem o seu valor como bandeira, perdem qualquer interesse que podiam despertar a esses partidos.

Por isso não nos deixemos enganar: o que se vai votar dia 10 não tem qualquer relação com as mulheres, ou com qualquer drama humano. É apenas mais um oportunismo político daqueles que deixaram o país de rastos e agora tentam encobrir o rasto criando novas polémicas todos os meses.

 

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A condenação de Mário Machado



Antes de mais, não tenho qualquer simpatia por Mário Machado e a sua retirada da sociedade parece-me bastante favorável.


Para além disso a liberdade de expressão tem limites. Ameaças, insultos, mentiras não são liberdade de expressão e devem ser sancionados.

Dito isto, acho alarmante que Mário Machado seja condenado a dois anos de prisão efectiva pelo que escreveu nas redes sociais. O facto de ser líder de um movimento político que já praticou actos de violência e de o próprio ter um histórico de violência não permitem tratar o que escreveu como uma simples graça de mau gosto. Mas não há ali uma ameaça clara e concreta, não colocou de facto em risco ninguém, não praticou qualquer acto que demonstrasse que se tratava de facto de uma ameaça.

A justiça não pode começar a criminalizar intenções, não pode prender pessoas porque são más pessoas, ou porque escrevem coisas horrorosas nas redes sociais. E aqui não estou a defender Mário Machado, mas a sociedade. Porque o tribunal que hoje condena Mário Machado de forma “exemplar”, por afirmações que todos discordamos, é o mesmo que amanhã me condena a mim por afirmar qualquer coisa que vai contra a ortodoxia vigente.

E basta ver o que neste momento acontece no Reino Unido, onde as prisões e condenações por “crime de ódio” nas redes sociais aumentam, para perceber que não estou a falar de uma teoria da conspiração, mas de algo que está a acontecer diante dos nossos olhos.

Hoje no Ocidente em geral, e na Europa em particular, a liberdade de expressão está cada vez mais reduzida. A coberto do discurso de ódio, bane-se e criminaliza-se opiniões que simplesmente são contrários ao politicamente correcto.

Por isso, apesar do asco que sinto por Mário Machado, apesar do nojo que sinto pelas suas declarações, tenho mais medo do tribunal que o condenou e da sociedade que aplaude essa condenação. Porque é sempre mais perigoso o Poder que ignora a Justiça para defender a “Democracia”, do que o criminoso que a ataca às claras.

domingo, 8 de dezembro de 2024

Eu hei de me ir ao presépio


Voltei hoje, como em todos os dias da Imaculada Conceição que me lembro, a fazer a presépio. Em pequeno fazia-o com os meus pais e os meus irmãos, hoje com a minha mulher os meus filhos. E se em pequeno era eu que escrevia cartas ao Menino Jesus a pedir os presentes que queria para o celebrar o Seu nascimento, hoje ajudo os meus filhos a escreverem as deles.

O presépio sempre me comoveu e desde que me casei, e passámos a ter o “nosso” presépio, que tento todos os anos ir acrescentado peças. O resultado é uma salganhada de peças, umas tradicionais portuguesas, outras compradas no Corte Inglês (a única grande superfície que ainda vende peças de presépio) e algumas da loja do chinês.
Evidentemente que o resultado é bastante pouco histórico. Duvido que em Belém houvesse uma Igreja, senhoras vestidas de camponesas portuguesas ou um homem de fartos bigodes a oferecer um bacalhau ao Divino Infante. Mas o ponto do presépio não é ser histórico, mas sim ajudar-nos a fazer memória desta tão grande ternura de Deus.
A beleza do presépio é ajudar-me a fazer memória de que Deus se fez carne, fez-se um bebé, como qualquer um de nós. E esta figuras do presépio, que nos são mais familiares a nós do que à Judeia do tempo de Jesus, tornam-me o Natal mais familiar. Porque o Natal é, ao mesmo tempo, acontecimento histórico, que aconteceu na História, num momento e local concreto, e completamente sobrenatural: Deus Todo-o-Poderoso fez-se Homem. Por isso aconteceu concretamente àqueles pastores, mas acontece a cada pessoa que acolhe Jesus. Porque Deus fez-se Homem para cada um de nós.
Por isso o presépio, com a sua lavade
ira saída de uma aldeia portuguesa do meio do século passado e o seu castelo medieval, recorda-nos que o Natal aconteceu no tempo e ao, mesmo tempo, na Eternidade. Ao mesmo tempo carnal e sobrenatural.
Para mim este é o valor do presépio. Que, aliás, é o paradoxo do cristianismo: umas imagens baratas, de barro e resina, toscas e mal pintadas, são sinal e presença de Deus. É verdade sobre as figuras do presépio e é verdade sobre mim.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Eu só quero educar os meus filhos

 



Eu só quero ensinar aos meus filhos que somos criados à imagem e semelhança de Deus. Que homem e mulher os criou e que não existe um género diferente do sexo. Os papéis de género, como hoje pomposamente são chamados, são resultados da biologia e das circunstâncias históricas. E se alguns podem mudar e evoluir conforme as circunstâncias vão mudando, há outros que são inatos à natureza humana.

Eu só quero educar os meus rapazes a respeitarem as raparigas, a carregar os pesos, a dar prioridades nas portas e os lugares sentados. Quero que aprendam que objetivar uma mulher não é ser homem, é ser selvagem. Educar para que tenham a coragem de defender as mulheres dos selvagens que as tratam como objetos.

Eu só quero educar a minha filha para o facto de que o mundo é um lugar mais perigoso para as mulheres do que para os homens. Quero educá-la a ser prudente, porque infelizmente há demasiados homens em quem não se pode confiar. Quero educá-la que não há nada de empoderamento em exibir o corpo para impressionar os homens, e que não há qualquer mal em ser considerada púdica.

Quero educar os meus filhos, os rapazes e a rapariga, para o valor do amor, da virgindade, da pureza. Educá-los a reconhecer o outro como pessoas e não como objeto de prazer, e o seu próprio corpo como morada o Espírito Santo. Quero educá-los para a beleza da sexualidade, vivida de forma responsável, realmente livre, como aliança entre homem e mulher. Quero que saibam que a liberdade não é ser escravo do instinto, mas viver de acordo com a nossa natureza.

Eu só quero educar os meus filhos para a dignidade da vida humana, desde o momento da concepção até à morte natural. Ensinar-lhes que cada pessoa, independentemente do seu tamanho, da forma como vive, da forma como ama, como se identifica, da cor da pele, da filiação política, da sua saúde ou capacidades, tem em si mesmo um valor infinito. E que por isso deve ser amada e respeitada. Ensinar-lhes por isso que o aborto é um mal, que o racismo é um mal, que tratar mal o outro por ser diferente é um mal. Mas também ensinar que não há amor sem verdade.

Eu só quero educar os meus filhos naquilo em que acredito, porque desejo o melhor para eles. Depois, bem sei que com o tempo eles irão desenvolver as suas ideias, e poderão até não concordar comigo. E continuarei a amá-los de igual forma se assim for. Mas também sei que é meu dever dar-lhes o que tenho de melhor. E a minha Fé é o que tenho de melhor para lhes dar.

Respeito quem não concorda comigo. Quem deseja educar os filhos de outra maneira. Quem acredita que há tantos géneros como vontades ou que a verdadeira liberdade é viver ao sabor dos nossos instintos. E não tenho qualquer vontade de educar os seus filhos. Eu só quero é que me deixem educar os meus.

E é isto que está em causa na discussão sobre a Educação para a Cidadania. É a liberdade de cada um educar os seus filhos da forma que acredita ser melhor para eles.