Tenho
assistdo com alguma incredulidade à polémica sobre a Festa do Avante. Eu bem
sei que nos últimos anos é trendy tratar a festa comunista como se mais
um festival de música se tratasse, onde a única diferença era o stand da Vodafone
ou da NOS ser substituído pelo do Partido Comunista da Coreia do Norte ou de Cuba.
Frequentar o Avante era aliás prova de liberalidade e de vistas largas, típica da
burguesia ocidental que sempre gostou de tratar os comunistas como uns caturros
idealistas (ao contrário dos burgueses dos países comunistas, que regra geral não
gostavam daquela caturrice comunista que consistia em prende-los, tortura-los
ou matá-los).
Mas o PC nunca tratou o Avante como um mero festival. Sempre foi uma
fonte de financiamento, uma prova de força e uma ocasião de marcar a reentré
política. Simplesmente nunca se preocupou que isso fosse feito à custa de
capitalistas tontos.
Por
isso quando Jerónimo de Sousa diz que o Avante não é um festival de música tem
toda a razão. É de facto uma acção política, onde o PC demonstra a sua força. E
sendo uma acção política, está protegida pelo direito à liberdade politica
garantida pela Constituição. O direito de reunião não depende da lei.
Logo,
é evidente que o Partido Comunista não precisa de autorização para fazer a Festa
do Avante. Não estamos em Estado de Emergência, a Constituição continua em vigor,
não consigo por isso perceber com que autoridade o Governo pode ditar que
acções políticas podem ou não realizar-se.
O
ponto não é autorizar-se a Festa do Avante, mas em que termos ela se pode realizar-se.
De facto o Governo pode ditar regras para a realização de acções políticas,
incluindo regras sanitárias, depois cabe a quem promove acções politicas
decidir se as realiza ou não. E até agora não ouvi ninguém do PC contestar isso.
Aliás, o PC limitou-se a relembrar que o Avante não era um festival de música e
ainda nem confirmou que se vai realizar.
Claro
que grande parte da fúria com o Avante vem da proibição por parte do Governo de
outra actividades. Mas era bom que se percebesse que o problema não é a festa
do Avante, o problema é o Governo considerar que pode decidir sobre celebrações
religiosas, o problema é ter polícias a questionar cidadãos na praia e na rua,
o problema é achar-se que um partido político tem que pedir autorização para acções
políticas. Isso é que devia realmente revoltar as pessoas.
Se
a situação é de tal maneira grave que exige medidas extraordinárias então que
se volte ao Estado de Emergência. Agora se não o é, então o Governo não pode
evocar a Lei de Bases da Protecção Civil, para emitir decretos e despachos que
violam a Constituição.
Eu
defendo que o PC tem todo o direito de fazer a Festa do Avante, se assim o
quiser, nas condições sanitárias que forem exigidas em Setembro. Não o faço por
causa dos comunistas, nem sequer pela festa a que nunca fui e não tenciono ir.
Faço-o porque acredito que num Estado de Direito nenhuma pandemia justifica que o
Governo aja à margem da Lei e da Constituição. Faço-o porque acredito que a
Democracia exige, especialmente em tempos de crise, o respeito pelos Direito
Fundamentais que não estão à disposição do Governo, nem da maioria parlamentar.
Defendo a Festa do Avante precisamente porque não sou comunista, porque
acredito na liberdade individual e na liberdade política, acredito nas
responsabilidade individual e política. Mas exijo também que a Constituição,
com os seus Direitos Fundamentais, não se aplique apenas ao Partido Comunista, mas a todos os cidadão portugueses.
aceito perfeitamente tudo o que disse. também não sou nem nunca lá fui... mas também exijo que seja cumprido o último parágrafo do seu comentário....bem haja.
ResponderEliminarClaro que sim, mas por outro lado e a liberdade de culto? Onde fica? Uma verdadeira trapalhada resultado directo de decisores medíocres.
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