quinta-feira, 30 de julho de 2020

A direita que dança ao som da esquerda.



Uma das coisas que mais me impressiona é como a direita (em Portugal, mas também no mundo ocidental em geral) dança sempre ao som da esquerda. Sobretudo aqueles que se identificam como a verdadeira direita, ou a direita sem medo.

Aparentemente a direita não é capaz de produzir um pensamento próprio, uma visão própria, um projecto próprio, uma cultura própria.  A direita limita-se a tomar posição diante daquilo que a esquerda diz. Em última instância, a direita contenta-se em ser uma anti-esquerda, que diz branco, quando esta diz preto.

 Isto é evidente sobretudo nas questões sociais e culturais, onde a direita anda sempre a toque de caixa da esquerda. Qualquer que seja a última causa da esquerda, a direita só conhece duas opções: ou concorda ou rejeita completamente.

O problema é que isto significa aceitar as premissas da esquerda sobre a visão da sociedade. Significa trabalhar dentro das categorias que a esquerda propõem. Veja-se o exemplo do racismo onde parece só haver duas opções: ser “anti-racista” (na versão da esquerda) ou negar existência de qualquer acto de racismo.

Ora, eu não acredito na visão da esquerda, de uma sociedade que divide as pessoas pela cor da pele e onde há uma maioria branca que assume as outras minorias. Mas também recuso determinantemente a visão de que não há qualquer tipo de racismo.

Acredito numa sociedade onde cada indivíduo é responsável pelo seu comportamento, e onde sem dúvida existem pessoas que são racistas. E existem actos racistas. E acredito que estes actos devem ser condenados. E recuso-me sobretudo a não denunciar o racismo, só porque a esquerda também o faz. As minhas ideias não são determinadas pelo que a esquerda pensa. Nem pelo que é suposto alguém de direita pensar, já agora. Se sou de direita ou de esquerda os outros que digam.

Negar qualquer acto racista porque Portugal não é racista, é utilizar o mesmo quadro mental da esquerda que diz que todos os brancos são racistas. É reduzir pessoas a uma classe. Recuso-me a alinha numa visão do mundo que é a simples inversão do pensamento da esquerda.

Direita e esquerda são categorias nascidas da Revolução Francesa, e são filhas da mesma cultura. Desta cultura que descarta o homem, criado à imagem de Deus, como centro da politica, e divide a sociedade em classes ou categorias e coloca o Estado no lugar de Deus. Na esquerda é o povo, os operários, as minorias. Na Direita é a nação, o Estado, os bons cidadãos.

E não vale a pena dizerem que os Liberais são diferentes, porque são contra o Estado. Porque, como a Iniciativa Liberal tem provado, são contra o Estado na economia, mas depois acham que este tem o dever de impor uma definição de Vida, de Casamento e de Família.

A única hipótese de romper com hegemonia da esquerda, é romper com a cultura que esta impõe. Este sempre foi para mim o atractivo da democria-cristã. Um doutrina politica não centrada na ideologia, ou na dicotomia direita/esquerda, mas  no bem comum, ou seja no bem de cada homem concreto. Esta é a cultura, centrada no homem e não em ideologias, que permite realmente romper com a visão da sociedade que nos tem vindo a ser imposta desde a Revolução Francesa.

Uma doutrina que diante do mal concreto, não se detém a perguntar se esse mal é direita ou de esquerda. Uma doutrina que é clara nos princípios e concreta na acção.

Por isso, recuso esta direita ideológica e tribal, mais ocupada em combater a esquerda do que em construir uma sociedade melhor. E penso que, enquanto a direita assim se mantiver, a esquerda vai continuar a dominar, mesmo que não seja poder. Porque independente de quem ocupe a cadeira do poder, esta direita vai sempre dançar ao som da música que a esquerda  tocar.

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