Hoje no Parlamento, e de uma só assentada, vai se acabar com os debates quinzenais com o Governo, com os debates antes dos Conselhos Europeus, vai se dificultar a vida aos movimentos de cidadãos que queiram concorrer às autárquicas (únicas eleições a que podem concorrer aliás) e aumentar o número de assinaturas para uma petição ser levada a plenário. Tudo alterações nascidas do arranjinho entre o PS e a sua versão D.
Estas alterações significam menos escrutínio ao Governo e ainda mais dificuldades na participação dos cidadãos na vida política. É a política cada vez menos pública e cada vez mais tratada dentro de portas, nos directórios dos partidos, sem a maçada de ter que, ainda que só aparentemente, prestar contas a quem quer que seja.
Não espanta nada que o PS apoie estas medidas. De facto para o socialismo o poder é o Estado, que zela pelo bem dos seus cidadãos. O socialismo português é herdeiro do liberalismo francês, que substituiu o absolutismo real pelo absolutismo dos burgueses. Para os socialistas o Povo é uma entidade abstracta, apenas usada como arma de arremesso. De resto desconfiam do mesmo, e tem bastante medo de lhe entregar o poder. Para os socialistas o governo do país deve estar entregues aos iluminados que sabem governar, e o povo deve estar grato por ter tão excelsos governantes.
Podia causar espanto a posição do PSD. Mas a verdade é que não causa. Porque este PSD no fundo é apenas um PS daqueles que só não estão no PS por causa de Sá Carneiro (provavelmente não estão no PS porque a carreira parecia mais prometedora no PSD, mas não estraguemos uma boa história).
De facto o PSD de Rio é uma cópia barata do PS. Rio tem a mesma mentalidade de António Costa, mas menos desenvolvida. Mas isso não o preocupa, pois ele não vê qualquer problema em ser subordinado de Costa. Aliás, desconfio que até preferia sê-lo.
Para o actual líder do PSD a governação é um assunto demasiado importante para ser tratado por pessoas menores. É um assunto para pessoas sérias, que não tem tempo a perder com ninharias, como o escrutínio parlamentar ou a intervenção cívica.
Rio, tal como Costa, não acredita na democracia. Acredita no governo das elites, cabendo ao Povo apenas decidir que parte da elite é que governa. O resto, deve ser tratado por aqueles que “percebem do assunto”, para evitar demagogos e populistas. E todos os meios são lícitos para garantir esse fim. Desde recorrer a caciques suspeitos de ilegalidades para ganhar eleições internas, até diminuir o poder do Parlamento de escrutinar o Governo, passando por atacar a comunicação social de cada vez que esta ousa questionar as decisões das pessoas sérias que não tem tempo a perder a justificar os seus actos.
Hoje perspectiva-se um dia negro para a Democracia. Não apenas pelos projectos em si (que são maus) mas pelo simbolismo desta aliança do Centrão para diminuir a intervenção do Parlamento e dos cidadãos na política.
É urgente uma reforma do sistema político. Não podemos continuar a viver nesta partidocracia, onde o poder reside não no povo, mas nos órgãos dos partidos. Onde o presidente de uma Distrital eleito através de cacicagem partidária, tem mais poder que um deputado eleito pelo voto popular. Sem essa reforma continuaremos a viver neste simulacro de democracia, onde o que realmente conta é a decisão dos lideres do Centrão.
Tudo isto reduz o papel do Cidadão ao nível do conceito abstrato de um número que tem relevância unicamente para efeitos estatísticos.
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