terça-feira, 9 de abril de 2024

Henrique, o gajo de Alfama


 

De há uns anos a esta parte que Henrique Raposo chamou a si a tarefa de ser um verdadeiro intérprete da tradição da Igreja, o garante da pureza evangélica e o guardião da fé. Por isso de vez em vez brinda-nos com um artigo onde denuncia uns quaisquer hereges que, ao contrário de si, sempre cheio de caridade, são responsáveis por uma quantidade de malefícios para o mundo e para a Igreja.

O problema é que se é verdade que Henrique Raposo escreve com toda a arrogância de um Doutor, os seus argumentos em geral estão ao nível do gajo de Alfama. Henrique Raposo tem certezas sobre todos os assuntos, sobretudo aqueles sobre os quais nunca estudou ou trabalhou. E exibe a sua ignorância nos jornais com a mesma arrogância de um bêbado na tasca do bairro.

Entre as pérolas com que já nos brindou, está um artigo onde explicava que um aborto em caso de violência era uma questão de legítima defesa (demonstrando que nem se deu ao trabalho de ler a definição de legítima defesa do Código Penal), um artigo onde se propunha a corrigir Santo Agostinho e repetidas proclamações de que um nacionalista não pode ser católico, deixando assim claro que nunca pousou os olhos na obras do Padre António Vieira ou na poesia de Peguy.

Raposo é em tudo igual ao gajo de Alfama: não estuda, não lê, mas tem opiniões sobre tudo, convencido da sua genialidade, incompreendido pelo mundo, mas tudo julgando com rigor a partir do seu pequeno mundo. Só lhe falta o lugar na mesa da tasca e a tacinha de tinto.

Nestes dias o gajo de Alfama alçado a cronista decidiu escrever um artigo onde, a propósito do livro Família e Identidade, insulta todos os que defendem a Vida e a Família. Não tenciono responder ao artigo, é um conjunto de insultos, com afirmações categóricas sem qualquer referência, e conclusões ideológicas, quando por exemplo explica que ao não falar do motherhood gap os autores do livro contribuíram para o crescimento da direita populista e machista (aparentemente ele explicar a Manuela Eanes ou a Isabel Galriça Neto sobre com o que as mulheres se devem preocupar não é machismo). Mas fico impressionado que um homem adulto não perceba a figura ridícula que faz quando insulta um conjunto de personalidades com obra académica, profissional, social e política extraordinária sem pelo menos se dar ao trabalho de estudar os temas ou ler o que eles escrevem. Não terá Henrique Raposo sentido do ridículo? Não percebe o quão absurdo é um homem cuja única obra conhecida é escrever artigos medíocres, explicar a Manuela Eanes que ela não se preocupa com a vida das crianças em concreto? Ou a Dom Manuel Clemente a doutrina da Igreja? Ou em acusar Guilherme de Oliveira Martins de contribuir para o crescimento da direita populista?

Os autores do livro não precisam de defesa, a sua obra fala por si. Mas Henrique Raposo precisa de um amigo daqueles que, vendo o gajo de Alfama completamente bêbado a fazer figura ridículas na tasca, o leva discretamente para casa.

P.S.: O gajo de Alfama não é uma referência aos moradores do bairro lisboeta, mas à famosa personagem do Ricardo Araújo Pereira. 

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