terça-feira, 22 de outubro de 2024

Eu só quero educar os meus filhos

 



Eu só quero ensinar aos meus filhos que somos criados à imagem e semelhança de Deus. Que homem e mulher os criou e que não existe um género diferente do sexo. Os papéis de género, como hoje pomposamente são chamados, são resultados da biologia e das circunstâncias históricas. E se alguns podem mudar e evoluir conforme as circunstâncias vão mudando, há outros que são inatos à natureza humana.

Eu só quero educar os meus rapazes a respeitarem as raparigas, a carregar os pesos, a dar prioridades nas portas e os lugares sentados. Quero que aprendam que objetivar uma mulher não é ser homem, é ser selvagem. Educar para que tenham a coragem de defender as mulheres dos selvagens que as tratam como objetos.

Eu só quero educar a minha filha para o facto de que o mundo é um lugar mais perigoso para as mulheres do que para os homens. Quero educá-la a ser prudente, porque infelizmente há demasiados homens em quem não se pode confiar. Quero educá-la que não há nada de empoderamento em exibir o corpo para impressionar os homens, e que não há qualquer mal em ser considerada púdica.

Quero educar os meus filhos, os rapazes e a rapariga, para o valor do amor, da virgindade, da pureza. Educá-los a reconhecer o outro como pessoas e não como objeto de prazer, e o seu próprio corpo como morada o Espírito Santo. Quero educá-los para a beleza da sexualidade, vivida de forma responsável, realmente livre, como aliança entre homem e mulher. Quero que saibam que a liberdade não é ser escravo do instinto, mas viver de acordo com a nossa natureza.

Eu só quero educar os meus filhos para a dignidade da vida humana, desde o momento da concepção até à morte natural. Ensinar-lhes que cada pessoa, independentemente do seu tamanho, da forma como vive, da forma como ama, como se identifica, da cor da pele, da filiação política, da sua saúde ou capacidades, tem em si mesmo um valor infinito. E que por isso deve ser amada e respeitada. Ensinar-lhes por isso que o aborto é um mal, que o racismo é um mal, que tratar mal o outro por ser diferente é um mal. Mas também ensinar que não há amor sem verdade.

Eu só quero educar os meus filhos naquilo em que acredito, porque desejo o melhor para eles. Depois, bem sei que com o tempo eles irão desenvolver as suas ideias, e poderão até não concordar comigo. E continuarei a amá-los de igual forma se assim for. Mas também sei que é meu dever dar-lhes o que tenho de melhor. E a minha Fé é o que tenho de melhor para lhes dar.

Respeito quem não concorda comigo. Quem deseja educar os filhos de outra maneira. Quem acredita que há tantos géneros como vontades ou que a verdadeira liberdade é viver ao sabor dos nossos instintos. E não tenho qualquer vontade de educar os seus filhos. Eu só quero é que me deixem educar os meus.

E é isto que está em causa na discussão sobre a Educação para a Cidadania. É a liberdade de cada um educar os seus filhos da forma que acredita ser melhor para eles. 

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

A coragem da paz



Há um ano a esta parte agudizou-se a sensação de que era preciso estar com Israel ou com a Palestina. Criou-se um ambiente onde parece que não é possível condenar os actos bárbaros do Hamas em 7 de Outubro e ao mesmo tempo condenar a forma como Israel tem respondido a esses ataques.


Mas a verdade é que é possível. É perfeitamente possível reconhecer que o Hamas é um grupo terrorista, que os ataques de 7 de Outubro foram totalmente bárbaros, que o Hezbollah é outro grupo terrorista, que Israel tem direito, não apenas a existir, mas também a defender-se, e ao mesmo tempo condenar a terraplanagem de Gaza, a invasão do Líbano e defender o direito dos palestinianos a um Estado só seu.

É possível defender a paz e a justiça para judeus e árabes, sem ficar preso nas barricadas ideológicas. É possível estar do lado da paz e não do lado de um dos contentores.

O problema na Terra Santa é já antigo, e ambos os lados têm razões de queixa. Ambos têm imensas razões e nenhuma delas justifica as atrocidades que ambos os lados têm praticado. E não vale a pena justificar os actos de Israel dizendo que o Hamas é pior: claro que faz, é um grupo terrorista, Israel é um Estado, mas seria melhor se se comportasse do mesmo modo. A única solução para o conflito na Terra Santa é a Misericórdia e o Perdão, para que judeus e árabes possam viver em paz e justiça na terra onde vivem.

Respondendo ao apelo do Patriarca Latino de Jerusalém, o valente Cardeal Pizzaballa, o Papa Francisco convocou um dia de jejum e oração pela paz. É preciso coragem para defender a paz e ainda mais para a construir. É mais fácil escolher um lado da barricada e defender esse lado até ao fim. Mas o resultado dessa política está à vista: morte, destruição e guerra. Por isso tenhamos a coragem também nós de construir a paz.

Rezemos por isso à Rainha da Paz, para que através do Seu Filho, o mundo conheça a paz, especialmente na terra em que Ele escolheu habitar.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Faltam Imigrantes e falta controlo

 


Qualquer pessoa que conheça o país fora de Lisboa sabe que não há imigrante a mais. Somos um país assolado por uma crise demográfica há décadas, enquanto o número de emigrantes tem aumentado. O resultado é que, mesmo com a imigração, há um sem número de sectores que enfrenta uma crise de mão de obra.
E também não é verdade que precisemos de mão de obra qualificada. Não precisamos de médicos, engenheiros, gestores, cientistas, etc.: esses formamos em quantidade e qualidade nas nossas universidades, só precisamos de conseguir que não abandonem Portugal. A imigração que precisamos é mesmo para trabalhar no campo, na pesca, e vários outros sectores que até ao “boom” da imigração não encontravam mão de obra.
Evidentemente podemos discutir se a imigração em massa não tem um efeito perverso sobre esses sectores, permitindo manter uma política de baixos salários, perante trabalhadores que não têm a mesma capacidade negocial que os portugueses. Mas isso não significa que tenhamos imigração a mais.
Então isto significa que não há qualquer problema com a imigração em Portugal? Não, significa apenas que o problema não é haver muitos imigrantes, mas a total incapacidade do Estado de fiscalizar a Imigração. Abrir as portas à Imigração sem ter a capacidade de lidar com os processos de legalização, sem garantir que há capacidade para alojar estas pessoas, sem saber se têm emprego, sobretudo sem investigar a forma como cá chegaram, dando carta livre às redes de tráfico para explorar pessoas pobres à procura de uma vida melhor, é um crime humanitário.
Quem defende uma política de portas abertas sem qualquer critério defende tanto os imigrantes como André Ventura e as grupetas neo-fascistas a que ele andou a piscar o olho neste fim-de-semana. Uns e outros usam pessoas em situação especialmente frágil como arma de arremesso político, sem qualquer vergonha.
Sim, Portugal precisa de Imigrantes. E precisa de Imigrantes que estejam dispostos a fazer trabalhos duros e mal pagos. Mas o Estado tem a obrigação de garantir que os imigrantes têm condições de vida e de trabalho dignas. Não pode continuar a acolher pessoas que vêm dormir na rua, explorados por redes de tráficos, sem qualquer esperança de legalização e sem condições para se integrar na sociedade. O discurso humanista das portas abertas esconde a exploração de milhares de pessoas sob a incompetência do Estado.
Mas é preciso clareza. Acreditar que é preciso controlar a imigração não se confunde com o nojento discurso do Chega, que sentindo-se apertado nas sondagens, com medo de novos influencers fascistas nas redes sociais, adopta envergonhadamente a linguagem de movimentos racistas, desumanizando os imigrantes e atacando o principio básico da civilização ocidental, herdeiro do Cristianismo, de que todos os homens foram criado à imagem e semelhança de Deus. E aqueles que enchem a boca em defesa dos valores cristãos, pregam contra o islão e enchem a boca com a defesa da vida, deviam corar de vergonha quando tratam os imigrantes da mesma forma que os defensores do aborto tratam os embriões. Podem tentar enganar a consciência, com discursos redondos, mas só tentam disfarças o indisfarçável: que caminham lado a lado com Mário Machado e amigos, ecoando os mesmos hinos que os movimento neo-nazis cantam por essa Europa fora.
E por fim, não posso deixar de referir os católicos que publicamente participam nesta campanha contra a imigração e que este Domingo orgulhosamente marcharam explicando que Portugal é nosso e clamaram pela deportação: o Papa tem sido claríssimo sobre a imigração. E ouvir o Papa quando fala do aborto, mas ignorar quando fala sobre migrantes, é igual à extrema-esquerda que ouve o Santo Padre sobre o migrantes e depois ignorar o Bispo de Roma quando fala sobre o aborto. Não se pode servir a dois senhores, não se pode servir o poder e a Cristo.
No centro da política deve estar o Ser Humano. Seja uma criança por nascer, seja um imigrante. É justo e humano defender políticas de imigração ajustadas, capazes de acolher imigrantes sem descurar os que já estão cá estão que precisam de apoio. Mas não confundamos uma preocupação humana por aqueles que chegam ao nosso país com o egoísmo e o racismo daqueles que considera que o humanismo é apenas para aqueles que nasceram no local certo.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

5 Mitos Sobre A Escola

 


O começo do ano escolar é sempre boa altura para lembrar alguns dos mais famosos mitos sobre a escola em Portugal, que apesar de todas as evidências, continuam a existir.

1. A Escola Pública é do Estado: Este é talvez o maior e mais arreigado mito sobre a Escola em Portugal. Vivemos num país tão centrado no Estado que não somos capazes de conceber que alguma instituição possa ser pública se não for do Estado.

Mas é evidente que uma escola cujo fim é educar crianças está a prestar um serviço público, seja ou não do Estado. Uma Escola que pertence a uma paróquia ou uma fundação é tão pública como uma que pertence ao Estado. O facto de a Rede de Expressos pertencer ao privado, não faz que tratemos as suas camionetas como transportes privados. Ou os táxis.

A divisão não é entre escola pública e escola privada, mas entre escola estatal e escola não estatal.

2. A Escola tem de ser neutra: Educar nunca é neutro. Um professor parte sempre da sua circunstância para ensinar os alunos. Os professores não são robots. É evidente que a Escola deve ser um espaço de liberdade, mas nunca poderá ser neutra, se assim for, não educa.

Quando eu escolho este poeta ou aquele filósofo, quando atribuo mais peso a um acontecimento histórico que outro, quando aposto mais nas artes ou nas ciências, nada disto é neutro, tudo isto é fruto de uma forma de olhar o mundo, que provavelmente será diferente da do outro.

3. A Escola só ensina, quem educa é a família: Este mantra é muitas vezes repetido por quem defende a liberdade de educação, mas é falso. É evidente que a Escola educa e deve fazê-lo. A Escola tem como fim ajudar as famílias na educação dos seus filhos.

É impossível educar os filhos sozinho. Os pais precisam de ajuda nesta missão. E o direito que têm de educar os seus filhos, é um direito funcional, ou seja, um direito que tem como fim exercer um dever, neste caso educar os filhos. E para isso a escola é uma ajuda essencial.

Por isso, é importante que a família e a escola não vivam de costa voltadas, mas em aliança, procurando o melhor para as crianças.

4. A liberdade de escolher a Escola é para beneficiar os ricos: Este é o mito mais absurdo, porque os mais ricos são precisamente os únicos que podem escolher a escola dos filhos em Portugal. Criar condições para que todos o possam fazer beneficia precisamente aqueles que hoje são obrigados a colocar os filhos na escola do seu código postal porque não têm dinheiro para escolher outra escola.

Assim, as crianças dos bairros degradados vão para escolas degradadas, as dos bairros com melhores condições para escolas mais bem equipadas e os que têm dinheiro para isso, podem escolher. E assim temos uma escola bem estratificada, onde ricos e pobres não se misturam e, sobretudo, os que menos podem, estão condenados a ser servos da gleba do Ministério da Educação.

5. A Escola pública garante a igualdade entre todos: Este mito não é apenas falso, como é contrário à realidade. A escola estatal, como hoje está concebida, centralizada, totalmente dependente do Ministério da Educação, é o garante da desigualdade entre as crianças.

A igualdade é tratar o que é igual de forma igual e de forma desigual o que é desigual, na medida dessa desigualdade. Ou seja, não é igualdade tratar uma criança com dois pais licenciados, com acesso a explicações, com acesso a cultura, a internet e com capacidade económica com uma criança que os pais mal sabem ler, que mal têm dinheiro para comprar os manuais, que nunca sai do seu bairro e que os pais saem de madrugada para trabalhar e só voltam à noite, mal tendo dinheiro para comer.  É evidente que estas crianças têm necessidades educativas diferentes. Contudo, a Escola estatal, para ser igualitária, põe-nos a concorrer em igualdade de circunstância. Depois ficamos muito espantados quando numa escola todos vão para a Universidade e noutra não vai ninguém.

 

 

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Aborto até às 12 semanas? Alguns pontos

 


1. O Partido Socialista, depois de ter descoberto que era urgente regulamentar a morte a pedido, mesmo não o tendo feito em 10 meses no Governo, descobriu agora a urgência de alargar os prazos do aborto legal, ao fim de 8 anos com maioria de esquerda no Parlamento, dois dos quais com maioria absoluta.

Esta urgência, descoberta sempre quando já nada pode fazer, demonstra bem a utilidade destas leis para os socialistas. Poucos lhes interessa as grávidas em dificuldade ou os doentes, só lhes interessa marcar a agenda política com temas que demonstrem o seu “progressismo”, que dividam a direita e que lhes permita ocupar tempo de antena. As mulheres e os doentes são apenas bandeiras para utilizar à conveniência do PS.

2. Não há diferença entre um aborto às 10 semanas e às 12 semanas, como agora o PS veio propor. O nascituro tem sempre igual dignidade, pelo que não é que a lei actual seja boa ou equilibrada.

O problema é que alargar o prazo do aborto legal vem aumentar o tempo em que é negado ao nascituro a sua dignidade de ser humano e também aumentar a possibilidade de abortar.

Por isso se o aborto é igualmente mau às 10 ou às 12 semanas, uma lei que aumenta o prazo legal do aborto é sempre pior, porque diminui ainda mais a protecção jurídico do bebé no ventre materno.

3. Em 2007, aquando do segundo referendo ao aborto legal que o sim finalmente ganhou, todos os apoiantes da nova lei afirmavam com clareza que ninguém era a favor do aborto, que o único objectivo era impedir as mulheres de serem presas e que não se estava a liberalizar o aborto, apenas a descriminalizá-lo.

Hoje o Partido Socialista defende, apesar das juras de 2007, que o aborto é um direito fundamental. Claro que ao mesmo tempo defende que o aborto à 13ª semana de gravidez é um crime. Se assim não fosse não propunha liberalizar até às 12 semanas, antes propunha a sua legalização até ao término da gravidez. Uma coisa não pode ser um direito fundamental e um crime ao mesmo tempo. A posição do PS é evidentemente incoerente

O objetivo é claro, repetir em voz alta vezes suficiente que o aborto é um direito fundamental até que toda a gente repita o dogma, tratando qualquer pessoa que se lhes oponha como um ditador. Tem feito o seu caminho.

4.  Esta hipocrisia do PS não pode deixar de levantar a pergunta: porquê 12 semanas? Como chegaram a esta data? O que muda às 12 semanas que transforma um direito em um crime? A resposta é simples: nada.

Um nascituro às 12 semanas é igual a um de 13. Não há qualquer base científica para esta decisão. São 12 como podiam ser 13 ou 14 (provavelmente 14, porque, por alguma razão, são sempre um número par de semanas).

O critério para o prazo do aborto legal é sobretudo a opinião pública. Já em 1997 foi assim. Quando a primeira proposta para legalizar o aborto até às 12 semanas chumbou a JS (liderada por Sérgio Sousa Pinto) baixou para as dez e passou (para depois ser chumbada em referendo). E a única razão é que o prazo tem de ser um número que a população ache aceitável.  Preferencialmente antes da data da primeira ecografia, não vá alguém perceber que está ali um bebé.

5. Já foram feitos em Portugal mais de 256 mil abortos legais. Para se ter ideia, o concelho do Porto tem 214 mil habitantes. Num país onde não nascem bebés, onde as grávidas dão à luz na autoestrada, onde não há creches, onde as famílias não têm dinheiro para ter filhos, alguém poderia achar que a urgência não é aumentar o número de abortos mas sim diminuí-los.

Só que infelizmente combater as causas sociais do aborto, apoiar as grávidas em dificuldade e defender medidas de apoio à família dão menos tempo de antena do que aumentar os prazos do aborto. E por isso, para o PS, que quer fazer o país esquecer o estado em que deixou o país, a solução é mesmo criar condições para mais abortos.

6. Espero que a Direita que durante anos explicou que este era um não assunto, incluindo os líderes partidários que se deixam fotografar a rezar piedosamente para depois apoiarem a actual lei, percebam finalmente que o aborto será sempre um assunto. A única questão é se é discutido como arma de arremesso político ou como o drama que realmente é.

Da eutanásia e da falta de vergonha - Observador, 17/09

Em qualquer país civilizado, uma lei que teve o parecer contrário de todos os especialistas e foi chumbada duas vezes pelo Tribunal Constitucional estaria enterrada. PS, IL e Bloco acham-na urgente.

Levantou-se nos últimos dias um grande sururu de indignação, pelo facto de o Governo ainda não ter feito a regulação da lei da morte a pedido. Os suspeitos do costume, que há 20 anos se dedicam a ser a “sociedade civil” das causas fraturantes (suponho que até já haja um ficheiro com a sua assinatura digital para cada vez que se lembram de fazer uma carta aberta), vieram clamar pela regulamentação da lei.

A deputada Isabel Moreira e a agora eurodeputada Catarina Martins, à boleia deste clamor da “sociedade” (que no fundo são os seus companheiros de salão) desdobraram-se em declarações, a afirmar que era urgente regulamentar esta lei, que a lei tinha sido muito escrutinada e que o Tribunal Constitucional até já se tinha pronunciado sobre ela.

Confesso que fico sempre espantado pela falta de vergonha de alguma gente, que faz declarações públicas sem qualquer pudor, como se as pessoas não tivessem memória.  Ao contrário do que Isabel Moreira pensa, as pessoas lembram-se de que esta lei foi aprovada em maio de 2023 e o PS foi governo até março de 2024. Ou seja, o PS teve mais de dez meses para fazer a regulamentação da lei, não o fez, e Isabel Moreira e seus amigos nunca sentiram qualquer urgência em exigir que o fizesse. Mas aquilo que durante dez meses não era urgente, passou a prioridade nacional em menos de seis meses de governo da AD.

Mas esta mudança de coração resume bem a posição do PS e do Bloco sobre a eutanásia desde o princípio: um paliativo para que o país ignorasse as dores da governação da esquerda. Isabel Moreira bem sabe que, enquanto discutimos a morte de quem sofre, não se fala da ausência de cuidados paliativos, das urgências fechadas, das cirurgias adiadas, enfim, não se fala do estado terminal em que o PS deixou o Sistema Nacional de Saúde. Para a esquerda, a morte a pedido sempre foi uma bandeira útil para distrair o país do caos da sua governação.

Mas a falta de vergonha não se fica por aí. Diz a deputada socialista e os seus amigos (que repetem sempre os mesmos mantras), que a lei já foi muito escrutinada e que as pessoas esperam por ela. Ora, é espantoso que agora se lembrem das pessoas, quando não só se recusaram sempre debater o tema em campanha eleitoral, como ainda rejeitaram o pedido de referendo assinado por mais de 95 mil pessoas (que por não serem notáveis, não mereceram da parte de Isabel Moreira, Catarina Martins e seus amigos, mais do que insultos). Mas pior ainda, é verdade que a lei foi escrutinada, já que foi apresentada mais de cinco vezes no Parlamento. Mas é preciso lembrar que o Partido Socialista, o Bloco e a IL recusaram os pedidos de audiência de várias associações (alegando que já tinham sido ouvida outras), mas sobretudo, que os pareceres obrigatórios das Ordens Profissionais e do CNECV foram sempre negativos. A lei foi escrutinada e rejeitada pelos especialistas.

Se eu apresentasse uma lei que teve a oposição das Ordens dos Médicos, dos Advogados, dos Enfermeiros, do CNECV, da Associação Nacional de Cuidados Paliativos, da esmagadora maioria dos catedráticos de Direito Público, de todos os Bastonários dos Médicos vivos, e de um enorme conjunto de associações e personalidades, teria um pouco de vergonha antes de falar em escrutínio. A lei foi escrutinada e os deputados rejeitaram esse escrutínio!

Mas a maior falta de vergonha é quando os apoiantes da eutanásia dizem, com ar sério, sem se rir, que o Tribunal Constitucional já se pronunciou duas vezes sobre o assunto. Esquecem-se é de acrescentar que das duas vezes o TC declarou a lei inconstitucional! O que aliás explica que os “notáveis” não queiram agora voltar a esperar pelo TC.

Desde o princípio deste processo que fica claro que estamos diante de um acto de despotismo de alguns deputados, que ignoram a vontade popular, os especialistas e até o próprio Tribunal Constitucional, para impor a sua vontade ao país. Em qualquer nação civilizada, uma lei que teve o parecer contrário de todos os especialistas e que foi chumbada duas vezes pelo Tribunal Constitucional, estaria enterrada. Em Portugal, pela birra do PS, do Bloco e da IL, é tratada como uma urgência.

É preciso de facto muito pouca-vergonha, sobretudo daqueles que têm ou tiveram responsabilidades governativas, para falar da urgência em regulamentar a morte assistida, quando mais de 75% dos que precisam de cuidados paliativos não têm acesso a eles, quando se morre à espera de cirurgias e tratamentos e quando os cuidadores continuam sem condições para cuidar.

Melhor faria Isabel Moreira se, em vez de vir usar a morte dos que sofrem como arma política, fizesse alguma coisa para garantir cuidados a quem sofre. Mas para isso era preciso que ganhasse alguma vergonha na cara.

sábado, 27 de julho de 2024

JO: Um culto a uma nova religião



1. A Liberdade de Religião é um Direito Fundamental e não é apenas um direito passivo, a rezar em paz. É também o Direito a que a sua Fé seja respeitada, que aquilo que se tem como mais querido não seja parodiado para deleite de quem odeia a Fé alheia.
Eu não peço que todos compreendam a sacralidade da Última Ceia. Aquele momento único na História onde, pela bênção do pão e do vinho, Deus se ofereceu carnalmente aos homens. Mas tenho direito a que respeitem esse momento.
A Liberdade de Expressão tem limites e o ataque à minha liberdade de praticar a minha Fé sem ser alvo de escárnio é um desses limites.
2. O historiador inglês Tom Holland, no seu podcast The Rest is History, definia as guerras culturais como disputa teológicas onde um dos lados não reconhece como tal.
Ontem em Paria ficou evidente que a cultura woke é de facto religiosa. É um culto que se quer impor por oposição ao cristianismo. Ao culto da beleza como sinal de Deus, impõe o culto da fealdade. Ao culto da natureza humana como criatura de Deus, impõe o culto do homem criado à sua própria imagem e semelhança. Ao culto pela sacralidade da vida humana, impõe o festejo pelos “santos” da cultura da morte.
Quando olhamos para o caos que reina na Europa, sobretudo em França, temos tendência a falar de uma guerra de culturas entre a Europa e o Islão. Mas é falso, a guerra é uma guerra civil: a Europa entrou em luta consigo mesma, procurando substituir a sua herança cristã por uma outra fé, baseada no ódio ao cristianismo.
É nas ruínas desta guerra que o extremismo islâmico e o populismo vão crescendo. Perante esta nova religião que adora o feio e o grotesco, florescem propostas que, ainda que de forma deturpada, parecem propor algum ideal mais de acordo ao coração humano.
3. A paródia da Última Ceia ontem realizada em Paris é ofensiva, mas é sobretudo preocupante. Não para os cristãos (“Bem Aventurados sereis quando vos injuriarem, será grande no Céu a vossa recompensa”) mas para a Europa. O nosso continente parece um jovem que saído da casa dos pais se preocupa em desperdiçar e destruir toda a sua herança para provar que é agora é senhor de si mesmo. Pelo caminho outros vão ficando com o que era seu, até que este acabe na miséria. Foi isso que o mundo ontem aplaudiu entusiasticamente em Paris

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Dez anos depois


Hoje há uma ideia e que um grande amor pressupõe aventura, suspense e drama. Gestos grandiosos que em geral se traduzem em férias em sítios paradisíacos, com direito a fotografias melosas nas redes sociais (e para os famosos, as revistas). Em geral o romance consiste em trocar a companheira por um modelo mais novo e menos tocada pelo tempo ou o companheiro por outro com mais sucesso e menos pneus.

Confesso que esta ideia me atrai muito pouco. Nada há nada de extraordinário num amor que consiste numa constante satisfação de sensações e que se perde no sentimentalismo de um instante fugaz. Um amor que dura enquanto entretém, mas que se desfaz na monotonia do quotidiano.
A mim interessa-me muito mais o amor constante, construído no dia-a-dia. O amor de quem se doa ao outro, o amor que dá frutos através dos filhos, o amor que se manifesta não em selfies em praias desertas, mas em apanhar meias do chão.
Tenho a graça de na minha vida ter vivido coisas grandiosas. Liderei manifestações, participei em debates, liderei equipas, escrevi artigos, executei campanhas políticas, até acabei em segundo lugar um congresso do meu partido! Mas nada me comove mais que voltar a casa, para junto da minha mulher e dos meus filhos.
Com certeza que manter a linha perfeita e fazer declarações de amor no Instagram é muito romântico, mas confesso que prefiro aquela que me instiga dar o meu tempo a defender aquilo em que acredito, mesmo que isso signifique que ela vai ficar sozinha com os miúdos mais tempo, ou que não me deixa calar, mesmo quando aquilo que digo ou escrevo tem um custo no orçamento da família.
Já sei que hoje não se pode dizer isto sobre uma mulher, porque é reforçar estereótipos de género, que esta minha ideia é uma forma do patriarcado oprimir a mulher. Mas a verdade é que a minha mulher é muito mais livre do que todas as mulheres empoderadas que vejo por aí. Uma extraordinária educadora de infância, uma amiga sempre preocupada com os seus amigos, uma mãe extremosa (nem sei se ainda se pode usar esta expressão) e sobretudo, pelo menos no que a mim me toca, uma maravilhosa companheira de naufrágio, para parafrasear Tolkien.
Passaram-se já dez anos, de uma penada. E muito aconteceu nestes dez anos, incluindo uma certa dose de sofrimento (e muitíssimas alegrias). E ela esteve sempre lá, ao meu lado, à minha espera, a cuidar de mim. Para os próximos dez (e vinte, e trinta, e quarenta e os todos os que Deus nos conceder), não peço nada de incrível, pelo contrário. Peço esta coisa banal, que é o quotidiano vivido ao lado dela. Porque isso sim, é um algo extraordinário.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Afinal o problema não era o retorno

 


Durante meses, antes, durante e depois das JMJ, os custos da mesma, assim como as dúvidas sobre o seu retorno financeiro, foram tema dominante no ciclo noticioso. Desde Agosto que vários comentadores exigiram ver os resultados económicos das Jornadas, garantido que, apesar do sucesso estrondoso de participação e de dias de publicidade para o mundo inteiro, a JMJ tinha sido um fiasco.
Ontem Carlos Moeda apresentou o estudo do impacto económico das JMJ, que conclui que tiveram um retorno de 370 milhões de euros para o país, dos quais 290 na região de Lisboa. Torna-se evidente que, para além do retorno imaterial porque Moedas foi tantas vezes gozado, também do ponto de vista do retorno material as Jornadas foram uma aposta ganha.
A CML investiu 37 milhões de euros, dos quais a maior parte foi investido no Parque Tejo e em equipamentos para a cidade (na JMJ a CML só investiu directamente 6 milhões) e o retorno financeiro mais que compensou o investimento (sendo que Lisboa ganhou um novo parque urbano, recuperou parte do Parque Eduardo VII e novo equipamentos para os serviços da CML).
A isto soma-se o lucro de 30 milhões da Fundação JMJ, que serão distribuídos por instituições de solidariedade social em Lisboa e Loures.
Resumindo, o investimento público nas Jornadas traduziu-se não apenas num sucesso de publicidade para o país, como significou um retorno financeiro brutal. E é evidente que Moedas, que foi quem sempre teve a coragem de dar a cara por este evento, é um dos vencedores desta aposta.
Mas, misteriosamente, apesar de finalmente haver o estudo tão ardentemente pedido, onde fica claro que, apesar de todas as más-línguas, a JMJ significavam, para além de tudo o mais, um retorno brutal para a economia, não foi notícia. Quem por acaso não siga Moedas nas redes sociais arrisca-se a passar ao lado da novidade.

Este silencio deixa claro que o problema nunca foi com o dinheiro que foi o gasto. O problema sempre foi com o sucesso extraordinário das Jornadas, que demonstraram que, ao contrário do que os bem-pensantes gostam de afirmar, a Igreja está viva e jovem.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

O racismo é parvo mas não é crime

 


1. O Direito Penal é a ultima instância do Direito. Este ramo do Direito serve para salvaguardar direitos fundamentais que não podem ser salvaguardados de outra forma. Ou seja, só é crime, a ofensa a bens jurídicos importantes que não podem ser defendidos de outra forma. Por exemplo, cuspir na rua é ilícito mas não tem importância suficiente para ser crime.


2. O racismo, em si mesmo, não é crime. Se eu for na rua e mudar de passeio porque vejo uma pessoa de um etnia que não gosto ou se habitualmente der o lugar as senhoras no autocarro e não o fizer porque a senhora é de um determinada etnia, é moralmente e socialmente reprovável, mas não é crime. Nem sequer é crime se, numa conversa privada, eu fizer observações sobre certos povos.


Um comportamento para ser crime tem que violar um direito de um terceiro (ainda que em abstracto). Ser um selvagem não é algo que se recomende, mas não em si mesmo crime.


3. O racismo é crime quando, de alguma forma, ofende o direito fundamental de um terceiro e não houver outra forma de o defender. Por exemplo, se eu me cruzar no passeio com alguém de outra etnia e o mandar sair da frente porque não quero cruzar-me com pessoas dessa etnia, provavelmente estarei a incorrer num crime. Como será crime se defender publicamente que as pessoas de um determinada etnia devem ser tratadas de forma diferente pelo facto de serem dessa etnia. É crime porque em ambos os casos estou a atacar direitos fundamentais de terceiros.


4. Afirmar publicamente que um povo não gosta de trabalhar é crime? Dificilmente, porque dificilmente isso irá afectar os direitos de terceiros. Sim é insultuoso, mas os insultos em si mesmo não são abstratos. O Direito Penal não existe para punir todas as faltas sociais. Uma graça de mau gosto é isso mesmo, uma graça desagradável, não um crime.


5. O incidente de hoje com Ventura é uma estratégia da esquerda. Gritar racismo ou qualquer outros dos capitais capitais dos dias de hoje de cada vez que abre a boca, dizer que é um criminoso e anti-democrático, serve apenas para se exaltar a si próprios como defensores da Liberdade e da Democracia.


Infelizmente a banalização do racismo tem uma consequência prática: é que se tudo é racismo então nada é racismo. Se tudo é crime, nada é crime. É como na história do Pedro e do Lobo, em que o Pedro grita tantas vezes Lobo, que quando ele aparece, ninguém acredita. A esquerda está tão ocupada a rotular piadas de mau gosto como crime que quando aparecem casos de racismo de facto, já ninguém lhes liga.


6. José Pedro Aguiar Branco foi o único que esteve bem hoje no Parlamento. Não caiu na armadilha de Ventura, não caiu na armadilha da esquerda e assumiu o seu papel como Presidente da Assembleia da República, não como censor dos bons costumes. Já percebemos que esta legislatura vai ser fértil em escândalos demagógicos deste calibre, com o Chega e a esquerda a abusar da demagogia à procura de acirrar os seus guerreiros sociais. Caberá a Aguiar Branco não permitir que a Assembleia da República se transforme no campo de batalha que ambos os contendores procuram.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Fátima: uma história inverosímil

 

Fotografia Arlindo Homem no site da Agência Ecclesia.

Fátima é uma história muito inverosímil. Por que razão Nossa Senhora, estando no Céu, podendo aparecer a quem quisesse, haveria de escolher três crianças analfabetas, de um ermo esquecido, no país mais atrasado da Europa? Não faria mais sentido aparecer a uma multidão ateia de Paris ou ao Rei protestante de Inglaterra? Não seria mais eficaz?

Mas se olharmos com atenção, este é o método de Deus desde a Sua Encarnação. Porque se parece pouco razoável aparecer a três crianças na Cova da Iria, não parece mais compreensível encarnar num pedaço esquecido do Império Romano (nem para província tinha estatuto) e escolher uma dúzia de populares, entre os quais o mais letrado era o cobrador de impostos!

Mas este é o método que Deus usou para se revelar. De forma misteriosa demonstra a Sua preferência revelando-se a um homem. Já assim era desde o tempo em que escolheu Abrão em Ur ou Moisés no Egipto e escolheu David, e Elias e todos outros profetas.

Por isso que Nossa Senhora tenha escolhido três crianças na Cova da Iria para entregar a sua mensagem pode parecer pouco eficiente a alguns, mas é simplesmente continuar a usar o método do Seu Filho.

E este método é um convite à liberdade de cada um. E é comovente que o amor maternal da Virgem Maria seja tal, que mesmo tendo o Seu Filho completado a revelação, a Sua Mãe se dê ao trabalho de vir até a um canto remoto de Portugal para nos convidar a converter.

Leio por estes dias, diante do espetáculo de beleza que é o povo na Cova da Iria no 13 de Maio, o habitual desfiar de disparates sobre Fátima. E comove-me ainda mais pensar que Nossa Senhora, que conhece o coração dos homens e por isso bem sabia que assim seria, mesmo assim amar de tal maneira o mundo que se sujeitou a ser alvo de tantas blasfémias só para nos salvar.

Fátima é sem dúvida inverosímil. Como Deus fazer-se carne no estábulo é. A nós resta-nos agradecer este estrondoso mistério e fazer como Nossa Senhora nos pediu.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

CDS: Um pouco de humildade ficava bem

 



Aconteceu este fim-de-semana o congresso do CDS. Eu, por motivos familiares, não consegui ir. Mas fui acompanhando os acontecimentos. E confesso alguma preocupação com a soberba (que alias, preocupação que tenho desde 10 de março).

A verdade é que o CDS entre 2015 e 2019 perdeu 13 deputados. Também devemos lembrar que nesse mesmo ano, não conseguiu recuperar o seu segundo eurodeputado, tendo como cabeça de lista o actual presidente.

Entre 2019 e 2022 o CDS viveu uma guerra civil, onde muitos dos actuais dirigentes tiveram participação activa. Alguns dos que hoje apoiam entusiasticamente o CDS chegaram a apelar ao voto noutros partidos em 2022.  Isto num partido falido. O resultado, com muita responsabilidade da direcção então no poder, mas também daqueles que lutaram até ao fim para garantir o seu falhanço, foi que não conseguimos eleger qualquer deputado.

Em 2024 o resultado das eleições deixou claro que o CDS não cresceu eleitoralmente (as sondagens já o indicavam) e que a eleição de dois deputados se deveu a coligação com o PSD. Coligação que Francisco Rodrigues dos Santos tentou em 2022 e que foi abertamente criticada por muitos dos que hoje apoiam a actual direcção e pelo próprio Nuno Melo.

Por isso, fingir que o que aconteceu nos últimos anos do CDS foi um desastre de uma única direcção e que está ultrapassado devido ao génio do actual presidente, não só é mentira, como é uma estratégia perigosa. Francisco Rodrigues dos Santos não foi o causador dos problemas do CDS, mas também não os conseguiu inverter. E Nuno Melo, também não, teve foi mais sorte e um partido mais pacificado.

O CDS tem agora, com o regresso ao parlamento e a presença no Governo uma segunda hipótese, que não fez por merecer, de renascer. Convém aproveitá-la com humildade. Temos dois bons deputados, o que me alegra. Mas é preciso fazer realmente prova de vida e não embandeirar em arco. Sobretudo, é preciso que o CDS deixe de ser uma coutada pessoal, dos de sempre, que se abra realmente e sobretudo, que volte a ocupar o seu lugar como o partido da Direita Social, com propostas e medidas concretas de apoio às famílias, no reforço da sociedade civil, no apoio aos mais frágeis, na defesa da liberdade, sobretudo na liberdade de educação.

A soberba é sempre um pecado, mas a soberba sem ter razões para isso é também um dos piores erros que se pode fazer em política.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Parem de importar guerras culturais!

 


Em 1997 o Partido Comunista propôs o aborto livre até às 12 semanas e foi chumbado. Ainda nesse ano, o Partido Socialista, pela mão do então presidente da JS, Sérgio Sousa Pinto, propôs a legalização do aborto até às 10 semanas. Para evitar a sua aprovação o então Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do PS, António Guterres, acordou com o presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro referendo da democracia. O referendo haveria de se realizar em Julho de 1998 e o resultado foi a vitória do “Não”.

Nos anos seguintes houve várias tentativas de legalizar o aborto livre, até quem em 2006, com o regresso do PS ao poder, foi convocado novo referendo, que se realizou em Fevereiro de 2007 e onde o “Sim” ganhou.

Desde então, foi legalizada a procriação artificial, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi proposta e chumbada a co-adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada a adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada, chumbada pelo Tribunal Constitucional e novamente aprovada as barrigas de aluguer, foi aprovada a Lei da Identidade de Género, foi votada seis vezes a legalização da eutanásia (chumbada no Parlamento, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República e finalmente aprovada e promulgada), foi proposto o aumento dos prazos do aborto.. Nestes anos foi introduzida a educação sexual obrigatória nas escolas, criada a disciplina de Educação para a Cidadania posteriormente tornada obrigatória, foram criados os Referenciais para a disciplina, que incluem a defesa do aborto e da ideologia de género.

Ou seja, nos último 17 anos quase todos os anos foram propostas leis ditas fraturantes, quase sempre pelos mesmo deputados e defendidas pelos mesmos protagonistas. Não houve legislatura (e quase não houve ano) em que estes temas não tenham sido colocados na agenda política por essas pessoas.

Por isso é especialmente irritante ouvir comentadores, em geral idiotas úteis de direita, a explicar que são os “conservadores” que estão a importar “guerras culturais”. Eu passei boa parte da minha adolescência e vida adulta a lutar sobre estes temas e, como dizem os miúdos, nunca fui eu que comecei. Eu não tenho qualquer interesse nesta agenda, foi a esquerda progressista (agora adoptada pela IL) que decidiu importar estas causas para Portugal, nós limitamo-nos a opor-nos.

Por isso, se os senhores comentadores acham que estes temas não têm interesse, se consideram que desvia o foco dos assuntos fundamentais (e eu concordo) têm uma boa solução, a próxima vez que encontrarem a Isabel Moreira no Lux, ou se cruzarem com a Teresa Violante num estúdio, peçam-lhes que parem de importar guerras culturais. Nós agradecemos. Assim podemos começar a tratar dos assuntos realmente importantes como a pobreza, a saúde a educação e tudo aquilo que o PS prefere não tratar para se dedicar antes à causa woke.

E já agora aproveito para falar do progresso de que falam tanto, para defender a morte de crianças como direito fundamental. Eu percebo o glamour de estar a par das modas do estrangeiro, porque se no Eça a cultura vinha de Paris em caixotes, hoje vem dos Estados Unidos (mas continua a ficar-nos curta nas mangas). Mas eu tenho um enorme problema com este progresso: cheira a mofo! Este progresso tem o cheiro dos fornos onde os cartagineses sacrificavam bebés aos deuses, lembra o extermínio dos fracos e incapazes de Esparta, um déjà vu aos eunucos da Pérsia antiga. Este progresso tem o cheiro putrefacto de um cadáver com milhares de anos, vestido com roupas modernas para ser admirado por aqueles que desejam tanto parecer modernos que não percebem que retrocederam dois mil anos. Pessoalmente, eu prefiro continuar com o humanismo cristão, aquele que garante a infinita dignidade de cada ser humano. Pode não ser progressista, mas tem a enorme vantagem de ser verdade.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Debater o aborto: quanto vale o embrião?



Nos últimos tempos voltou ao debate público a questão do aborto. É possível notar uma mudança profunda neste debate. Se em 2007 o centro do debate era o valor da vida intra-uterina, neste momento esse assunto é completamente ignorado, sendo o aborto apresentado como se fosse uma mera questão de saúde feminina. Isso nota-se aliás na linguagem, quando se fala em direitos sexuais e reprodutivos.


Ora, se é verdade que os direitos da mãe são uma parte importante na questão do aborto, a questão realmente de fundo é saber qual o valor da vida por nascer. Porque se a vida que está no ventre da mulher não tem valor, então a discussão do aborto é apenas absurda. O aborto seria um acto médico qualquer e não fazia qualquer sentido ter sequer legislação especial. Mas se a vida intra-uterina tem valor, então a discussão só pode ser a partir de que momento é que ganha esse valor: porque é que as 9 semanas pode ser eliminado e às 11 não? Qual o critério para decidir o momento em que o embrião passa a mercer protecção jurídica?

A biologia é muito simples: a partir do momento da fecundação há um ser vivo, com ADN próprio, que pertence ao género humano. Ou seja, a partir da fecundação há um novo Ser Humano. Isto é que o a ciência afirma. Aqueles que se opõem ao aborto afirmam que este facto, o simples facto de ser humano, é suficiente para que à aquela nova vida seja reconhecida toda a sua dignidade e deve por isso merecer toda a protecção legal.

Quem pelo contrário afirma até um certo prazo da gravidez o aborto deve ser legal afirma que para lhe ser reconhecido a dignidade não basta existir, tem que ter mais alguma característica. O seja, nega que o ser humano por si mesmo mereça protecção legal, mas que essa protecção depende do reconhecimento social do seu valor. Por ser um amontoado de células, por o coração não bater, por não ter sistema nervoso central, não é verdadeiramente humano como nós.

Podemos dar as voltas que quisermos, adocicar o debate, usar eufemismos e siglas, mas a verdade é simples: defender que o aborto é legal é defender que a dignidade do ser humano não é inata mas sim definida pelo poder. Está longe de ser a primeira vez na história que isto acontece e os resultados desta lógica são tragicamente conhecidos.

Eu percebo que há desafios gigantes ligado à gravidez. Desafios que afectam as mulheres. Mas esses desafios têm que ser enfrentados à luz do facto de que no útero de uma mulher grávida está uma vida humana. Ignorar este facto, desumanizar o embrião ou o feto, pode ajudar a sossegar a consciência, mas não resolve nenhuma injustiça. Pelo contrário agrava-a.

Para o mundo contemporâneo é mais fácil ignorar a questão da vida por nascer. É mais fácil dizer que a mulher tem na barriga uma coisa, que depois, num passo de magia, se transforma num bebé. Porque reconhecer que ali está um bebé significa enfrentar o horror dos milhões de vidas ceifadas anualmente pelo aborto. Reconhecer a dignidade infinita da vida por nascer significa dar-se conta da monstruosidade que a cultura do aborto introduziu no nosso tempo. E por isso é mais fácil esquecer o bebé, e reduzir o aborto a uma mera questão da intimidade da mulher.

Respeito o drama das mulheres que não desejam ter os seus filhos, das mulheres que procuram aborto ilegal, das mulheres que estão em situações de dificuldade e estão grávidas. E defendo uma sociedade que apoia e acolha essas mulheres, assim como todas as mulheres grávidas. Mas a solução para um drama, a solução para uma injustiça, não passa por ignorar que o aborto elimina uma vida. O drama do aborto é, antes de mais, o drama de uma vida que existe e que merece ser defendida. 

terça-feira, 9 de abril de 2024

Henrique, o gajo de Alfama


 

De há uns anos a esta parte que Henrique Raposo chamou a si a tarefa de ser um verdadeiro intérprete da tradição da Igreja, o garante da pureza evangélica e o guardião da fé. Por isso de vez em vez brinda-nos com um artigo onde denuncia uns quaisquer hereges que, ao contrário de si, sempre cheio de caridade, são responsáveis por uma quantidade de malefícios para o mundo e para a Igreja.

O problema é que se é verdade que Henrique Raposo escreve com toda a arrogância de um Doutor, os seus argumentos em geral estão ao nível do gajo de Alfama. Henrique Raposo tem certezas sobre todos os assuntos, sobretudo aqueles sobre os quais nunca estudou ou trabalhou. E exibe a sua ignorância nos jornais com a mesma arrogância de um bêbado na tasca do bairro.

Entre as pérolas com que já nos brindou, está um artigo onde explicava que um aborto em caso de violência era uma questão de legítima defesa (demonstrando que nem se deu ao trabalho de ler a definição de legítima defesa do Código Penal), um artigo onde se propunha a corrigir Santo Agostinho e repetidas proclamações de que um nacionalista não pode ser católico, deixando assim claro que nunca pousou os olhos na obras do Padre António Vieira ou na poesia de Peguy.

Raposo é em tudo igual ao gajo de Alfama: não estuda, não lê, mas tem opiniões sobre tudo, convencido da sua genialidade, incompreendido pelo mundo, mas tudo julgando com rigor a partir do seu pequeno mundo. Só lhe falta o lugar na mesa da tasca e a tacinha de tinto.

Nestes dias o gajo de Alfama alçado a cronista decidiu escrever um artigo onde, a propósito do livro Família e Identidade, insulta todos os que defendem a Vida e a Família. Não tenciono responder ao artigo, é um conjunto de insultos, com afirmações categóricas sem qualquer referência, e conclusões ideológicas, quando por exemplo explica que ao não falar do motherhood gap os autores do livro contribuíram para o crescimento da direita populista e machista (aparentemente ele explicar a Manuela Eanes ou a Isabel Galriça Neto sobre com o que as mulheres se devem preocupar não é machismo). Mas fico impressionado que um homem adulto não perceba a figura ridícula que faz quando insulta um conjunto de personalidades com obra académica, profissional, social e política extraordinária sem pelo menos se dar ao trabalho de estudar os temas ou ler o que eles escrevem. Não terá Henrique Raposo sentido do ridículo? Não percebe o quão absurdo é um homem cuja única obra conhecida é escrever artigos medíocres, explicar a Manuela Eanes que ela não se preocupa com a vida das crianças em concreto? Ou a Dom Manuel Clemente a doutrina da Igreja? Ou em acusar Guilherme de Oliveira Martins de contribuir para o crescimento da direita populista?

Os autores do livro não precisam de defesa, a sua obra fala por si. Mas Henrique Raposo precisa de um amigo daqueles que, vendo o gajo de Alfama completamente bêbado a fazer figura ridículas na tasca, o leva discretamente para casa.

P.S.: O gajo de Alfama não é uma referência aos moradores do bairro lisboeta, mas à famosa personagem do Ricardo Araújo Pereira. 

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