1. O Partido Socialista, depois de ter descoberto que era
urgente regulamentar a morte a pedido, mesmo não o tendo feito em 10 meses no
Governo, descobriu agora a urgência de alargar os prazos do aborto legal, ao
fim de 8 anos com maioria de esquerda no Parlamento, dois dos quais com maioria
absoluta.
Esta urgência, descoberta sempre quando já nada pode fazer,
demonstra bem a utilidade destas leis para os socialistas. Poucos lhes
interessa as grávidas em dificuldade ou os doentes, só lhes interessa marcar a
agenda política com temas que demonstrem o seu “progressismo”, que dividam a
direita e que lhes permita ocupar tempo de antena. As mulheres e os doentes são
apenas bandeiras para utilizar à conveniência do PS.
2. Não há diferença entre um aborto às 10 semanas e às 12
semanas, como agora o PS veio propor. O nascituro tem sempre igual dignidade,
pelo que não é que a lei actual seja boa ou equilibrada.
O problema é que alargar o prazo do aborto legal vem
aumentar o tempo em que é negado ao nascituro a sua dignidade de ser humano e
também aumentar a possibilidade de abortar.
Por isso se o aborto é igualmente mau às 10 ou às 12
semanas, uma lei que aumenta o prazo legal do aborto é sempre pior, porque
diminui ainda mais a protecção jurídico do bebé no ventre materno.
3. Em 2007, aquando do segundo referendo ao aborto legal que
o sim finalmente ganhou, todos os apoiantes da nova lei afirmavam com clareza
que ninguém era a favor do aborto, que o único objectivo era impedir as
mulheres de serem presas e que não se estava a liberalizar o aborto, apenas a descriminalizá-lo.
Hoje o Partido Socialista defende, apesar das juras de 2007,
que o aborto é um direito fundamental. Claro que ao mesmo tempo defende que o
aborto à 13ª semana de gravidez é um crime. Se assim não fosse não propunha
liberalizar até às 12 semanas, antes propunha a sua legalização até ao término
da gravidez. Uma coisa não pode ser um direito fundamental e um crime ao mesmo
tempo. A posição do PS é evidentemente incoerente
O objetivo é claro, repetir em voz alta vezes suficiente que
o aborto é um direito fundamental até que toda a gente repita o dogma, tratando
qualquer pessoa que se lhes oponha como um ditador. Tem feito o seu caminho.
4. Esta hipocrisia do
PS não pode deixar de levantar a pergunta: porquê 12 semanas? Como chegaram a
esta data? O que muda às 12 semanas que transforma um direito em um crime? A resposta
é simples: nada.
Um nascituro às 12 semanas é igual a um de 13. Não há
qualquer base científica para esta decisão. São 12 como podiam ser 13 ou 14
(provavelmente 14, porque, por alguma razão, são sempre um número par de semanas).
O critério para o prazo do aborto legal é sobretudo a
opinião pública. Já em 1997 foi assim. Quando a primeira proposta para
legalizar o aborto até às 12 semanas chumbou a JS (liderada por Sérgio Sousa Pinto)
baixou para as dez e passou (para depois ser chumbada em referendo). E a única
razão é que o prazo tem de ser um número que a população ache aceitável. Preferencialmente antes da data da primeira
ecografia, não vá alguém perceber que está ali um bebé.
5. Já foram feitos em Portugal mais de 256 mil abortos
legais. Para se ter ideia, o concelho do Porto tem 214 mil habitantes. Num país
onde não nascem bebés, onde as grávidas dão à luz na autoestrada, onde não há
creches, onde as famílias não têm dinheiro para ter filhos, alguém poderia achar
que a urgência não é aumentar o número de abortos mas sim diminuí-los.
Só que infelizmente combater as causas sociais do aborto,
apoiar as grávidas em dificuldade e defender medidas de apoio à família dão
menos tempo de antena do que aumentar os prazos do aborto. E por isso, para o
PS, que quer fazer o país esquecer o estado em que deixou o país, a solução é
mesmo criar condições para mais abortos.
6. Espero que a Direita que durante anos explicou que este
era um não assunto, incluindo os líderes partidários que se deixam fotografar a
rezar piedosamente para depois apoiarem a actual lei, percebam finalmente que o
aborto será sempre um assunto. A única questão é se é discutido como arma de
arremesso político ou como o drama que realmente é.
Perfeito. Infelizmente!
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