terça-feira, 30 de abril de 2019

Construir pontes, não trincheiras.




Uma dos aspectos mais negros da internet é a agressividade com que se discute. Todos os assuntos, da política ao futebol, rapidamente se transformam numa troca de insultos e acusações, como se estivessem dois exércitos entrincheirados.

Infelizmente este fenómeno não é culpa da internet, mas apenas exponenciado pela capacidade quase infinita de comunicação que esta oferece. Ou seja, a incapacidade de manter uma discussão civilizada está hoje enraizada na sociedade (basta seguir os debates políticos), sendo que a internet com a sua imediatez, a sua impessoalidade e democraticidade de acesso aumenta ainda mais essa agressividade. 

Muitas vezes confunde-se a agressividade na discussão com idealismo ou coerência. Mas é falso. A agressividade para com o outro nasce de uma total incapacidade de olhar para ele como alguém com um coração igual ao nosso. Vivemos presos na nossa ideologia, olhando para quem de nós discorda como um inimigo, incapazes de reconhecer que também ele procura soluções justas e boas.

Olhar para outro como uma pessoa não significa qualquer cedência naquilo em que acreditamos. Eu acredito na dignidade da vida humana desde o momento da concepção até à morte natural. E acredito que quem defende o aborto ou a eutanásia está errado. Mas isso não significa que seja meu inimigo, ou que seja uma pessoa má, significa simplesmente que tem uma ideia diferente (ainda que errada) do valor da vida humana. É por isso possível discutir e argumentar sobre esse facto, sem entrar automaticamente numa guerra mortal. 

A alternativa a olhar para quem de nós discorda como uma pessoa com um igual desejo de justiça e de bem é uma sociedade, e por conseguinte uma política, entrincheirada, sem capacidade de diálogo, onde cada facção tenta ganhar força suficiente para dominar a outra. É a ditadura do 50% +1.

Se é verdade que hoje precisamos mais do que nunca de pessoas socialmente empenhadas com ideais claros, também é preciso mais do que nunca pessoas capazes de dialogar e construir pontes. Pessoas capazes de debater ideias, partindo do pressuposto de que o outro também procura o bem.

O caminho do diálogo, da razão, da relação é mais difícil do que defender a trincheira ideológica. Dá trabalho, gera menos espalhafato, sobretudo, atrai o ódio dos puritanos ideológico incapazes de qualquer tipo de conversa que não seja um debitar de cassete. Mas é a única esperança de conseguir construir uma sociedade mais justa.

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