sexta-feira, 29 de março de 2019

A Zippy e o monopólio da indignação.




A Zippy, marca de roupa infantil da qual me declaro já consumidor em jeito de declaração de interesses, lançou uma campanha de roupa sem género. Segundo os próprios o objectivo da campanha era romper preconceitos. Na prática trata-se apenas de roupa colorida unissexo. Ou seja, no fundo a Zippy tentou colar-se à moda da ideologia de género (o género é uma construção social, não há roupa de rapaz e rapariga, etc.) através de uma colecção que de facto era apenas uma normalíssima colecção de roupa unissexo, algo que absolutamente comum.

A verdade é que muitas pessoas, eu inclusive, não gostámos da tentativa de politizar a roupa das crianças. Muitas destas manifestaram o seu desagrado publicamente nas redes sociais. Algumas pediram inclusivamente um boicote à Zippy.

A marca, percebendo o tiro no pé, lá fez um comunicado esfarrapado a dizer que não tinha qualquer intenção política, mas apenas apresentar uma linha de roupa que pudesse passar de irmãos para irmãs e de primos para primas, como sempre tinha acontecido. Isto só quer dizer que o departamento de marketing lembrou-se que os seus clientes não são a esquerda caviar que vive no eixo Principe Real – Lux (que nas poucas vezes que têm que comprar roupa de crianças não se enfiam em centro comerciais, mas sim nas lojas trendy onde não tem que se misturar com o povo) mas sim as famílias de classe média, sobretudo as famílias numerosas que querem trazer os seus filhos arranjadinhos mas só tem dinheiro para a Zippy (como a minha).

Isto é o mercado a funcionar: a empresa fez uma oferta, os clientes rejeitaram, a marca refez a oferta. Tudo em total liberdade, sem queixas à CIG, sem pedidos para silenciar a Zippy, sem lojas partidas ou queimadas. Ou seja, tudo ao contrário do que acontece quando a esquerda se sente incomodada com uma opinião alheia.

Contudo, aquilo que seria apenas um pequeno incidente começou a transformar-se num escândalo nacional. Não porque a Zippy tenha tentado fazer politica com roupa de crianças, mas porque houve quem tivesse a ousadia de manifestar o seu desagrado. Aparentemente para a esquerda caviar que tem o monopólio da indignação nos programas matinais da rádio e cujos posts nas redes sociais são fonte de notícia, é escandaloso que as pessoas manifestem o seu desagrado relativamente a uma campanha publicitária. Pior ainda é que uma marca de roupa tenha que ceder diante do desagrado dos clientes.

Para estas pessoas a Zippy não estava a fazer política, era apenas publicidade, mas não deve deixar de fazer só porque o público não gostou. Porque o público deve ser educado pelas campanhas publicitárias da Zippy e porque as pessoas fazem mal em não gostar das campanhas que os senhores da esquerda caviar gostam. Confuso? Apenas para quem não percebeu que para uma certa esquerda tudo o que for contra a sua ideia do mundo é apenas preconceito e populismo.

Espero contudo que este escândalo sirva para uma coisa. Para as marcas de roupa de perceberem que a roupa sem género para criança é muito interessante e uma causa civilizadora da esquerda mas que está destinada a não ser comprada pelos maioria dos pais, que ainda não foram libertados dos seus estereótipos pelo CIG. E como por enquanto as causas não compram roupa, mais vale quando fizerem colecções unissexo não fazerem política e dizer logo que é para passar de irmão para irmão. É mais retrógrado, mas é capaz de vender mais.

P.S.: Não deixa de ser delicioso ver todos aqueles que há anos que tentam substituir a palavra género por sexo virem agora falar em roupa unissexo!

quarta-feira, 27 de março de 2019

O aborto não diminui, só aumenta a cada ano.





Li por aí que o número de aborto em Portugal continua a descer. Infelizmente é mentira porque o aborto não é reversível, logo o número está sempre a aumentar. Neste momento já são mais de 130 mil crianças mortas no ventre materno legalmente no nosso país. Cada uma destas mortes conta. Não são uma estatística, cada uma delas representa uma tragédia.

O que diminuiu foi o número de aborto praticado anualmente. E isso é bom, porque em cada ano seja praticado menos abortos é bom. Mas não retira nada ao drama de sabermos que no nosso país se praticaram mais de 15 mil aborto no ano passado.

Para além disso é preciso contextualizar estes números. Durante alguns anos o número de aborto praticado diminuiu, mas o número de gravidezes diminuiu ainda mais. Por isso, de facto o aborto por gravidez aumentou, ou seja, era cada vez maior a proporção de gravidezes que terminavam em aborto. Em 2015 uma em cada cinco gravidezes terminava em aborto.

Não conheço os dados de 2018, mas sei que é desonesto dizer que a prática do aborto está a diminuir sem analisar se o número de gravidezes aumentou ou diminuiu. Seria o mesmo que afirmar que o número de negativas numa escola diminuiu após a escola ter ficado sem alunos!

Há uma frase, atribuída a Estaline mas sem grande certeza, que diz “um morto é uma tragédia, milhares de mortos é estatística”. Infelizmente esta frase aplica-se totalmente aos números do aborto, onde a estatística tenta mascarar o facto de que cada uma destas mortes é uma tragédia.

O trabalho mais urgente do povo pró-vida é relembrar continuamente o valor de cada vida humana. É criar a consciência de que cada vida por nascer é um Ser Humano com igual dignidade a cada um de nós. É não deixar esquecer que cada um dos quinze mil bebés abortado em Portugal são vítimas de uma lei iníqua e de uma sociedade injusta, que trata a vida intra-uterina como uma coisa.

A luta contra o flagelo do aborto é urgente. Não é, nem pode ser assunto menor. Lutar contra o aborto é lutar por uma sociedade onde cada Vida Humana tem valor, é respeitada e protegida. É lutar contra a violência contra os mais fracos, contra a injustiça contra os mais desprotegidos. Lutar contra o aborto é lutar por uma sociedade onde a Vida vem em 1º lugar.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Escola Pública serve para formar bons republicanos - Observador

Sempre ouvi atribuída a Gambetta a ideia de que a escola pública não serve para ensinar a ler e a escrever mas para formar bons republicanos. Esta ideia, da escola do Estado que serve para doutrinar crianças, é uma ideia cara à esquerda em Portugal desde a Iª República.

Para a esquerda não basta instruir as crianças, assim fora e não havia qualquer problema em integrar o ensino privado na rede pública de educação. Uma escola com contrato de associação serve perfeitamente a finalidade de ensinar as crianças. Mas é necessário construir a escola do Estado (ainda que signifique mais despesa e pior oferta) porque só esta realmente pode formar cidadãos de acordo com os padrões da esquerda.

Não há prova maior do desejo de usar a escola pública para doutrinar as crianças que a disciplina de Educação para a Cidadania. Esta disciplina, obrigatória no ensino básico (mas que começa como matéria transversal logo no pré-escolar), não se limita a ensinar os princípios básicos da cidadania, como o Hino Nacional, a bandeira ou os nossos hábitos e tradições (aliás, tanto quanto percebi, nada disto consta no programa da dita disciplina). A disciplina de Cidadania serve para instruir as crianças no credo moderno do que é um bom cidadão. E por isso, entre outras coisas, lá se ensina toda a doutrina da Ideologia de Género e mais uns pós de Educação Sexual.

E neste campo pouco interessa a vontade dos pais. Se os pais não concordam que crianças com menos de 10 anos devam ser expostas às questões da sexualidade nada podem fazer. Que isto de educar as crianças em assuntos da sua intimidade não pode ser confiado aos irresponsáveis dos pais. O Ministério da Educação chama por isso a si essa grande tarefa educativa que é ensinar a crianças do pré-escolar que o género é uma construção social, ou as crianças da primária que tem um corpo sexuado, ou mesmo a crianças de 10 e 11 anos quais são os métodos contraceptivos! Todos estes temas, e muitos mais, saem assim do controlo dos pais e passam a estar no controlo dos professores que podem decidir, de acordo com os referenciais do Ministério, como educar as crianças.

O problema é que há pais que são da opinião que não deve ser a escola a educar os filhos, mas sim eles próprios. Pais que acreditam nesse direito/dever Constitucional que lhes assiste de educarem os filhos conforme o que acreditam ser melhor para eles. Pais esses que não concordam com a visão da Direcção Geral de Educação sobre a sexualidade, pais que não acreditam na Ideologia de Género e que reclamam o direito de não verem os seus filhos doutrinados nas escolas.
Foi isso que aconteceu numa escola do Barreiro, onde no âmbito da dita disciplina, os professores decidiram fazer uma “visita de estudo” para alunos de 10 e 11 anos que consistia na vinda à escola de dois activistas de uma associação LGBT. Para ajudar nos custos da dita “visita de estudo” a escola pedia a cada aluno que pagasse 0,50€.

Evidentemente muitos pais revoltaram-se com a situação e denunciaram publicamente aquilo que não era nada mais do que uma acção de propaganda de dois activistas de uma causa política. Imagine-se que os pais eram da opinião que, contrariando a sabedoria do Ministério da Educação, o tema não era apropriado para os seus filhos.

A situação tornou-se pública e mereceu a reacção de dois deputados do PSD. Um deles, Bruno Vitorino, foi especialmente veemente na sua condenação. O deputado descreveu a doutrinação das crianças na escola como “uma porcaria” e pediu para deixarem as crianças ser crianças.
Evidentemente que a reacção de Bruno Vitorino mereceu logo dura condenação da esquerda, com direito a queixa à CIG por parte do Bloco. Aparentemente um deputado defender que as crianças não devem ser doutrinadas na escola é uma violação dos seus deveres.

Mais uma vez a esquerda demonstra bem a sua visão da escola pública: o local onde as crianças são educadas segundo os cânones da esquerda, sem direito a qualquer intervenção dos pais. Quem discorda deve ser sancionado para aprender que não se pode pôr em causa os dogmas contemporâneos.

Este caso é apenas mais uma evidência de que é urgente travar a batalha pela liberdade de educação. É urgente alterar o paradigma actual, de um Estado que é dono das crianças e que se arroga do direito de as formatar de acordo com as crenças de quem o dirige, ao arrepio da vontade dos pais. De um Estado que chama a si o direito de punir aqueles que pensam de maneira diferente do credo da 5 de Outubro.

A liberdade de educação, ou seja, mais autonomia para as escolas, mais liberdade de escolha para os pais, mais envolvimento das comunidades locais, é a luta pelo direito constitucional a educar os filhos. Não é uma luta de ricos, ou de conservadores, ou de católicos, mas de todos os que defendem a liberdade das famílias, sobretudo das crianças, a não serem submetidos à doutrinação ideológica daqueles que acham que a escola serve para formar bons republicanos.

segunda-feira, 18 de março de 2019

O ataque de Christchurch: o reflexo do nosso tempo.




O ataque terrorista em Christchurch não pode deixar de nos interpelar. É verdade que nos nossos dias as notícias de atentados terroristas são cada vez mais frequentes e, infelizmente, perdemos alguma da nossa capacidade de nos chocar com estes dramas. Mas este ataque é diferente daquilo que temos sido testemunhas.

Não vale a pena fingir que este é mais um ataque terrorista. Não é. Não se trata do enésimo ataque de extremistas islâmicos, que só em 2018 mataram mais de 10 mil pessoas. O que aconteceu em Christchurch foi diferente.

Diferente porque foi o equivalente ao extremismo islâmico em versão ocidental. Já sabemos que o Islão tem um problema com o terrorismo e com a violência. Dizer isto não é um ataque ao Islão, mas o reconhecimento de um facto. É como dizer que os Estados Unidos têm um problema com as armas ou o Brasil com a corrupção. Não quer dizer que todos os islâmicos são terroristas, apenas que é evidente que 10 mil mortos por terroristas islâmicos são um problema.

Contudo a sociedade ocidental não tem um problema com terrorismo. Este ataque a uma mesquita, em defesa do ocidente contra uma suposta invasão islâmica é uma novidade e um passo adiante daquilo que estávamos habituados.

Porque, embora o acto em si seja isolado, a mentalidade que provocou este atentado está cada vez mais disseminada. No meu feed do Facebook apareceram mais do que uma pessoa a apoiar e a felicitar este ataque. Assim como várias pessoas que, não apoiando o ataque, recordavam vários ataques islâmicos a cristãos. Como se uma atentado na Nigéria contra cristãos de alguma maneira servisse de contrapeso à morte destes muçulmanos na Nova Zelândia. Como se de facto houvesse dois lados e fosse preciso escolher.

Este atentado é por isso o evoluir desta mentalidade ideológica, que reduz uma questão complexa a duas trincheiras diferentes (Ocidente vs Islão). Uma redução ideológica que reduz o outro a uma abstracção, em vez de o considerar uma pessoa como eu. E se é uma abstracção, se de facto não há um outro, mas sim os islâmicos, se não há uma pessoa mas um inimigo, então em última instância não só é possível eliminar essas pessoas, como até é um dever!

E não vale a pena falarem de Trump ou de Bolsonaro. O terrorista que matou 50 pessoas em Christchurch não era fã deles, nem era da alt-right. Era um fã da China que se considerava eco-fascista. Nem vale a pena culpar as redes sociais pela disseminação de fake news. Porque estamos num tempo em que os próprios órgão de comunicação social não têm qualquer vergonha em divulgas notícias falsas: pensemos que ainda há pouco mais de um mês a CNN (seguida por OCS de todo o mundo) não hesitou em noticiar que um jovem apoiante de Trump tinha insultado um ancião índio veterano de guerra, num caso que se veio a provar ser falso.

O problema é a mentalidade que domina a sociedade ocidental. Uma mentalidade relativista, onde a verdade e a realidade são substituídas pela narrativa. Onde mais do que os factos, interessa a ideologia, que é sempre uma visão amputada da realidade.

Esta mentalidade, que não é gerada, mas gera fenómenos como o populismo e as fake news, demonstrou todo o seu potencial de violência em Christchurch. Quando alguém passou de mensagens iradas nas redes sociais aos actos. Onde a tal redução ideológica do outro a uma abstracção que é o “Islão” levou um homem aparentemente normal a matar 50 inocentes e a fazer mais umas quantas dezenas de feridos.

Por isso o ataque terrorista de Christchurch não pode deixar de nos interpelar. Não podemos fingir que é apenas mais um acto de terror. Não é. Este acto terroristas não é fruto de extremismo islâmico, não é o acto de um louco, não nasce de um clima de tensão entre facções políticas opostas. É fruto desta mentalidade que tem tomado a sociedade Ocidental. Esta mentalidade que abdicou da razão e da Verdade, em nome da emoção e da ideologia.

Não sabemos o que vai acontecer a seguir. Não sabemos se é um acto isolado, ou o princípio de uma onda de terrorismo Ocidental contra os islâmicos. A única coisa que sabemos é que o relativismo moral que domina a nossa mentalidade leva à desumanização do outro. E isso tem consequências, como teve em Christchurch.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Neto de Moura e a violência doméstica: "É preciso mudar tudo para que tudo fique na mesma".




30 de Novembro de 2014 – No congresso do Partido Socialista ouve-se em silêncio o nome das mulheres mortas por violência doméstica esse ano. O partido tenta passar a mensagem de que a violência doméstica está ligada à austeridade.

11 de Outubro de 2017 – O juiz desembargador Neto de Moura assina um acórdão onde mantém a pena decidida em primeira instância num caso de violência doméstica. Ficou provado que Y, antigo amante da mulher, a perseguiu e a raptou, tendo de seguido telefonado a X, ex-marido da mulher, para dizer que estava com ela. X foi ter com eles e agrediu a mulher com uma moca.
Na avaliação que faz dos factos o desembargador Neto de Moura dá relevância ao facto de socialmente o adultério da mulher ser considerado um acto desonroso e cita para isso várias fontes.
O acórdão vai muito para além disso e decide por fim não dar provimento ao recurso apresentado pelo Ministério Público.

17 de Outubro de 2017 – Depois de um época trágica de incêndios, onde morreram mais de cem pessoas, o CDS decide apresentar uma moção de censura ao Governo. O tema dos incêndios domina as notícias e o Governo está sobre forte pressão.

22 de Outubro de 2017 – Rebenta o escândalo Neto de Moura. O até então anónimo desembargador da relação do Porto passa a dominar o ciclo de notícias. O escândalo é alimentado pela associação Capazes, de Rita Ferro Rodrigues, e por Fernanda Câncio no DN. Isabel Moreira, num chocante desprezo pela separação de poderes, anuncia que a Iº Comissão condena a decisão da relação do Porto. A moção de censura do CDS, assim como o tema dos incêndios passa para segundo plano.

31 de Outubro de 2018 – O juiz desembargador Neto de Moura, num acórdão aprovado por unanimidade, decide retirar a pulseira electrónica a um homem condenado por violência doméstica.
Justifica que a lei não permite que tal medida acessória seja aplicada sem o consentimento do condenado. Ora, como não houve consentimento, esta pena não pode, segundo a lei, ser aplicada.

Janeiro e Fevereiro de 2019 – Mais de dez mulheres são mortas vítimas de violência doméstica. O tema volta a dominar o ciclo de notícias. Gera-se revolta na comunicação social e na opinião pública pelo que parece ser o aumento imparável da violência doméstica.

5 de Fevereiro de 2019 – O Conselho Superior de Magistratura pune com uma advertência o desembargador Neto de Moura. Dos quinze membro do CSM, 7 votaram pelo arquivamento do processo. Dos oitos que votaram contra o arquivamento, houve um empate entre multa e advertência, tendo o voto de qualidade do presidente do CSM desempatado a favor da advertência. O CSM considerou que o desembargador faltou ao dever de correcção no modo como descreveu a vítima.

25 de Fevereiro de 2019 – O Público noticia o acórdão de 31 de Outubro de 2018. A notícia, rapidamente reproduzida pelos outros órgãos de comunicação social, diz que o desembargador Neto de Moura retirou a pulseira a agressor por este não ter dado o seu consentimento. Quase nenhum órgão de comunicação social refere que esse consentimento é obrigatório por lei.

6 de Março de 2019 – O Tribunal da Relação do Porto, após uma violenta campanha, anuncia que o desembargador Neto de Moura vai deixar de apreciar casos de violência doméstica.

Relatei este factos por um simples motivo. Se é verdade que as decisões do desembargador Neto de Moura podem ser criticadas, não é menos verdade que ele tem sido usado como bode expiatório sobre a violência doméstica.
No primeiro escândalo, alimentado por pessoas do ou próxima do Partido Socialista, foi evidente a necessidade de retirar o tema dos incêndios do ciclo de notícias. O acórdão foi quase sempre apresentado truncado, a maioria das vezes foi dado a entender que a pena tinha sido reduzida (o que é mentira), todos os comentadores ligado ao PS comentaram e alimentaram o caso.
O segundo escândalo, que é absurdo uma vez que ninguém se lembrou de criticar a lei, mas apenas o juiz que a aplica, serviu claramente para ligar o aumento da violência doméstica aos juízes. A ideia é clara: a violência doméstica aumenta porque os juízes são permissivos.
Tudo para não lembrar que, passados mais de 4 anos do Congresso onde o Partido Socialista tomou como bandeira a violência doméstica que era fruto da austeridade, passado quase quatro anos com o mesmo partido no poder, o problema aumentou!
Por isso, no momento onde o país se revolta com o aumento da violência doméstica, era essencial arranjar um culpado que não o Governo. Se há cinco anos tudo, desde os suicídios à violência doméstica, era culpa da austeridade de Passos, agora nada é responsabilidade de Costa.
Neto de Moura, independentemente daquilo que se possa pensar sobre as suas opiniões sobre a violência doméstica (e da sua inépcia em comunicar), foi usado como arma de remesso para causar indignação sobre a violência doméstica. O drama é que, ao concentrar as atenções neste juiz concreto e nos juízes em geral, vai-se continuar sem nada fazer ou resolver quanto ao flagelo da violência doméstica. No fundo, parafraseando Lampedusa, muda-se tudo para não mudar nada.