terça-feira, 30 de agosto de 2022

“Se não fosses tu meu Cristo sentir-me-ia criatura finita” São Gregório Nazianzeno



No último Domingo fui à missa a uma Igreja que nunca tinha ido. O motivo era o baptismo de uma aluna da minha mulher. Fui um pouco a contragosto: era fora de Lisboa, tínhamos chegado de uma viagem grande no dia anterior e a hora era pouco convidativa para ir com os miúdos. Para piorar o meu humor, a criança mais nova decidiu passar boa parte da missa fazer barulho e por isso estive a todo o tempo no corta vento, sem conseguir prestar grande atenção.

Chegado à altura da comunhão tinha decidido não ir comungar: tinha estado distraído, estava um pouco irritado com as crianças, e estavam pessoas à porta do corredor central. Quando estava nestes pensamentos, percebi que o padre estava a distribuir a comunhão pela Igreja: de repente estava à minha frente, com o Corpo de Cristo nas mãos. A mim restou-me pouco mais do que aceitar esta misericórdia, de um Senhor que passa por cima da minha pequenez para vir ao meu encontro. Comovi-me como há algum tempo não me comovia na missa.

Mas se me comovi, não me espantei, porque felizmente foi assim toda a minha vida. A minha vida é marcada por este Deus encarnado que constantemente vem até a mim. Não uma ideia, não uma moral, mas uma Pessoa, que se torna presente nesta companhia concreta que é a Igreja: na minha família, nos meus amigos, no testemunho dos santos, na graça dos sacramentos, na beleza da liturgia, na caridade da Doutrina!

E o encontro com Cristo dá à minha vida todo um novo horizonte. Tenho experimentado o cem vezes mais aqui na terra e isso fortalece a minha certeza na vida eterna.

Mas é impossível compreender aquilo que a Igreja propõe sem Cristo. A castidade, a fidelidade, a doação de si, a obediência, só são compreensíveis na relação com Jesus. Sem Ele, não passam de regras e preceitos ocos.

Por isso é natural que num tempo onde se esqueceu Jesus, onde a Fé é reduzido a uma moral ou a uma ideologia, a proposta da Igreja pareça desadequada e ultrapassada. Também se compreende que, quem olha para a Igreja como mais uma organização, como um mero conjunto de pessoas ligada por uns rituais, as preocupações principais sejam as do mundo: quem manda, quem gere, se todos são “iguais”. De facto, a Igreja sem Cristo, tem os mesmos defeitos que qualquer outra instituição humana.

É Cristo que abre um novo horizonte, é Cristo que torna uma realidade completamente humana como a Igreja, numa realidade sobrenatural e eterna.

O relatório português do Sínodo foi por isso para mim uma experiência muito útil, porque me ajudou a identificar com clareza o grande problema da Igreja no nosso tempo. A mistura de ideologia com sindicalismo, tudo misturado com a linguagem inclusiva e as preocupações mundanas que hoje tanto ocupam alguns activistas, deixou claro a ausência de Jesus. De facto Cristo é o grande ausente deste relatório, porque é também o grande ausente da pastoral da Igreja. E este é o maior drama: é que ignorando Cristo, fica apenas o que é humano, ou seja ignora-se o eterno.

Para mim a Igreja é a presença de Cristo. E é essa presença que constantemente redime a minha pequena humanidade. A única urgência da Igreja devia ser levar essa presença a cada pessoa. O resto vem por acréscimo.




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1 comentário:

  1. Foi gratificante ler seu depoimento. Além de ter inserido uma partilha de sua vida, foi claro e efetivo. Já li outros depoimentos, alguns extensos e ficam pelo genérico. O Zé Maria soube contribuir e eu venho associar-me aquilo que disse. Muito Obrigada

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