A Igreja celebrou ontem o dia de São João Maria Vianney, padroeiro dos sacerdotes, especialmente dos párocos. O dia do Santo Cura d’Ars chegou no meio de um turbilhão de acusações contra a Igreja portuguesa e contra os seus sacerdotes. E isso fez-me pensar nos padres da minha vida. Daqueles que entregaram a sua vida a Jesus para que eu O possa encontrar. E obrigou-me a tomar consciência do tanto que devo a tantos bons sacerdotes.
Antes de mais ao Padre João Seabra, que há dois meses foi para o céu. A ele, mais que a qualquer outra pessoa, devo a minha Fé e aquilo que sou hoje. Depois lembro-me do Padre Nuno, coadjutor do Padre João em Santos: um velho carmelita que passava horas no confessionário. Foi a primeira pessoa importante da minha vida que me lembro de morrer.
Depois pensei nos padres com que me cruzei na Baixa e no Chiado. O Padre Armando Duarte, amigo inseparável do Padre João. Sempre presente, sempre constante, com um sentido de humor mordaz. A ele lhe devo o muito que aprendi com o Manual do Acólito. Depois o Padre Mário Rui, que tornou o deserto da Baixa num centro de devoção em Lisboa. A ele toda a Igreja de Lisboa deve o regresso da procissão do Corpo de Deus. Em conjunto com o Padre João, tornaram a Baixa e o Chiado no pulmão da Igreja na Cidade de Lisboa. E a unidade entre estes três sacerdotes tornou-se modelo de unidade pastoral para todo o Patriarcado.
Ainda no Chiado, não me posso esquecer dos padres do Loreto: o Padre Angelo (confessor de meia Lisboa durante décadas), o Padre Francesco, o Padre Dino, e tantos outro cujo nome não me lembro. Foram eles os meus confessores durante a adolescência e a juventude. A minha alma muito lhes deve.
Depois lembro-me ainda dos sacerdotes que colaboraram na paróquia da Encarnação. O Padre João Aguiar, que enquanto director da Renascença assegurava diariamente a missa das 8h, e que chegava à Igreja à 7h30. O Padre Marim que todas as quartas-feiras celebrava a missa das 12h10 para as Noelistas. O Padre Rafael Morão, jesuíta e Reitor da Igreja de São Roque, que tantas vezes celebrava missa na Encarnação. O Padre Armindo, que veio estudar direito canónico e que durante anos celebrou a missa de Domingo às 10h30 para depois ficar a confessar durante a missa das 12h30 (o que me era muito útil). O Padre Hilário, também estudante de direito canónico e que assegurava muitas vezes as necessidades da paróquia. O velhinho Padre Azeredo, também jesuíta, que muitas vezes celebrava a missa das 12h10 durante a semana, tal como o ilustre frei Pinto Rema, franciscano e grande especialista em Santo António. E ainda o frei Miguel Patinha, da Ordem dos Pregadores.
Por fim, os padres que acompanharam o Padre João em Santa Joana. O Padre Duarte da Cunha, um amigo fiel que com amor filial acolheu um mestre com uma disponibilidade e lealdade incomparáveis. E o Padre Michael sempre discreto, sempre presente.
Lembro ainda o Padre Santos, durante anos prior de São Sebastião e de Nossa Senhora da Boa-Fé na Arquidiocese de Évora, que o Senhor chamou a Si no ano passado. Homem piedoso, sem medo de educar o povo e de afirmar as verdades, mas sobretudo a Verdade.
Por fim, nas paroquialidades, lembro-me dos padres salesianos de Lisboa, cujo nome não sei, mas que nestes últimos anos me têm acolhido tantas vezes na Santa Missa e no confessionário.
Mas na minha vida muito devo aos padre de Comunhão e Libertação, o movimento que tive a graça de encontrar. O Padre Ramiro, homem de inteligência profunda e uma capacidade de ensinar como poucos, cuja fidelidade à Igreja e ao carisma de monsenhor Giussani tanto me educou. O Padre Zé Maria Cortes, vizinho de sempre da minha família, que depois de construir a Igreja dos Pastorinhos partiu como missionário. O Padre Luís Miguel, essencial na minha vida universitária. E com estes dois últimos todos os padres da Fraternidade de São Carlos Borromeu que passaram por Alverca: o Padre Francesco, o Padre Silvano, o Padre Rafael e o Padre Giovani. O Padre Zé Maria Magalhães, que me levou a Lourdes e que insistia na minha vocação sacerdotal (penso que agora já terá desistido). O Padre Miguel Aguiar, com o seu cuidado com a liturgia, sempre acompanhado de um enorme sentido de humor. E também os que, tendo conhecido pior, me lembro de sempre: o Padre Silvério e o Padre Sérgio Pêra. Nesta categoria incluo o Padre Pedro Quintela (que preferiu cuidar dos mais miseráveis às honras do mundo) que não sendo do CL, foi sempre muito próximo e muito nosso amigo.
E chego aos padres da minha geração, o Padre Miguel Pereira, que tem feito uma grande pastoral sobre a teologia do corpo de São João Paulo II, o Padre Tiago, um grande entusiasta da causa da vida, e o meu querido parente, Padre Duarte Andrade e Sousa, um extraordinário sacerdote, um grande educador dos jovens, que pela mesquinhez de uns e a maldade de outros, está injustamente a pagar pecados alheios. E como, apesar de ainda ser novo, já não sou jovem, começo a ter amigos padres mais novos que eu, como o Padre Claúdio, ordenado há pouco tempo e que tive a graça de acompanhar quando era um jovem liceu de Comunhão e Libertação.
E também muitos outros padres com quem me fui cruzando, por circunstâncias diversas, ao longo da vida. O frei Gonçalo, franciscano, com quem me encontrei várias vezes, a mais memóravel das quais foi em Compostela, quando entre dezenas de milhares de peregrinos que vinham ver Bento XVI, “esbarrou” com o nosso grupo completamente por acaso. O Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, o Padre João Vergamota, o Padre Diogo Maleitas Correia, os párocos de São Martinho do Porto, de Covas, o reitor de São Bento da Porta Aberta, o Padre José Rafael, o Padre Miguel Cabral, o Padre Pimentel, o Padre Santamaria, o Padre Adelino, capelão do Colégio de São Tomás onde acompanha os meus filhos. E tantos outros, que não conheço, mas com quem nestes 36 anos de cristão me cruzei na Santa Missa ou na confissão.
São muitos os padres necessários para atender a um cristão. Homens que oferecem a sua vida, para que o povo de Deus possa receber o Corpo de Cristo e o perdão dos pecados. Para receber a graça de ser filho de Deus, para casar e ser amparado na doença.
Por todos eles estou grato a Deus e rezo-Lhe para que os sustente e ampare na sua missão. Para que neste tempo de perseguição, onde pelo pecado de uns poucos pagam todos, permaneçam firmes no seus ministério.
Mas sobretudo, agradeço a cada um destes padres, os que me lembro e os que não me lembro, por me terem permitido ao longo da minha vida receber Cristo e viver na Sua Graça. A minha Fé é sustentada pela sua oferta constante de serviço a Cristo e à sua Igreja.
Que bom que é que hoje, num tempo de egoísmo, de escândalos fáceis, de perseguições cobardes, ainda existam homens dispostos a oferecer-se a Deus.