segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O Natal não é quando o homem quer.



Tenho lido por aí repetidamente que o Natal este ano pode ser cancelado. Não querendo chatear ninguém, mas seria bom que não nos déssemos assim tanta importância. Se é verdade que o Governo chamou a si o poder de tolher de maneira idiota e desproporcional os nossos direitos, a verdade é que o Natal ainda não está à disposição dos homens.

Relembro aos mais distraídos que o Natal é um acontecimento histórico preciso: Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. (...) José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Como se pode perceber, é pouco provável que este facto possa ser simplesmente “cancelado” por conta de uma pandemia. Sobretudo, porque sendo um facto histórico concreto (também me parecia difícil cancelar o cerco de Alésia!), é ao mesmo um acontecimento sobrenatural: Deus fez-se carne e habitou entre os homens. E por isso não nos limitamos a recordar um acontecimento histórico, mas fazemos memória da Encarnação Divina. Pela Sua Misericórdia, Jesus volta a nascer no coração de cada homem de boa vontade, que esteja disposto a fazer do seu coração uma manjedoura.

Evidentemente que se podem cancelar todas as festividades: as luzes, os concertos, os jantares de amigos, as festas das escolas e os encontros familiares. Num acesso de loucura o Primeiro-Ministro pode proibir a venda de bacalhau e a Dra. Graça Freitas pode declarar que o Bolo Rei ajuda na propagação do vírus. Em última instância até podem fechar as Igrejas e guardar todos os presépios do país em caixas. Nada disso impedirá o nascimento do Deus Menino, nem impedirá os cristãos de o acolher no seu coração! O Natal acontece, celebrado nas catacumbas ou nas basilicas papais, nas trincheiras geladas ou em casa junto à lareira, nos pequenos casebres ou nos palácios reais. A verdade é que celebramos o Natal há dois mil anos, com perseguições, guerras e pandemias. E nunca ninguém conseguiu esse belo feito de cancelar o Natal. E se por ventura, em algum momento, a Igreja peregrina desaparecer e ninguém na terra celebrar o Natal, este será para sempre celebrado pela multidão dos Santos que nos antecederam.

O Governo pode cancelar todos os festejos de Natal (ou pelo menos tentar). Mas esses festejos, por muito bons que sejam, são apenas uma consequência do Natal. Gostava que não acontecesse, porque gosto muitos das tradições natalícias: gostos dos cantos, dos presentes, de reunir a família. Até começo a gostar do Pai Natal. Mas se tal vier a acontecer, não muda em nada o Natal. Com ou sem luzes, com sem árvores de Natal, um facto permanece até ao fim dos tempos (e até para a eternidade): O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. (...) Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz».

Por isso não nos apoquentemos com o que há de vir, assunto sobre o qual pouco ou nada podemos fazer. Preparemos-nos antes para este extraordinário mistério do Nascimento do Deus Menino.

3 comentários:

  1. Pelo que me diz respeito, já fiz o presépio e tenho a árvore de Natal montada. Ninguém me tira o Natal.

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  2. Quanto a mim, nem preciso de montar o presépio para que o Natal aconteça. Basta sentirmos a presença do Menino Deus e fazer o presépio dentro do nosso coração e, claro, fazer sentir que é Natal a quem está próximo de nós!

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  3. Obrigada, José Maria, por mais um artigo belíssimo. Sempre oportuno, sempre chamando a atenção para o essencial e dando as razões da nossa esperança

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