segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O CDS ainda é útil?

 



O CDS atravessa aquela que é provavelmente a maior crise da sua história. Vem de dois resultados eleitorais humilhantes, vive uma situação financeira muito delicada, divide o espaço da direita com outros partidos viáveis, e as sondagens teimam em não disparar.

Recuso-me ao exercício de apontar dedos. Aliás, tem sido bastante esclarecedor para compreender a actual situação do CDS ver a constante troca de acusações entre actuais e antigos dirigentes, onde uns parecem viver num mundo onde tudo estava bem até ao último congresso e outros num mundo onde nunca conheceram Assunção Cristas. Percebe-se com clareza qual a principal preocupação de quem entra nesta guerra.

Mas penso que é importante fazer uma reflexão sobre o CDS e o seu futuro. Sobretudo, vale a pena reflectir se é razoável continuar a lutar pelo CDS, em vez de apoiar o crescimento do Chega e da IL. Será que o CDS é apenas um empecilho ao crescimento de uma nova direita?

Para aqueles que apoiam o pragmatismo, que queriam o CDS como a grande casa da Direita, um porto de abrigo para Conservadores, Liberais e até para os Democratas Cristãos, extinguir o partido devia ser a solução mais lógica. O Chega está neste momento a crescer e vai à frente do CDS em todas as sondagens, a IL também vai crescendo (embora ainda não tenha apanhado o CDS) e ainda temos o PSD. Logo, se aquilo que interessa é a direita chegar ao poder, então o CDS perdeu a sua razão de existir neste momento. O que há a fazer é os mais conservadores irem apoiar o Chega, os Liberais irem para a IL e os que só estão no CDS à procura de um lugar mudarem-se para o PSD (que no seu actual estado também precisa de bastante ajuda).

O CDS só continua a fazer sentido se de facto tem algo de único para propor ao país. Algo para além do pragmatismo do PSD que lhe permite ser tudo e o seu contrário, algo diferente da fórmula “conservador nos costumes e liberal na economia” do Chega ou do Liberalismo total da IL.

A verdade é que desde o 25 de Abril sempre houve uma grande casa da direita em Portugal, onde cabia tudo desde o mais acérrimo liberal até ao quase neo-fascista. Essa casa é o PSD. A social-democracia em Portugal nunca quis dizer nada. O PSD era o partido de poder da Direita, em que a maioria votava não por qualquer fervor ideológico, mas por mera utilidade.

O CDS sempre foi um partido de causas e ideais. O partido que defendia um verdadeiro Estado Social contra o estado socialista. Um Estado que fosse personificação jurídica da sociedade, construido de baixo para cima, sem pretensões totalitárias, mas antes profundamente respeitador das liberdades e direitos individuais. Um Estado que fosse garante da dignidade humana, da justiça, do bem comum e da paz social. Por isso o CDS foi o partido dos agricultores, dos contribuintes, dos pensionistas, da defesa da vida, da liberdade de educação, da família. E também o partido que honrou e apoiou sempre as nossas forças armadas e as nossas forças de segurança.

O CDS foi o partido daquelas pessoas que trabalham, que têm a sua lavoura, ou o seu negócio, e que estão dispostos a contribuir para o bem comum, mas não querem um Estado asfixiante, burocrático, autoritário e empenhado em engenharias sociais.

Por isso o CDS nunca foi a grande casa da direita. Nunca foi um albergue espanhol. O CDS foi a casa da democracia-cristã. Já ouvi muitos dizer que isso significa ser uma partido de nichos. Talvez seja, mas a verdade é que quando tentou deixar de ser um partido de nichos e quis ser a grande casa da direita teve o seu pior resultado eleitoral de sempre e entrou numa profundíssima crise.

É que o pragmatismo, a tentativa de adaptar o discurso à vontade dos eleitores, só funciona se há alguma possibilidade de ter poder. Porque se um partido é pragmático pressupõe que quem vota nele serão as pessoas pragmáticas. E uma pessoa pragmática vota em quem pode governar. O problema é que o CDS ao querer passar de voto de consciência para voto útil, perdeu a sua utilidade! Para votar num partido pragmático, o eleitor de Direita vota no PSD que pode ganhar as eleições. No CDS vota-se por convicção.

Penso que para o CDS voltar a ser útil tem que se preocupar menos com os focus group, com responder ao último escândalo, ou em fazer furor nas redes sociais. O que o CDS precisa é de ter um programa para o país. Não um arrazoado de medidas declamadas ao som do soundbyte do momento, mas um programa claro que explica que futuro defende para Portugal. Um Estado menor e melhor, menos burocrático, que trabalhe em colaboração com os corpos intermédios da sociedade e não se substitua a estes. Uma fiscalidade mais simples, que não asfixie os trabalhadores. Uma opção clara pelos mais pobres e mais frágeis. A defesa intransigente da vida e da família. A aposta no mundo rural. O respeito pela Lei e pela Justiça. A promoção da nossa cultura, da nossa história, ou seja, das nossas raízes comuns.

Acredito que um CDS assim faz muito mais falta a Portugal. O partido verdadeiramente democrata-cristão, para quem cada vida é digna, tenha menos de dez semanas, seja um velho doente, um criminoso ou um cigano. Um partido para quem no centro da política não está o Estado, nem a Nação, nem o mercado, mas sim a Dignidade Humana.

Considero que assim seria possível ao CDS ultrapassar esta crise, embora admita que possa estar enganado. Mas de uma coisa estou certo: por um partido assim valia a pena lutar.

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