quarta-feira, 25 de março de 2020

O dia da destruição do anel.




Qualquer dia é um bom dia para escrever sobre O Senhor dos Anéis, mas hoje é um dia especialmente bom. Dia 25 de Março é o dia em que foi destruído o anel! O dia em que “Sauron caiu e em que vocês foram salvos do fogo e devolvidos ao rei”.

Tolkien não gostava de alegorias e quando escreveu O Senhor dos Anéis tinha como objectivo apenas escrever um livro de aventuras. Muitas vezes oiço perguntar sobre o que é este livro. A resposta é simples: é sobre a guerra do anel, ou seja a guerra entre os povos livres da Terra Média e Sauron por causa do anel do poder!

Como qualquer livro de aventuras o objectivo d’O Senhor dos Anéis é contar uma história. Não é um tratado de moral ou teologia, nem sequer uma alegoria sobre virtudes. Não vale a pena procurar significados obscuros ou tentar aplicar teorias psicológicas. O livro é mesmo sobre uma guerra imaginária!

Dito isto, é evidente que é possível identificar neste livro muitas das coisas que são queridas a Tolkien. Ele não se limita a escrever uma história, escreve uma história que gosta. Como dizem os elfos “Nós pomos o pensamento de tudo aquilo que amamos em tudo aquilo que fazemos”. Por isso em O Senhor dos Anéis está presente a paixão do autor pela línguas, pelos mitos, pela Inglaterra rural. Até o seu gosto em fumar cachimbo! Evidentemente também a fé de Tolkien está presente neste livro.

Um dos pormenores mais evidentes, e onde é mais possível identificar a fé do professor é nesta coincidência da destruição do anel ser no dia 25 de Março. E torna-se evidente que esta data é propositada, quando se percebe que a viagem da Irmandade do Anel começou a 25 de Dezembro. Ou seja, a viagem do Anel, desde Rivendell até ser destruído dá-se entre o Natal e a Anunciação. Sendo que nos princípios da Igreja a data da anunciação era considerada como a data da Crucifixão de Nosso Senhoa. Ou seja, toda a viagem do anel dá-se entre o nascimento e a morte de Jesus.

E isto introduz-nos num ponto central d’O Senhor dos Anéis. Como apesar de todo o esforço e sacrifício a força dos homens não é suficiente para derrotar o mal. No último momento Frodo falha e não destrói o anel. O homem, por muito bom que seja, não é capaz de se salvar sozinho. Só a intervenção misteriosa da providência é que permite a destruição do mal.

Este é para mim talvez das coisas mais belas de O Senhor dos Anéis. A consciência que a realidade tem um Criador, que intervém e que actua. E que se por um lado o esforço das criaturas não é suficiente para derrotar o mal, o Criador usa o esforço delas, e até as suas falhas, para redimir o mundo. A consciência de que “acima de todas as sombras ergue-se o sol”.

Muito mais haveria para dizer sobre o Senhor dos Anéis. Mas penso que para este tempo de pandemia, para este dia da Anunciação, vale a pena ler ou reler este livro nem que seja só para nos relembrar que Deus é verdadeiramente Senhor da História e não abandona o homem ao seu limite e à sua fraqueza.

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