A actual constituição da Assembleia da República não pode deixar de
inquietar um católico. O reforço da maioria de esquerda significa o
reforço daqueles partidos que, mesmo quando utilizam palavras parecidas
com as da Igreja, partem de uma ideologia contrária à visão cristã da
sociedade. Para o cristão no centro da política está o Homem, em toda a
sua dignidade. Para a esquerda está o Estado ou o Povo. Um cristão não
partilha da visão da sociedade dividida em classes, ou numa versão mais
de acordo com a esquerda moderna, em grupos identitários. Para um
cristão cada pessoa é igual em dignidade.
Esta visão ideológica,
embora produza muitas vezes um discurso em defesa dos mais pobres e mais
desprotegidos, acaba por produzir políticas que prejudicam sobretudo
estes. Como se pôde ver na última legislatura que acabou com um SNS
desfeito, uma escola pública sem recursos e com o número de pobres a
aumentar.
Nesta legislatura podemos esperar antes de mais a
imposição de mais medidas fracturantes: eutanásia, barrigas de aluguer,
aumentos dos prazos do aborto legal. Ou seja, um ataque às pessoas mais
frágeis, que irão ficar ainda mais desprotegidas pela nossa legislação.
Mas
não é apenas nas medidas fracturantes que podemos esperar o pior. A
ideologia estatista desta maioria irá continuar a atacar todas as
instituições que, fazendo serviço público, não pertencem ao Estado.
Sendo que a maioria destas pertencem à Igreja.
Depois de ter
arrasado com as escolas com contrato de associação, obrigando assim
crianças com poucos de recursos a percorrer diariamente dezenas de
quilómetro para obter ensino de pior qualidade, depois de ter acabado os
acordos com as Misericórdias, que permitiam diminuir drasticamente as
listas de espera nos Hospitais Públicos, é provável que esta maioria de
esquerda vire agora a sua atenção para as IPSS. Onde havia uma
instituição que providencia bons cuidados aos mais necessitados da sua
zona, passará a haver uma instituição do Estado, sub-orçamentada e com
falta de pessoal que não terá capacidade de resposta para os problemas
dos mais pobres e indefesos.
E toda esta fúria estatista
continuará a ser alimentada pela mais alta carga fiscal de sempre. Sendo
que essa carga fiscal, por motivos eleitoralistas, continuará a incidir
sobretudo nos impostos indirectos, que afectam sobretudo os mais pobres.
A diminuição do IRS pouco ou nada diz a boa parte da população que não
paga este imposto. Mas o aumento do imposto sobre o combustível, que se
repercute em toda a economia, assim como o aumento de taxas e taxinhas,
que leva ao aumento geral dos preços tem um efeito dramático junto das
pessoas, sobretudo para aquelas para quem cada euro conta.
Desta
nova maioria podemos por isso esperar o pior. Uma política apostada no
reforço do peso do Estado na sociedade e da economia, diminuindo assim o
espaço de crescimento da sociedade. Teremos mais impostos, mais dívida,
serviços públicos cada vez mais incapazes e uma sociedade civil cada
vez menos capacitada a responder a estes desafios.
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