Assisto
com espanto às reacções de consternação ao ataque feito ao Porta dos Fundos.
Tenho lido por aí comparações várias ao terrorismo islâmico, ao Charlie Hebdo,
até cheguei a ler um texto onde se explicava que era um ataque a quem só queria
unir todos através do humor.
É
preciso ser claro: é evidente que o especial de Natal dos humoristas
brasileiros não justifica o uso de violência. Mas também é preciso ter sentido
das proporções e não confundir o arremesso de dois cocktails molotovs a um edifico
vazio por um grupo integralista político, com o terrorismo islâmico, e ainda menos
com o ataque feito ao Charlie Hebdo, onde os atacantes tinham o objectivo claro
de matar.
Nem
a Porta dos Fundos passou de repente a ser uma pobre vítima. Os humoristas brasileiros
decidiram fazer um especial de Natal com o único objectivo de causar polémica,
sabendo que assim teriam sucesso. E decidiram causar polémica escarnecendo da
fé dos cristãos. O seu objectivo não foi fazer humor, foi mesmo ofender, certos
de que as respostas a este especial, tantas vezes desproporcionadas, seriam
suficientes para lhes garantir o sucesso.
E
assim foi. Este filme não tem sucesso graças a qualquer mérito próprio, mas só
pela polémica que gerou. Infelizmente desta vez a indignação foi longe de mais.
Mas
assim como não tenho qualquer problema em condenar quem atacou de forma irresponsável
a Porta dos Fundos, também não tenho qualquer problema em condenar quem usa o ódio
para se promover.
É
das coisas mais espantosas tomar consciência que no tempo em que Bernardo Silva
é condenado por fazer uma graça com um amigo africano, em que carreiras são destruídas
por graçolas machistas com vinte anos, num tempo onde a linguagem é controlada
ao pormenor de modo a não ofender nenhuma minoria, não exista qualquer pudor em
zombar com a fé de tantos milhões de pessoas, sobretudo quando centenas de milhares
de cristãos são perseguidos, e alguns até mortos, por professarem a sua fé.
A
Porta dos Fundos decidiu achincalhar da fé daqueles que são mortos na Nigéria,
presos na China, silenciados no mundo Árabe. E não só não foi censurada pelos
habituais inquisidores contemporâneos, como aqueles que legitimamente se revoltaram
com o filme foram, esses sim, considerados como inimigos da liberdade.
É
aliás extraordinário como um cocktail molotov contra um prédio vazio causa
bastante mais comoção do que crianças mortas na Síria ou na Nigéria.
Eu
não tenho qualquer problema em condenar o ataque à Porta dos Fundos. Mas não tenho
paciência para a indignação selectiva, que censura graças com homossexuais, mas
se ri com as ofensas aos cristãos, que se indigna com o ataque sem qualquer
vítima no Brasil, mas que olha para o lado quando milhares de cristãos são
mortos pelo mundo fora.
Espero
que de futuro aqueles que se dizem cristãos saibam responder a este género de
demonstrações de desprezo e ódio dando testemunho da caridade cristã. Mas
também fico à espera que todos os indignados profissionais, que hoje tanto
defendem a Porta dos Fundos, demonstrem a mesma indignação da próxima vez que
um cristão for morto pela sua fé. E sobretudo, espero que os humoristas brasileiros,
que aproveitaram este episódio para se vitimizar, abandonem o discurso de ódio
e ataque a quem só quer viver a sua fé sem ser insultado.
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