O resultado das legislativas foi desastroso para o CDS. Infelizmente,
foi um desastre anunciado, aconteceu apesar de todos os avisos de que o caminho
que estava a ser percorrido não tinha bom fim.
No congresso de Lamego, a palavra de ordem foi o famoso
pragmatismo. Desde então o CDS furtou-se a qualquer debate público de ideias e
agarrou-se à fórmula de que era preciso apenas discutir “os problemas concretos
das pessoas”. Apesar dos sinais das europeias, apesar do panorama europeu e
mundial, onde era claro que, de facto, as pessoas queriam ideias e ideais, a
direcção do partido decidiu manter a sua estratégia. A procura de um novo
eleitorado que permitisse conquistar o centro-direita ditou que o partido
guardasse as suas bandeiras (e defendeu tantas, corajosamente, no parlamento) e
se limitasse a falar dos temas do dia-a-dia. O resultado da estratégia está à
vista: não se ganhou nenhum novo eleitorado e o antigo está a esvair-se.
É evidente que Assunção Cristas tem responsabilidade nesta
estratégia. E a ainda presidente do CDS assumiu-as com dignidade na noite eleitoral. Mas não deixa de
ser verdade que há outra cara desta linha, o primeiro a proclamar a necessidade
do pragmatismo, autor do programa eleitoral e claramente um dos grandes
estrategas da direcção: Adolfo Mesquita Nunes. A derrota de ontem é do CDS, é
de Assunção Cristas, mas é também do seu principal ideólogo.
É impossível não reconhecer a capacidade política de
Adolfo Mesquita Nunes. Um bom orador, um bom tribuno, responsável durante a
crise por uma das pastas que mais alavancou a economia portuguesa. Mas nada
disto pode afastar a evidência de que a sua estratégia conduziu o partido à
pior votação de sempre.
Não basta por isso simplesmente mudar o líder do partido:
é preciso claramente mudar o rumo. Nada seria pior do que trocar Assunção
Cristas por um líder que vá simplesmente continuar a estratégia de, em nome do
pragmatismo, diluir aquela que é matriz do partido: a democracia cristã.
É por isso preciso um novo rumo. Evidentemente, o tempo
não volta para trás nem se repete. O trabalho que espera o CDS não é o de repetir
fórmulas passadas. O que é preciso é retomar o ímpeto fundador do partido e
trazê-lo para os nossos dias.
É preciso voltar a afirmar hoje com clareza o primado da
dignidade da Vida Humana, em todas as circunstâncias, desde a concepção até à
morte natural. E como consequência dessa dignidade o respeito pelas liberdades individuais:
a liberdade de educação, a liberdade religiosa e política, a liberdade
económica.
Mas também no respeito pela dignidade humana é preciso
defender um Estado Social cooperativo, não centralista. Um Estado que serve as
pessoas e que é garante do respeito pela sua dignidade. O CDS, como partido
democrata-cristão, tem que ser o partido dos trabalhadores, dos pequenos e
médios empresários, dos agricultores, das famílias. O partido que defende os
mais fracos e indefesos. Não somos nem podemos ser um partido liberal, que
coloca a liberdade acima da dignidade Humana.
Por fim, um Estado que se concebe como instrumento de uma
sociedade, é um Estado que respeita a história, as tradições e a cultura da
sociedade. Não se trata de um saudosismo bafiento, mas de um respeito por
aquilo que nos une enquanto portugueses. Em nome de uma qualquer ideologia de
vanguarda não podemos rasgar 900 anos de história.
Muitos dirão que isto é conversa que não interessa a
ninguém, que as pessoas só querem saber de coisas concretas. Mas a verdade é
que temos assistido cada vez mais à ascensão dos partidos que se apresentam com
ideais (do PAN à IL) e que o pragmatismo deu 4% nas urnas.
O futuro não parece risonho para aqueles que acreditam
numa política baseada na dignidade da Pessoa Humana. Num Estado ao serviço das
pessoas e não da ideologia. Para as pessoas que desejam políticos ao serviço do
ideal e não do resultado eleitoral. Mas a hora não é de cobardias nem de
tibiezas. Nos próximos anos não se jogará apenas a sobrevivência do CDS, mas do
regime democrático que está cada vez mais enlameado, cada vez mais afastado das
pessoas, cada vez mais fragilizado.
O CDS, tal como há 40 anos, quando cercado no Palácio de
Cristal e ameaçado pelos que não suportavam um partido de homens livres, tem
que voltar a ser o partido do humanismo cristão, que se ergue contra a tirania
do marxismo e o pântano do centrão. Haja coragem.
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