quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Acabar com a "cultura do abuso": educar no amor.





Vivemos num tempo em que a sexualidade se tornou vulgar. Aquilo que era da intimidade dos casais passou a ser público. Em qualquer rua é possível encontrar anúncios com mulheres seminuas; a qualquer hora na televisão vemos cenas (mais ou menos explícitas) de sexo; livros de perversões sexuais ganharam um ar respeitável e são best sellers nas livrarias; as crianças, adolescentes e jovens, são constantemente convidados a explorar a sua sexualidade; os jornais fazem notícias com qualquer mulher que esteja disposta a publicar uma fotografia “sensual” em troca de uns likes.

Aquilo que devia ser íntimo e privado passou a ser tratado como coisa pública. O corpo passou a objecto de negócio. A virgindade e a pureza são hoje objecto de curiosidade mas sobretudo de gozo.

Ora, é evidente que esta vulgarização do sexo, esta objectivação do corpo, esta redução da sexualidade a uma mera necessidade animal tem consequências. Muito se tem discutido sobre a “cultura do abuso”. Mas aparentemente ninguém parece querer reparar na evidente relação entre a hiper-sexulização da sociedade e a tal cultura.

É evidente que num mundo onde é normal e natural exibir o corpo e glorificar a partilha da sexualidade (e não, não estou a exagerar, pensem que a fama de Kim Kardashian se deve a uma sex tape) seja cada vez mais banal impor-se sexualmente ao outro.

Se o corpo deixou de ser visto como um templo, se a sexualidade deixou de ser um assunto íntimo, se a relação entre duas pessoas perdeu todo o seu carácter sagrado, também é evidente que as ofensas contra a sexualidade perderam a sua relevância.

Não é possível ao mesmo tempo educar para o respeito pela intimidade, quando esta é vendida nas capas de revistas e nos sites. Não é possível dizer ao mesmo tempo que é normal e saudável ver pornografia e que é preciso respeitar a intimidade dos outros. Ora, se afirmámos que não há problema em vender a intimidade, que é absolutamente respeitável usar o corpo de outro como objecto, não podemos ficar espantados que haja quem de facto o faça.

Na raiz da “cultura do abuso” está a mentalidade de que o outro é um objecto para usarmos ao nosso prazer. Ora é essa a mesma mentalidade imposta pela “revolução sexual” que hoje vivemos.

Podemos tentar procurar soluções para os abusos sexuais nos beijinhos aos avós, ou nas mudanças de fralda não consentidas. Mas se o fizermos ao mesmo tempo que publicámos fotografias de mulheres seminuas e amarradas estamos a passar uma mensagem contraditória.

Se queremos de facto acabar com os abusos sexuais é urgente voltar a educar para a intimidade (aquela que não se vende), para o respeito pelo corpo (que não é um objecto, nem o meu nem o dos outros), mas sobretudo, é preciso de facto educar para uma sexualidade que é sinal de amor e não uma mera necessidade fisiológica. 

Se assim não for ainda acabamos numa sociedade onde é proibido dar um beijinho a uma criança, mas é legal ver fotografias suas nua.

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