Nunca
fui do género de me impressionar com as imagens consideradas impressionantes
dos jornais. Evidentemente que não tinha gozo em ver imagens de guerra ou
sofrimento, mas nunca senti a necessidade de desviar o olhar.
Depois
de ser pai devo confessar que me tornei bastante incapaz de ver imagens de
crianças a sofrer. Aliás, basta ler ou ouvir a história do sofrimento de uma
criança para ficar imediatamente perturbado. Como é natural em qualquer pai
suponho eu. De facto, há qualquer coisa no amor por um filho que nos leva a não
conseguir sequer suportar ver ou imaginar o sofrimento de uma criança como ele.
Hoje,
ao ler notícias, vi uma (mais uma) reportagem sobre a Venezuela. O cenário
descrito é aquele que já conhecemos: não há comida, não há remédios, não há nada
a não ser dinheiro que vale menos que papel higiénico (literalmente, não é uma
metáfora!). Infelizmente estas notícias já são habituais.
Contudo,
a peça vinha acompanhado de uma fotografia. Uma criança, só de fralda, magrinha,
a brincar com um pau. Não teria mais de dois anos. E de repente aquela imagem
atingiu-me. Como é possível que tudo continue parado enquanto há crianças a
morrer à fome na Venezuela? Como é que os jornais continuam a falar do assunto
como se fosse algo de banal ou corriqueiro? Até quando a comunidade
internacional vai continuar a deixar um país refém de um ditadorzeco, que se
deixar fotografar num restaurante de luxo na Turquia, de charuto na boca,
quando o seu povo não tem que comer?
Porque
sejamos honestos: claro que há países com mais pobreza do que a Venezuela, sem
dúvida. Países onde morrem milhares de crianças com fome e onde a esperança
média de vida é metade da do Ocidente. A diferença é que esses países são
realmente pobres. Para resolver o problema da Eritreia ou do Sudão são precisas
décadas e muitos milhões.
Mas
a Venezuela é um país rico e desenvolvido. A única razão de haver fome no país
é a crueldade ideológica. A fome na Venezuela mais do que uma causa, tem um
nome: Nicolás Maduro. O presidente que em nome da “revolução bolivariana” (mas
sobretudo, em nome de poder continuar a saquear um país) deixa a população a
morrer à fome.
E
a pergunta é: até quando? Até quando é que a comunidade internacional vai
deixar crianças, grávidas e idosos a morrer à fome? Até quando vai permitir a
prisão daqueles que se revoltam contra tal injustiça? Até quando vai permitir
que Maduro se passeie em grande estilo enquanto nos hospitais de Caracas se
morre pela ausência de tratamentos
básicos?
A
verdade é que Maduro ainda está no poder porque é de esquerda. E aparentemente
à esquerda é permitido matar e deixar morrer sem merecer vigílias, protestos e
moções na ONU.
E
assim vai morrendo aquele povo, sem qualquer clamor internacional. Esquecido e
entregue a um tirano que teve a sorte de fazer o discurso certo para conseguir
escapar incólume diante da comunidade internacional. Até quando?
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