terça-feira, 12 de junho de 2018

Lisboa: esta cidade não é para velhos!




Morar no centro de Lisboa tem coisas muito agradáveis. Por exemplo, não precisar de carro para levar os filhos à escola. No meu caso, a paragem de autocarro mais próxima é a uns poucos metros de casa. Todos os dias apanho lá o autocarro com os meus dois filhos. Claro que, mesmo sendo a distância curta, existem alguns obstáculos a ultrapassar. 

Por um lado do passeio sou obrigado a passar junto a um prédio devoluto, com um passadiço de madeira pouco seguro. Depois é só atravessar a rua numa passadeira quase apagada, com um pavimento esburacado, tentar passar pelas motas mal estacionadas, e cheguei à paragem. Claro que há a alternativa de passar logo a estrada para o lado de lá: outra passadeira semi apagada, mais buracos no pavimento, e uns quanto metros pela estrada devido ao estaleiro de obras ao lado da paragem que torna impossível o uso do passeio.

Evidentemente posso sempre apanhar o autocarro na paragem anterior, que é um pouco mais longe de casa, mas bastante fazível. Para isso tenho mais uma vez que escolher qual o lado da estrada que vou. Uma decisão difícil já que em ambos os lados há estaleiros de obras. Um que não permite a passagem de peões, outro que tem um passadiço de metal, mas impossível para um carrinho de bebé e uma criança pequena pela mão.

Mas enfim, todos estes obstáculos são ultrapassáveis com um pouco de boa vontade. Para além disso, o centro da cidade tem vantagens. Por exemplo, a paragem de autocarro para o meu trabalho (nos raros dias em que não levo os miúdos à escola) também não é longe. Claro que tenho fintar dois estaleiros de obras e encolher-me no passeio para passar pela habitual betoneira que ocupa toda uma rua, deixando espaço para uma pessoa passar e pouco mais.

Obviamente que todos estes incómodos são pequenos se pensar que tenho a poucos metro de casa um centro de saúde. É óptimo para quando os miúdos estão doentes. Atravesso a rua e vou passeio fora. É só dobrar uma esquina e lá está o Centro de Saúde. Era bastante simples, não fora os dois prédios em obras deste passeio. Assim tenho que ir pelo outro lado da estrada, atravessar duas ruas, com as passadeiras ocupadas por carros ao serviço das obras sob o olhar complacente da polícia que está lá ao serviço de obra e não do público, atravessar a passadeira provisória para o lado do centro de saúde, passar por todos os carros parado em cima do passei, e pronto estou no centro de saúde.

É chato, mas viver no centro da cidade tem coisas boas. Por exemplo, o parque infantil ao pé de casa. Aí não tenho que passar por obras. É só descer a rua (pelo lado que não tem obras), atravessar e lá está o parque! É pena estar encostado a um prédio em obras e por isso estar constantemente sujo e cheio de beatas.

Uma das coisas boas de viver onde eu vivo é que, com estas obras todas, está a ficar mais bonito. De facto, há muitas casas novas e arranjadas. Melhor ainda é que só há estas obras. A Câmara não faz obra nenhuma e por isso temos prédios novos e ruas esburacadas. Condomínios de luxo e passeios desfeitos. Lugares de estacionamento ocupados pelas obras e transportes públicos que passam de meia em meia hora.

Viver no centro de Lisboa é bom. O problema é mesmo a Câmara Municipal, que gere a cidade não em função de quem lá mora, não em função das famílias de Lisboa, dos idosos, dos mais pobres, mas em função do turismo e da construção civil. Enquanto a prioridade for licenciar mais uma obra, criar mais um hotel ou condomínio de luxo e não o acesso dos moradores aos serviços básicos, viver no centro de Lisboa será bom, mas não é para velhos! Nem para crianças! Nem para famílias. É para quem pode!

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